O Brasil de longe

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

http://curtacronicas.com/2014/09/01/o-brasil-de-longe/
 
Sair de casa, do seu país, pode mudar sua visão de vida para sempre, pode mudar sua casa de formas que você jamais imaginou… Como dizem: “voltar para casa é impossível”.
 
Antes de conhecer o húngaro que virou minha vida de cabeça para baixo, eu pensava da seguinte forma: achava que outros lugares no mundo deveriam ser bonitos, mas tinha a ideia fixa de que sair do Brasil, ir para outro continente, era algo muito difícil, só para quem tem muito dinheiro e que o Brasil me oferecia tanta beleza, que eu não precisava ir até outro país jamais. Estava feliz em minha pátria e tinha planos de não tirar os pezinhos dela.
 

Então aconteceu a Hungria na minha vida. Conheci minha metade e ela vinha lá do outro lado do Atlântico...

Como sempre fui positiva, viajei com a cabeça aberta e pronta para enxergar o melhor do país de destino, o que me ajudou muito na adaptação. Sem essa atitude é impossível ser feliz em terras distantes, por mais lindas que sejam.

A primeira coisa que aprendi é que viajar para a Europa não é impossível, não é mais uma viagem sem volta, como na época em que meu bisavô fez o trajeto contrário, indo da Espanha para o Brasil, e, por mais que seja um bom dinheiro, é uma quantia alcançável para quem quer muito (meu caso, então).

Aprendi muita coisa, mudei muito, creio que para melhor. Passei a ser mais autoconfiante, independente, tolerante...

Vim com uma imagem de Brasil, que ficava para trás, me esperando. A primeira surpresa foi a de descobrir que quem sai do Brasil, passa a amar ainda mais seu país. Um amor puro à pátria, desses que te faz chorar ao ouvir o hino nacional, prestando atenção a cada palavra dele e no sentido da bandeira mais linda do mundo. Eu estufava o peito para comentar qualquer coisa que fosse ligada ao meu país, e suas qualidades nunca foram tão claras, já que a saudade fazia questão de grifa-las.

Ao chegar em outras terras, a primeira coisa que lhe salta aos olhos são as coisas que faltam por ali, o que o teu país te oferecia e você achava tão natural, mas que o novo país não tem. Por melhor que seja o seu destino, sempre haverá algo em que o seu país é melhor.

Tentando tirar o melhor da Hungria, com olhares curiosos e positivos, eu aprendi a ser tolerante. Aprendi que outros costumes, outros povos, não tem que ser melhores ou piores, que não devemos comparar, apenas aceitar. Creio que viajar para longe te faça menos preconceituoso, é um excelente exercício de diplomacia.

E ao voltar para o Brasil? Bom, aí veio a mais inesperadas das lições: eu vi minha casa de maneira diferente, nunca mais foi a mesma de quando a deixei. O que acontece é que percebi coisas que achava natural, mas que na verdade podem ser melhores. Percebi onde meu país podia melhorar.

Em resumo, juntei o melhor do Brasil, com o patriotismo exacerbado, adquirido da saudade, com novos costumes, menos preconceito e o melhor do país onde estive, obtendo uma nova visão de como o Brasil ainda pode ser melhor.

Ultimamente, tenho ajudado muitos estudantes brasileiros, que tem vindo para a Hungria para fazer um intercâmbio universitário. Eles me perguntam sobre todos os assuntos possíveis e eu procuro orienta-los, esclarecer como funcionam as coisas aqui e prepara-los para o que vão ou estão enfrentando. Muitos deles já me perguntaram por que eu faço isso. Por que passo horas respondendo e-mails e mensagens no facebook? Por que me importaria com a estadia deles?

A verdade é que adoro me sentir útil, ajudar de alguma forma e também porque acredito que essas centenas de jovens que estão vindo para cá, voltarão com uma visão mais clara sobre como ajudar o Brasil a ser um país melhor. Esses jovens poderão fazer a diferença, não aceitando certas coisas porque acham que é natural e que em todo lugar é assim. Estão vendo, por exemplo, que a violência não é natural, que a educação pode ser melhor e que saúde pública pode funcionar. Eu acredito nesses jovens e faço votos de que muitos outros saiam por aí, aprendendo, acrescentando, para juntar os pontos positivos, com amor à pátria e esperança no futuro.

Vejo muitos jovens preocupados com as matérias que poderão cursar na faculdade, alguns decepcionados porque não ficarão em Budapeste ou na faculdade que mais queriam, mas o grande aprendizado não se encontra na universidade, que certamente será útil no currículo, e sim, na viagem, na convivência e nas experiências que eles terão aqui.

Eu, que não pensava sair do Brasil um dia, fico por aqui, ajudando como posso, escrevendo para encorajar quem vem, apoiando os estudantes, que aqui estão, para amenizar a saudade absurda que sentimos longe de casa e facilitar nas muitas aceitações que são precisas para entender outra cultura, tentando otimizar essa experiência.

Posso morar em outro país, mas serei sempre brasileira, em primeiro lugar. Mudar de país não desata os laços, simplesmente te dá um nó, reafirmando de uma vez por todas o seu patriotismo e o amor à família.

Gosto de pensar que, de longe, sou um pedacinho de positividade que liga duas pátrias, que as carrega para frente, mesmo que imperceptivelmente. Esse é meu papel como brasileira. Em muitos, logo estaremos carregando com mais eficiência.

Jovens, venham, vejam, mudem!

“...E O TEU FUTURO ESPELHA ESSA GRANDEZA. TERRA ADORADA, ENTRE OUTRAS MIL, ÉS TU,BRASIL, Ó PÁTRIA AMADA!”