Nunca fui muito boa
com joguinhos amorosos, fazer tipo... Minha sinceridade boba, inocente - ou
mesmo cortante - sempre me deixou em desvantagem. Fui magoada... já magoei com
isso... A verdade pode ser cruel, mas, ao mesmo tempo, é o caminho mais curto
para se chegar exatamente onde quer.
Como confidente
oficial das amigas – não sei por quê, mas acabo sempre sendo o “diário”, até
mesmo de quem me conhece faz pouco tempo (ressaltando que eu adoro fazer isso)
– frequentemente dou o mesmo conselho: seja sincera, abra o jogo e deixe as
coisas claras. O que você realmente quer? Pergunte o que ele quer!
Deveria ser óbvio, mas
esse conselho constantemente causa surpresa.
Desde o primeiro
momento, soube que havia encontrado minha metade e a sinceridade dele apenas
confirmou esse fato:
- Carol, vamos
combinar uma coisa? – disse ele, ainda num dos primeiros encontros nossos.
- O que? – respondi
com certa apreensão.
- Vamos manter as
coisas assim, transparente, sem jogos?
Enquanto eu procurava
assimilar o que isso podia significar, ele explicou:
- Não quero fingir que
não quero te ligar, esperar a hora certa, o dia certo para isso. Não quero ter
que pensar pra falar ou fazer de conta. Não quero esconder o que eu sinto!
Quero poder te ligar todo dia se tiver vontade e dizer o que vem à minha
cabeça.
Sorri aliviada,
sabendo que tínhamos mais um ponto em comum. Percebi que estava diante do
verdadeiro “ele”, não uma versão ilusória de primeiro encontro, e passei a amar
até mesmo as coisas em que discordava, porque era ELE, de alma aberta para mim.
- Sem jogos –
respondi. – Você não tem noção do quanto eu adoro essa ideia!
Sua sinceridade chegou
a superar a minha, pois ele não pensava duas vezes para dizer o quanto eu
estava linda, deixando-me encabulada com seu ar de admiração ou quando não
gostou do meu corte de cabelo - até dei risada com seu desprendimento para
dizer a verdade: “gostava mais do jeito que estava antes”. Em pouco tempo, tudo
o que ele dizia tinha um significado genuíno. Eu sabia que não era somente para
agradar que ele dizia que gostava do formato do meu nariz, que eu nunca gostei.
Também sabia que ele não ia fazer tipo, dizendo que teria muitos compromissos e
só poderíamos nos ver depois de um tempo... Fomos logo nos encontrando todos os
dias e lamentando cada despedida. Não fingimos a ansiedade, nem os medos.
E foi sempre assim,
transparente, limpo, sem adivinhações ou indiretas.
Muitos nos perguntam
como mantemos, depois de 14 anos, esse aspecto de recém casados, de namorados
que acabaram de se conhecer. Eu daria grande crédito à nossa constante
sinceridade e mania de conversar todos os detalhes, até mesmo - ou
principalmente - às briguinhas de horas, que sempre nos leva ao entendimento
alheio.
Por que viver de
indiretas? Esperar que o outro adivinhe seus sonhos e os realize? Por que não
indicar um atalho, dizendo exatamente o que espera, para que se possa trabalhar
em conjunto nisso? O relacionamento é um trabalho de equipe, é preciso conhecer
muito bem a outra metade, saber seus próximos passos, para que se mantenha o
ritmo, como numa dança ou um malabarismo - quando largamos a corda e temos
certeza de que o outro está com a mão estendida para segurar.
O verdadeiro “eu”,
sempre acaba se revelando, então, ou dá certo, ou não, de uma vez.
Sem jogos. Simples
assim.
Evitando surpresas
desagradáveis, que em anos serão descobertas, levando ao termino e um imenso
tempo perdido. Montando bases fortes nas verdades, até mesmo nos defeitos – que
fazem parte de qualquer pessoa – dando a chance para uma adaptação à eles... Afinal,
se é pra valer, você ama até aquela mania chata que ele tem, ele ama até mesmo
seus acessos de loucura e o “feliz para sempre” torna-se a realidade de quem
conhece sua outra metade como se fosse a própria.
Sem jogos. Duas almas,
a limpo.