A palavra "pai" desperta muitos sentimentos diferentes de pessoa para pessoa, pois tem vários tipos de pais, os que são presentes, os que são ausentes, os rígidos, os que são amigos, os certinhos e os atrapalhados... Um pouco atrasada, vou falar do MEU. E a primeira coisa a dizer é que sei que ele não vai se importar de ler isso somente uma semana depois do dia dos pais.
Semana passada liguei pelo skype para dizer-lhe feliz dia dos pais e lhe disse assim, simples, com entusiasmo e carinho, mas simples: "Feliz dia dos pais!". Senti que não foi tudo o que eu gostaria de lhe dizer, mas sou melhor com palavras escritas do que faladas. Se eu tentasse falar sobre meu amor por ele e a gratidão que tenho por ser sua filha, eu iria chorar e não sairia muita coisa. Para completar, foi ele quem me fez uma declaração, falou que meus textos são lindos, que os emociona... para isso também não respondi muita coisa, ficou entalado na minha garganta, enroscou no nó e não saiu nada, não saiu nem o "Eu te amo", muito menos todo o resto que ficou lá dentro: meu coração que batia apressado, as lágrimas que se escondiam fazendo força para não sair, minha mão que tremia, a saudade e a vontade de abraçá-lo...
Registro aqui em palavras então, que muitas vezes o que eu demonstro é a pontinha do "iceberg" de sentimentos que se esconde em mim.
Meu pai quando eu era criança: Ele era aquele por quem eu tinha adoração, que eu vivia pendurada no pescoço, que se trancava com a gente no quarto e ficava brincando, contando estórias e nos fazendo rir muito com as vozes que fazia imitando cada personagem... No sítio da minha avó soltávamos pipa, pulávamos corda, pescávamos... Era meu pai barbudo. Eu devia ser muito pequena, porque nem lembro de meu irmão por perto quando aconteceu, mas lembro-me de ter ficado muito zangada com ele por ter cortado sua barba, não queria que ele chegasse perto de mim, queria meu pai barbudo... Crianças podem ser crueis. Lembro-me claramente da revolta por ele ter tirado a barba que eu gostava tanto... E ele tentava me convencer que ele era o mesmo, com um leve sorriso, pois estava achando engraçado eu gostar tanto da barba.
Meu pai na adolescência: Continuava sendo aquele em quem eu me pendurava no pescoço, porém com muitas brigas nos intervalos. Como pai coruja, era difícil convencê-lo de que eu precisaria ir a discoteca, paquerar, namorar... Meu gênio de adolescente já batia um pouco com o dele. Mas ele tinha toda a razão, hoje eu vejo, ele não era quadrado, ele me ajudou a chegar aqui. Eu aproveitei bem discotecas e saídas com amigas, apenas o fiz com moderação e muita bajulação para conseguir um sim... O que mais me impressiona é que ele disse "não" muitas vezes, para muitas coisas, em geral o que não tinha importância para meu futuro, mas conseguiu enxergar atravéz do meu coração quando realmente precisei de um "sim". Quando muitos pais mais liberais que o meu diriam "não", quando pedi para vir para a Hungria com um cara que conheci há um mês e muitos diziam a ele que era loucura deixar a filha ir, ele sabia, ele tinha certeza do seu sim, ele enxergou nos meus olhos e sentiu que era o certo. E era mesmo, graças a ele, eu hoje sou muito feliz e tenho a certeza que encontrei a metade que me faltava. Ele soube me guardar e cuidar, para entregar nas mãos da pessoa certa. Eu só espero enxergar através dos olhos dos meus filhos da mesma maneira, quando chegar essa hora.
Meu pai de sempre: Ele é uma pessoa justa, honesta, que preferiu muitas vezes lutar a pegar o caminho mais curto fazendo o que era errado. Nos deu exemplos de como uma pessoa deve agir e vencer sendo admirado pelas pessoas e não pisando nelas. Lutou muito na vida desde sua infância de menino pobre - que tem histórias que nos faz rir muito, mas que sei que na realidade não foram tão engraçadas - até chegar onde está hoje, respeitado e com muitos amigos. Um pai que é a imagem que olhamos quando pensamos no que seria a coisa certa para se fazer.
Meu pai, eu poderia escrever um livro sobre você, quem sabe você deva escrevê-lo, não é mesmo? Já que esse também é um dom que você tem.
Vou terminar escrevendo o que eu deveria ter dito na semana passada: Obrigada por tudo. Pela imagem de homem de bem, pelo zelo e sabedoria na hora de nos dizer "não", pelo carinho e muitos risos que nos proporcionou sempre, pelo amor que sempre deixou claro, por ser tão presente e indispensável a nossas vidas. Te amo muito e só estou aqui e feliz por você ter sido MEU PAI.
Feliz dia dos pais, mais uma vez.