Então aconteceu a
Hungria na minha vida. Conheci minha metade e ela vinha lá do outro lado do
Atlântico...
Como sempre fui
positiva, viajei com a cabeça aberta e pronta para enxergar o melhor do país de
destino, o que me ajudou muito na adaptação. Sem essa atitude é impossível ser
feliz em terras distantes, por mais lindas que sejam.
A primeira coisa que
aprendi é que viajar para a Europa não é impossível, não é mais uma viagem sem
volta, como na época em que meu bisavô fez o trajeto contrário, indo da Espanha
para o Brasil, e, por mais que seja um bom dinheiro, é uma quantia alcançável
para quem quer muito (meu caso, então).
Aprendi muita coisa,
mudei muito, creio que para melhor. Passei a ser mais autoconfiante,
independente, tolerante...
Vim com uma imagem de
Brasil, que ficava para trás, me esperando. A primeira surpresa foi a de
descobrir que quem sai do Brasil, passa a amar ainda mais seu país. Um amor
puro à pátria, desses que te faz chorar ao ouvir o hino nacional, prestando
atenção a cada palavra dele e no sentido da bandeira mais linda do mundo. Eu
estufava o peito para comentar qualquer coisa que fosse ligada ao meu país, e
suas qualidades nunca foram tão claras, já que a saudade fazia questão de
grifa-las.
Ao chegar em outras
terras, a primeira coisa que lhe salta aos olhos são as coisas que faltam por
ali, o que o teu país te oferecia e você achava tão natural, mas que o novo
país não tem. Por melhor que seja o seu destino, sempre haverá algo em que o
seu país é melhor.
Tentando tirar o
melhor da Hungria, com olhares curiosos e positivos, eu aprendi a ser
tolerante. Aprendi que outros costumes, outros povos, não tem que ser melhores
ou piores, que não devemos comparar, apenas aceitar. Creio que viajar para
longe te faça menos preconceituoso, é um excelente exercício de diplomacia.
E ao voltar para o
Brasil? Bom, aí veio a mais inesperadas das lições: eu vi minha casa de maneira
diferente, nunca mais foi a mesma de quando a deixei. O que acontece é que
percebi coisas que achava natural, mas que na verdade podem ser melhores.
Percebi onde meu país podia melhorar.
Em resumo, juntei o
melhor do Brasil, com o patriotismo exacerbado, adquirido da saudade, com novos
costumes, menos preconceito e o melhor do país onde estive, obtendo uma nova
visão de como o Brasil ainda pode ser melhor.
Ultimamente, tenho
ajudado muitos estudantes brasileiros, que tem vindo para a Hungria para fazer
um intercâmbio universitário. Eles me perguntam sobre todos os assuntos
possíveis e eu procuro orienta-los, esclarecer como funcionam as coisas aqui e
prepara-los para o que vão ou estão enfrentando. Muitos deles já me perguntaram
por que eu faço isso. Por que passo horas respondendo e-mails e mensagens no
facebook? Por que me importaria com a estadia deles?
A verdade é que adoro
me sentir útil, ajudar de alguma forma e também porque acredito que essas
centenas de jovens que estão vindo para cá, voltarão com uma visão mais clara
sobre como ajudar o Brasil a ser um país melhor. Esses jovens poderão fazer a
diferença, não aceitando certas coisas porque acham que é natural e que em todo
lugar é assim. Estão vendo, por exemplo, que a violência não é natural, que a
educação pode ser melhor e que saúde pública pode funcionar. Eu acredito nesses
jovens e faço votos de que muitos outros saiam por aí, aprendendo,
acrescentando, para juntar os pontos positivos, com amor à pátria e esperança
no futuro.
Vejo muitos jovens
preocupados com as matérias que poderão cursar na faculdade, alguns
decepcionados porque não ficarão em Budapeste ou na faculdade que mais queriam,
mas o grande aprendizado não se encontra na universidade, que certamente será
útil no currículo, e sim, na viagem, na convivência e nas experiências que eles
terão aqui.
Eu, que não pensava
sair do Brasil um dia, fico por aqui, ajudando como posso, escrevendo para
encorajar quem vem, apoiando os estudantes, que aqui estão, para amenizar a
saudade absurda que sentimos longe de casa e facilitar nas muitas aceitações
que são precisas para entender outra cultura, tentando otimizar essa
experiência.
Posso morar em outro
país, mas serei sempre brasileira, em primeiro lugar. Mudar de país não desata
os laços, simplesmente te dá um nó, reafirmando de uma vez por todas o seu
patriotismo e o amor à família.
Gosto de pensar que,
de longe, sou um pedacinho de positividade que liga duas pátrias, que as
carrega para frente, mesmo que imperceptivelmente. Esse é meu papel como
brasileira. Em muitos, logo estaremos carregando com mais eficiência.
Jovens, venham, vejam,
mudem!
“...E O TEU
FUTURO ESPELHA ESSA GRANDEZA. TERRA ADORADA, ENTRE OUTRAS MIL, ÉS TU,BRASIL, Ó
PÁTRIA AMADA!”