Um silêncio ensurdecedor se apodera da casa, nada de risadas altas, nem musiquinhas para crianças, piadas ou planos para o dia. Tudo parado. Minha família sai pela porta e esse marasmo toma conta da nossa casa, vai entrando e se empreguinando em tudo, lentamente, esgueirando-se pelos cômodos, deixando o ar pesado, tudo lento... Sinto-me lenta e sem energia, sem vontade. Vazia. O coração batendo num misto de saudades e vontade de chorar.
Foi bem fácil acostumarmos com a bagunça e a alegria da casa cheia com a presença dos meus pais e meus tios, nos acomodamos bem rápido, deu-se um jeito e todos estávamos com o próprio cantinho. Mas esse vazio imenso, que ficou, está difícil de enfiar em qualquer canto da casa, ele é muito grande para esconder. Meu sorriso tenta encobrí-lo, mas está ali a pontinha do desgosto e não da pra fingir. O" boa tarde" para o vizinho sai com um tom mal educado, porém juro que me esforcei .
Com o tempo o vazio diminui, sempre diminui, dá lugar às coisas do dia-a-dia, à nossa correria, falta de tempo, passeios e atividades com as crianças, vai ficando de lado até que não cutuca mais tanto as saudades. O vazio não tem lugar no rítmo da vida, ele só se aproveita desses momentos em qua saímos do rítmo para se alastrar por uns dias, como uma nuvem negra tirando nossa energia e visão. Falta visão para ver que as coisas estão como antes, que depois desse período muito bom de vida quase que completa com família ao lado, tudo volta ao normal da nossa pequena família, nossa vida, que não costuma ser ruim ou chata, apenas diferente do que foi nesse último mês. Diferente de uma coisa boa também pode ser bom.
Agora estou bem naquela lacuna entre o que eu tinha há uns dias atrás e o que eu costumo ter na maioria dos dias da minha vida e esse buraco no meio do caminho é sempre mais difícil atravessar. Sempre que volto de uma viagem ao Brasil, ou sempre que alguém que veio me visitar de lá vai embora, vêm uns dias mais difíceis, vem um arrependimento de tudo o que eu não disse, ou do que não fiz... Sempre penso que deveria ter abraçado mais, eu perdi o costume de abraçar com frequência e simplesmente esqueço de reacostumar, no entanto seria tão fácil...
Todo esse sentimento negativo já era esperado, não veio de surpresa. Tenho que fazer o que faço sempre para sair desse buraco, escalar com unhas e dentes, pensar nas coisas boas e esquecer a distância, esquecer a data do próximo encontro, ainda distante e incerta. Tenho que não pensar no tempo separado, lembrar do que fizemos juntos e de como foi bom. Afinal é isso que se espera de uns dias de visita, muita diversão, nenhuma briga, momentos de tranquilidade e momentos de festa.
Ajuda estarmos no verão, com seus dias longos e agitados, onde não dá tempo de parar e se lamentar, os lamentos nos levam mais fundo no buraco, a intenção é sair dele, olhar para cima, procurar o próximo ponto de apoio para sua mão... Um escalador não olha para baixo, isso pode o derrubar. Lá em cima está o céu azul, aquele sol brilhando e uma brisa gostosa para acariciar meu rosto, para me tranquilizar e sussurrar ao meu ouvido que "Sim, você tem muita sorte!"... Sim, eu tenho muita sorte, tenho o marido e os filhos dos meus sonhos, uma vida maravilhosa com eles e uma família que só me proporciona momentos lindos. Mesmo passando a maior parte do tempo longe, os momentos juntos são intensos e felizes.
As pessoas são tão ambiciosas... Por mais que se tenha, sempre há algo a mais para querer da vida. Recuso-me a ser alguém triste com tudo o que ganhei, ser tão ingrata. Por natureza vem a tendência de ser mal-humorada com essa distância e esse tempo que passa rápido quando não deveria, deixar a tristeza se alastrar, mas, por teimosia, tenho meu otimismo como arma. Reservo-me o direito de alguns dias para sentir falta da abundância de felicidade, mas passado esse tempo a escalada deve ser feita até o topo do meu dia ensolarado, passando pelas nuvens negras que envolvem a casa, onde devo exibir meu sorriso sempre, por tudo o que tive, por tudo o que tenho e pelos planos que tenho coragem de fazer.
Sendo simpática ao ver a vida, ela também me responde com um sorriso.
COMENTÁRIOS AQUI!:
- Ai que lindo Cá... chorei para variar... achei que era a única a sentir esse vazio, de quando você se vai, ou eu me vou daí!
Vamos sempre tentando a melhor forma de sair de tudo isso....
Saudades lindona... e logo estaremos por aí!
Para uma nova bagunça... - É querida, estou animadinha já, contando os dias para a chegada de vcs!!! é ruim a despedida, mas é muito bom saber que existe algo tão valioso a ponto de se chorar ao despedir...
Beijos querida! - OI MINHA QUERIDA!!!
FORAM TÃO LINDOS OS DIAS QUE PASSAMOS COM VCS...
VC SEMPRE TÃO SIMPATICA E HOSPITALEIRA , COM SEU SORRISO LINDO E ACOLHEDOR...
O ZSOMBOR FOI MARAVILHOSO COM A GENTE EM BUDAPESTE, NOS MOSTRANDO TUDO , TUDO LINDO!!!
E AS CRIANÇAS...AHHH ,AS CRIANÇAS...FIZERAM NOSSOS DIAS MAIS COLORIDOS E CHEIOS DE VIDA.A INTELIGÊNCIA E PERSPICÁCIA DO ZOMBI E A ALEGRIA E MEIGUICE DO HUNOR...SAUDADES
NÃO TE AGRADECI O BASTANTE, OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA...
VCS FORAM MARAVILHOSOS
MEIRE - Oi Meire!!!
Foi maravilhoso ter vocês por aqui, a casa ficou super animada e as crianças felizes da vida!
Espero que venham mais vezes para nos alegrar!
Nós é que agradecemos.
Beijos! - Carol, quem não é da família pode comentar? rs rs
A minúcia dos sentimentos, é isso que vc nos expõe aqui. Provavelmente passamos por situações equivalentes, mas não paramos pra vasculhar a minúcia dos sentimentos. É bonito isso, é refletir e concentrar. Acho que até vale como exercício de autoconhecimento. É como tratar com delicadeza o cair de um véu no meio daquela confusão de detalhes do resto do vestido. É coisa de quem escreve com paixão.
Não pense que esqueci do post dos Alpes! Vou ficar esperando (a culpa é sua, quem mandou adiantar a novidade?!). E com fotos, hein?!
Um abraço,
Michelle - oi Michelle!
Quem não é da família DEVE comentar! ahahahha
Acho que é mesmo uma forma de autoconhecimento, mesmo porque sempre foi isso que fiz quando não entendo algo, ou quando estou tristge, escrevo, escrevo até sair algo de mim mesma que nem eu sabia. É um ótimo exercício para esclarecer os próprios sentimentos.
O dos alpes sai na sexta... ahahhaha Aguenta a curiosidade até lá.
Beijinhos! - Que lindo Carol. Amei seu post e daqui a pouco me vejo na mesma situação que você.
Primeiro foram 40 dias com minha mãe. Agora, os padrinhos do Felipe estão por aqui. Quero só ver daqui a pouco. Mas o que me consola é que a vida é assim... que precisamos curtir e aproveitar cada instante ao lado da nossa família. E é isso mesmo... Vamos abraçar!
Vamos levar essa frase sua para sempre:
"Sendo simpática ao ver a vida, ela também me responde com um sorriso".
Beijos - Oi Amor!
Que orgulho ler seus textos cada vez mais complexos e mais "afiado!
Tem que ter coragem para parar, olhar e examinar a propria vida ... e voce faz isso semana por semana. Engracado ver quanta novidade podemos ter dentro de nos mesmo.
Adoro ler cada texto seu!
Continue... sempre!
Zsombor - É Celi, a vida é assim, temos escolhas e não da para se ter tudo. Aproveite abraçar bastante e se dê o direito de passar um dia tristinha quando forem embora, acho que é saudável, faz parte tb, mas depois pule pra fora do buraco e só lembre das coisas boas que ficaram. Acho que é assim que construímos uma vida feliz...
Beijinhos! - Oi Amor!
É verdade, vc está me conhecendo melhor e eu tb... Quanto mais eu escrevo, mais eu descubro de mim mesmo e sai muita coisa do meu lado bom, gosto disso, acho que acabo escrevendo e afirmando as coisas que mais gosoto em mim e assim quem sabe serei uma pessoa melhor... :)
Obrigada sempre por me incentivar!
Te amo! - Ai carol.. q lindo o texto!!
Imagino como vc se sentiu!!
Deve ser dificil morar longe e ver sua família de tempos em tempos..
Bjo linda!!
@Fal_Ventura
http://asweetpimenta.blogspot.com - Obrigada Fal! Que bom que vc gostou!
Não é fácil, mas é a escolha que fiz e tentamos levar da melhor maneira. Creio que somos todos felizes mesmo assim... :)
Beijinhos! - Oi Carol
Você me emocionou, fui capaz de sentir contigo a dor do adeus temporário, a saudade da família, a falta da companhia de quem se ama...
Concordo com você, sempre queremos mais, mas no seu caso é diferente, você quer todos que ama ao seu lado, para compartilhar as descobertas e alegrias do dia-a-dia. Pena que não é possível estarem todos fisicamente ao seu redor, mas não tenho dúvidas que vocês estão unidos por algo muito maior, o AMOR, algo tão difícil de se encontrar ultimamente, em que as famílias se separam despreocupadamente.
Parabéns por sua família Carol, que Deus os abençoe sempre com essa união e carinho.
Beijokas - Obrigada Pah, pelo seu comentário lindo!
Eu penso assim, já tive a sorte de ter uma família assim e de achar a pessoa que ama, não ia ser o absurdo da felicidade ter tudo isso junto? Talvez seja isso, o equilíbrio entre o que ganhamos da vida e o que a gente dá. Sou grata por tudo o que tenho e não troco nada pra poder estar mais perto. Sei que a distância é só física e que graças a internet e, mais uma vez, minha sorte por viver nesses tempos, posso ter contato com todos os que amo.
Que Deus abençoe a internet!!! :)
Beijinhos!