Perfeita Imperfeição

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

 
"Sempre que escrevo sobre relacionamento, retrato o meu em momentos especiais, momentos que no futuro eu gostarei de ler e relembrar, momentos que eu considero importantes e acredito que retratem melhor a essência do que vivo. Isso pode dar a impressão de que jamais brigamos, que não existem dificuldades ou aqueles dias chatos, em que um dos dois está mal-humorado, ou quando os dois acordam com o pé esquerdo…"


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Declaração


"Num final de semana, como outro qualquer, num almoço, como tantos outros que temos, eu, meu marido e meus dois filhos, de 5 e 7 anos, conversávamos sobre namoro.

Meu filho mais novo diz ter umas 10 namoradas na escolinha. Todas elas fazem desenhos pra eles, ele leva flores para elas… aquele namorinho ingênuo e puro de criança. Rimos muito com o jeitinho de conquistador deles. O mais velho está entrando na fase em que se afastam um pouco das meninas, mas ainda mantém uma ou duas que admira e que devemos pensar muito no presente pra levar à festa de aniversário (a última ganhou um diário e um vasinho de flores)."

Eles começaram a falar sobre a idade que queriam se casar e o tipo de esposa, ríamos com os comentários e incentivávamos as boas visões sobre o assunto, corrigíamos as ideias não tão boas – como a de se casar com 10, porque gosta de tantas hoje - quando meu marido deu-lhes um conselho:

- Prestem atenção – disse ele – o mais importante a se procurar na pessoa que você escolhe pra viver a seu lado é que ela seja sua melhor amiga... além de ser apaixonado por ela, claro. – sorriu pra mim - Eu desejo que vocês encontrem alguém, assim como sua mãe é para mim. Se vocês encontram a pessoa certa, como eu, não deixem nada ficar no caminho, ultrapassem o obstáculo que for, porque se você está do lado dela, nada pode dar errado na vida.

Ao ouvir suas palavras sinceras e ver os olhinhos das crianças numa atenção incomum e extremamente concentrada, interessada, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e um sorriso emotivo trouxe outras em questão de segundos, no silêncio repleto de significados que se fez.

Nada pode dar errado na vida, ele tem razão.

Naquela mesa estava tudo o que me importa e, mais uma vez, fui grata a todas as lutas do meu passado, todas as vezes que cometi “loucuras” para ultrapassar barreiras e concretizar esse amor maluco nosso, grata por todas as escolhas acertadas que me trouxeram aqui. Meu coração cresceu até que eu pudesse senti-lo fora do peito, pulsando naqueles três homens da minha vida.

E ali estavam todos os significados da palavra amor, em olhares felizes e minhas lágrimas. Um “obrigada” que nem precisou ser dito, pois que ele expressava o mesmo em sorrisos.

Bendita seja essa minha loucura, toda teimosia e a sorte de ter topado com alguém tão obcecado pelo romantismo quanto eu!


Sem jogos

 

Nunca fui muito boa com joguinhos amorosos, fazer tipo... Minha sinceridade boba, inocente - ou mesmo cortante - sempre me deixou em desvantagem. Fui magoada... já magoei com isso... A verdade pode ser cruel, mas, ao mesmo tempo, é o caminho mais curto para se chegar exatamente onde quer.

Como confidente oficial das amigas – não sei por quê, mas acabo sempre sendo o “diário”, até mesmo de quem me conhece faz pouco tempo (ressaltando que eu adoro fazer isso) – frequentemente dou o mesmo conselho: seja sincera, abra o jogo e deixe as coisas claras. O que você realmente quer? Pergunte o que ele quer!

Deveria ser óbvio, mas esse conselho constantemente causa surpresa.

Desde o primeiro momento, soube que havia encontrado minha metade e a sinceridade dele apenas confirmou esse fato:

- Carol, vamos combinar uma coisa? – disse ele, ainda num dos primeiros encontros nossos.

- O que? – respondi com certa apreensão.

- Vamos manter as coisas assim, transparente, sem jogos?

Enquanto eu procurava assimilar o que isso podia significar, ele explicou:

- Não quero fingir que não quero te ligar, esperar a hora certa, o dia certo para isso. Não quero ter que pensar pra falar ou fazer de conta. Não quero esconder o que eu sinto! Quero poder te ligar todo dia se tiver vontade e dizer o que vem à minha cabeça.

Sorri aliviada, sabendo que tínhamos mais um ponto em comum. Percebi que estava diante do verdadeiro “ele”, não uma versão ilusória de primeiro encontro, e passei a amar até mesmo as coisas em que discordava, porque era ELE, de alma aberta para mim.

- Sem jogos – respondi. – Você não tem noção do quanto eu adoro essa ideia!

Sua sinceridade chegou a superar a minha, pois ele não pensava duas vezes para dizer o quanto eu estava linda, deixando-me encabulada com seu ar de admiração ou quando não gostou do meu corte de cabelo - até dei risada com seu desprendimento para dizer a verdade: “gostava mais do jeito que estava antes”. Em pouco tempo, tudo o que ele dizia tinha um significado genuíno. Eu sabia que não era somente para agradar que ele dizia que gostava do formato do meu nariz, que eu nunca gostei. Também sabia que ele não ia fazer tipo, dizendo que teria muitos compromissos e só poderíamos nos ver depois de um tempo... Fomos logo nos encontrando todos os dias e lamentando cada despedida. Não fingimos a ansiedade, nem os medos.

E foi sempre assim, transparente, limpo, sem adivinhações ou indiretas.

Muitos nos perguntam como mantemos, depois de 14 anos, esse aspecto de recém casados, de namorados que acabaram de se conhecer. Eu daria grande crédito à nossa constante sinceridade e mania de conversar todos os detalhes, até mesmo - ou principalmente - às briguinhas de horas, que sempre nos leva ao entendimento alheio.

Por que viver de indiretas? Esperar que o outro adivinhe seus sonhos e os realize? Por que não indicar um atalho, dizendo exatamente o que espera, para que se possa trabalhar em conjunto nisso? O relacionamento é um trabalho de equipe, é preciso conhecer muito bem a outra metade, saber seus próximos passos, para que se mantenha o ritmo, como numa dança ou um malabarismo - quando largamos a corda e temos certeza de que o outro está com a mão estendida para segurar.

O verdadeiro “eu”, sempre acaba se revelando, então, ou dá certo, ou não, de uma vez.

Sem jogos. Simples assim.

Evitando surpresas desagradáveis, que em anos serão descobertas, levando ao termino e um imenso tempo perdido. Montando bases fortes nas verdades, até mesmo nos defeitos – que fazem parte de qualquer pessoa – dando a chance para uma adaptação à eles... Afinal, se é pra valer, você ama até aquela mania chata que ele tem, ele ama até mesmo seus acessos de loucura e o “feliz para sempre” torna-se a realidade de quem conhece sua outra metade como se fosse a própria.

Sem jogos. Duas almas, a limpo.


Neste exato momento


"As pessoas estão acostumadas a se concentrar nas próprias histórias. O que estou passando agora, é o que define meu humor, minha força de vontade, minha maneira de interagir com outros… Quando estamos mal, o mundo todo parece cruel e nos tornamos mais introspectivos.
 
Pois nesse momento é que deveríamos olhar para outras histórias…"


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Peças do futuro

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

 
Ele entra lentamente, veste um casaco de couro preto, já surrado pelo tempo, um chapeuzinho cinza, típico da idade, se vê muito desses chapéus por aqui, aqueles que parecem uma boina. Seu andar é lento, trêmulo. Rosto marcado, branquinho. Dirige-se ao caixa e faz seus pedidos. Pede pão e algumas guloseimas, parece satisfeito...
Eu mexo meu cappuccino e tento escrever algo no caderno aberto, mas sinto-me mais atraída pela cena na cafeteria.