Não suporto rotinas e tenho sérios problemas
com a mesmice.
Não é fácil manter uma vida de mãe-esposa-dona
de casa-escritora-blogueira sem uma rotina para desenvolver todos meus papéis
de maneira eficiente, mas por mais que eu lute com o fato, a rotina não me cai
bem.
Organizo horários e juro pra mim mesma que vou
seguir a sério. Mas se dou bobeira, me passo a perna! Isso não é nada bonito!
Compromissos com os outros, eu sempre cumpro e
jamais atraso, porém, sou muito relapsa comigo mesma, me distraio por qualquer pôr-do-sol,
arco-íris ou brisa leve. Uma energia misteriosa me leva até a bicicleta e quando
vejo, fui transportada até o centro da cidade, para observar o zum zum do
começo de verão, a vida brotando nas pessoas e o ar carregado de energia.
Mas quem é que vai fazer o jantar desse jeito?
Transporto-me novamente, voltando ao itinerário,
que já fica atrasado e desfalcado... E lá se foi a rotina!
Perco a rotina, como quem vive perdendo as
coisas por aí: pura distração! Coisa de quem anda sonhando, com a cabeça no
mundo da lua, como dizem.
Não seria mais simples seguir o que planejei?
Mas veja bem os meus caminhos e perceberá como
fujo do simples: escolhi uma pessoa da Hungria para me apaixonar (da pra
complicar mais?); resolvi enfrentar o mundo ao dizer que seria dona de casa
(rebeldia); e agora decidi fazer carreira como escritora (de longe o caminho
mais difícil que escolhi).
Pra que facilitar se dá pra complicar, não é?
Pra que ter uma vida tranquila, com horários arrumadinhos, conseguindo manter
tudo perfeito, se posso bagunçar, virar de ponta-cabeça, me perder no meio e
ter que refazer tudo, depois de três voltas?
Nunca fui uma pessoa muito simples de se
entender... Acho que é porque quando começo a ficar decifrável, viro tudo outra
vez e pode recomeçar o quebra-cabeça! Se acha que sou óbvia, segue meu caminho
e procura quando foi que eu escolhi a entrada mais simples. A que eu sigo é
aquela no fim do arco-íris, que é brilhante, está bem longe e muita gente jura
que não existe.
Não sou feita pra rotinas, nasci para ser borboleta
e curtir as transformações mais absurdas que a vida pode oferecer. Nascer
brasileira e virar húngara, começar numa língua e terminar em outra... Minha
vida não é uma linha reta, faz desenho de flores e espirais, para enfeitar o
dia a dia. A mesmice não me cativa, sou como as cores do arco-íris, que sempre
aparecem em lugares diferentes.
Não tenho medo de mudar, meu único receio
sempre foi permanecer constante.