No final de semana que passou fomos ao cinema com as crianças, para assistir Rio.
Mesmo sendo garota do interior de São Paulo, não pude deixar de me animar com a idéia de uma super produção que se passa no Brasil e finalmente falando de seu lado maravilhoso.
Fui a única do cinema inteiro que chorou a cada sambinha que tocava. Senti como se me dessem um choque com desfibrilador no coração, que pulou batendo mais forte a cada batida de tambor, pulsando e mandando meu sangue quente como o sol da praia que mostravam, arrepiando minha pele por onde passava aos sons do apito inicial, como um rio de sensações que explodia em uma cachoeira de lágrimas nos olhos com as cores familiares. Aquele sentimento de paixão e orgulho misturados, rítmo e vida, numa batucada tão familiar e contagiosa que era preciso me segurar para não fazer uma "hola" e gritar a todos: Esse é meu país!
Também fui a única a entender certas cenas, como quando passa o jogo Brasil e Argentina e acaba a luz por causa dos bichinhos. O cinema nem se moveu, ninguém era capaz de entender a gravidade de uma falta de luz nesse clássico! Dei risada sozinha, acompanhada de um risinho tímido do meu marido, que até entendeu a piada.
Meu coração seguiu os rítmos e quase parou com as cores e paisagens e piadas que só um brasileiro era capaz de entender, saí com os olhos marejados de ver aquele mar azul, a praia cheia, o desfile de carnaval, tudo aquilo que cresci vendo ao vivo ou todo ano na televisão. Até a narração, lá no fundo, quase que sussurrada, eu consegui distinguir, aquele jeito de narrar futebol que só o brasileiro tem. Mas acho que ninguém nem percebeu que isso existiu no filme, talvez nem quem mora no Brasil.
Depois dessas milhares de sensações acordadas em mim no final de semana, li hoje uma frase de Amyr Klink que completou o quadro do que sinto:
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.
Sim, porque é tão fácil xingarmos o que temos, vermos a miséria e as coisas feias, falar da Europa como o melhor lugar do mundo e desejar sair do país e nunca mais voltar, seguindo exemplo de Carlota Joaquina, batendo até o pó do sapato... Quantas vezes não ouvi comentários pessimistas, comparações que inferiorizam nossa pátria...
Sempre fui patriota e, sendo assim, nunca fiz de xingar meu país um costume, mas hoje, se ouço um comentário assim, chega-me a vir água nos olhos, uma dor como se falassem mal de minha mãe, de minha casa, de tudo aquilo que sou. Aqui, longe de tudo o que conheci e aprendi, ofender meu país é ofença pessoal, porque eu sei muito bem o que deixei para trás e sei também porque sou diferente dos daqui, por ser brasileira.
Dizem que não sabemos o que temos até perdermos, uma grande verdade. Depois que você vê toda a maravilha de um país estrangeiro e os benefícios, vive tudo o que ele te oferece, pode até ser mesmo um país muito bom, mas então começa a surgir a falta de outras coisas, do que não tem aqui e acostumados a ter sempre, nem notávamos sua presença, enquanto não nos fazia falta.
Para quem nunca viveu fora, eu digo o que se deve ver quando estamos no Brasil: Esse otimismo de um povo que vive constantemente sob a luz do sol; o "Tudo bem" sincero de qualquer pessoa que se pergunta "Como vai?", seguido de um sorriso; o grito de "gol" apaixonado; a importância de uma copa do mundo - Acreditem, por aqui o mundo não pára e eles nem sabem direito que ano será a próxima. Para eles significa apenas uns jogos bons na TV, que o pessoal acompanha pra ver o que? O show do Brasil.-; reuniões grandes de família, música no ar - eu mesma nunca havia reparado o quanto o Brasil é musical, as pessoas cantam, assoviam, é impossível passar por uma rua onde não tenha pelo menos uma casa com som alto, nem sempre com música boa, mas toca, tudo toca. Aqui reina o silêncio, que muitas vezes é relaxante, mas não contagia.- gritos e risadas altas; vida, tudo tem vida... É o nosso Brasil...
Para quem, ainda assim, não tem orgulho, passa um tempo fora, tempo o suficiente pra sentir falta do sol, do som e dos sorrisos, olho no olho pra falar e abraço de amigo, camisa verde e amarela e cara pintada para o jogo... Depois chora ouvindo o hino no jogo de futebol, ou Aquarela do Brasil no avião, voltando pra casa e beija o solo que te criou, aquele que te fez assim, brasileiro!
COMENTÁRIOS AQUI!:
- Lu Says:
13 de maio de 2011 22:03
- Estamos doidos pra ver Rio tbem!!
Sabe, Carol, eu qdo vou pro Brasil, me dá pena. Veja bem, não pena por dó, mas pena pq eu vejo o qto o Brasil é um pais ANIMAL, o qto poderia usar tudo o q tem e ser uma potência, dando um show na Europa, EUA e etc, mas não é. O brasileiro povão é criativo, é legal, é animadão, vibra, vive com as coisas, a vida não passa pelos anos sem cor, sem música. Eu sinto mto falta disso aqui em israel, da animação, do abraço apertados dos amigos, de colocar amor em tudo o q fazem. OK, as saudades ofuscam os problemas, mas de longe podemos ver o qto quem está lá não faz idéia de como algumas coisas são importantes...
Beijos - Ingrid Souza Says:
- OOOO saudade hein Carol!
- Carol Says:
- Lu vc falou tudo! O Brasil tem muita coisa boa e muita coisa que só lá que vc vê e sente. Sempre amei meu país, mas aprendi ainda mais desde que estou longe. Tem muita coisa pra ser consertada, mas ainda sou otimista o suficiente pra dizer que a gente chega lá.
Ingrid... nem fala... que aperto!!! Vc mora pertinho de mim lá, conhece quase as mesmas coisas que eu... Meu mundo por uma coxinha da Real!!!! ahahahahah Beijinhos! - Anônimo Says:
- Carol...tah certo que já comentei por email o quanto amei este seu texto sobre o filme Rio e o nosso Brasilzão de meu Deus....e que mostrei pras meninas da Meta e todas gostaram muito da sua escrita e mandaram eu parabelizá-la por escrever tão bem....até meismo minha cheffa, rss comentou, nossa Julia, sua amiga escreve muito bem...fiquei toda orgulhosa contando sua história de vida para ela...e como senti sua falta, percebi estar com mais saudades de vc do que já imaginava...estou amando "te ler", me sinto meismo muito perto de vc assim. Te amo!
- Carol Says:
- Ju, já falei, mas falo outra vez, amo ler seus comentários aqui, sinto o mesmo que vc. Estou morrendo de saudades! Que bom que encontrei essa forma de te contar tudo o que sinto outra vez, não é? Te amo amiga-irmã!
- Anônimo Says:
- Filha, que lindo! Acho que esse texto foi um dos mais lindos...Senti até uma tristeza por voce não estar aqui prá curtir nosso lindo País.Voce define tudo muito bem, eu, só de ficar um mês na Europa, sinto meu coração pedindo:. Brasil, Brasil, imagino voce que fica até mesmo ano prá vir prá cá. Mas tudo tem seu tempo e tudo se arruma. Parabéns...Pai.
- Carol Says:
- Que bom que gostou Papi!
Sim,sinto falta mesmo do país e de tudo aquilo que representa pra mim, mais ainda de vocês... Mas também aprendi a amar a Hungria, com tantos anos aqui, já me sinto em casa e meu coração aprendeu que tem sempre que sentir falta de alguma coisa, ou aí, ou aqui... mas ele também sabe que o mais importante é bater feliz onde está.
De qualquer forma estarei meis completa mês que vem, pois logo vocês estarão aqui pra me trazer um pouco de Brasil... :)
Beijinhos! - Anônimo Says:
- Lindooo!! Lindo texto querida. Sim, logo estaremos aí para abraçar muito vocês e fazer muito barulho... é o que fazemos melhor. Estou com muita saudade!!!Beijos Mamãe
- Juliana Says:
- Amorecoooo
Nossa, lindo demais o texto, e mais uma vez emocionante!
Me arrepiei lendo o texto, e aí sim me dei conta de quanto nós amamos este país, e o quanto combinamos com ele... rsrs
Parabéns por mais um texto envolvente!
Mil beijos querida!!! - Carol Says:
- Mami, quem bom que vocês vêm com o barulho e a alegria daí para me recarregar... Estou contando os dias! Te amo!
- Carol Says:
- Ju, querida, que bom que consegui demonstrar as coisas preciosas do nosso Brasil. Espero sempre por seus comentários envolventes. :) Obrigada!
- Mi Says:
- eu adorei o filme! realmente ele me levou de volta ao brasil =) e se tem uma coisa que me faz desabar na hora é escutar o Samba do Aviao, de tom jobim...nossa, eu choro litros! hehe bjs!
- Carol Says:
- Mi, eu já desisti de ouvir musica no avião, porque toda vez desabava de ouvir Tom Jobim e Aquarela do Brasil, que são regras no rádio do avião, né... Não da, ficar passando vexame por aí... ahahahaha
- Vinicius Lira Says:
- Prima o Rio é lindo mesmo! Eu ri muito e tb me emocionei.. não sei como é morar longe daqui, mas me emocionei com seu texto e pude sentir um pouco da saudade daquilo que tenho todo dia mas não tinha visto com esses olhos... Que bom ler seus escritos.. de verdade mesmo! Parabens! Bju
- Carol Says:
- Que bom que vc gostou primo!!! Estando longe a gente percebe muita coisa que passa despercebida no dia-a-dia e são justamente essas coisas que fazem mais falta. É bom sair um pouco e ver com olhos de fora, a gente admira mais ainda o que já gostava.
Fiquei feliz por ver que vc voltou aqui, volte sempre!
beijinhos! - Jackie Says:
- Oi, Carol! A experiência de vivenciar outras realidades nos dá mesmo essa chance de um (novo) olhar de encantamento e namoro sobre nossa terra maravilhosa. Bjos verde-amarelos!
- Zélia Gadelha Says:
- Oi Carol!
Deu pra sentir em cada palavra o peso da saudade... Realmente apesar das adiversidades o Brasil é tudo de bom... Bjusss - Yohana SanFer Says:
- Carol, ainda não assisti o filme mas já ouvi muito bem sobre o tal. Legal também perceber que vocÊ sempre demonstra o quanto valoriza e sente falta daqui. O mais incrível é que você sempre nos embala com seus textos. Nos apresenta um fato, nos dá palhinhas de suas emoções e nos remete a uma reflexão. Totalmente coerente e cheia de sentimento! Descobrir teu blog foi algo assim, maravilhoso! Bjs!
- Carol Says:
- Jackie, que bom que gostou! Obrigada por ler e por mandar beijos verde-amarelos, são meus preferidos... :)Beijos verde-amarelos pra vc também!
Zélia, pois é, a saudade é algo com que aprendi a conviver. É bom as vezes deixá-la transbordar, principalmente se for para mostrar para os outros brasileiros o quanto têm pra se admirar. Que bom que deu certo o que eu queria... Beijinhos!
Yohana, fico muito feliz mais uma vez por seu comentário. Os comentários são assim como um encontro marcado, fico esperando cada um com ansiedade e quando recebo um como o seu é o mesmo que receber uma declaração de amor... Eleva todo o meu dia para um nível superior. Obrigada! Beijinhos! - Anônimo Says:
- Lendo seu texto me deu saudades do Brasil! Quanto estavamos assisitindo o filme, olhei as suas reacoes varias vezes durante o filme, e realmente, voce foi a unica a chorar num filme de Disney de piadas :)
Senti uma responsabilidade nos meus ombros por sua tristeza do momento, mas tambem deu pra ver na pouca luz os nossos dois meninoes. Vendo voces tres juntos enfortaleceu em mim que fizemos a decisao certa, mesmo tendo que deixar algo pra trais.
Te Amo! Escreva... sempre
estou curioso pra descobrir mais de Voce :)
Zsombor - Carol Says:
- Meu amor, não chorei de tristeza, pois sou feliz aqui com vocês, foi saudade e saudade não é uma coisa ruim, apenas uma emoção diferente, independente das outras. Chorei também de orgulho do meu país, vendo as belezas ali mostradas e de saber que faço parte daquilo, mas não de tristeza. Não sinta nenhum peso por isso, nós tomamos sempre as decisões juntos. Tb amo a Hungria e choro quando vejo as crianças na dança típica, então não tem jeito amor, sou chorona mesmo... ahahaha Te amo! Obrigada por sempre estar do meu lado!
