Do que a felicidade é feita?

Sorte ou coragem? E essas são tão diferentes assim, ou podem ser confundidas? Creio que esses dois fatores causem sim confusão na cabeça de muita gente, apesar de sua definição tão distinta.

Sorte é algo que te acontece, independente de suas decisões, ela simplesmente vem e arruma sua vida, faz todo o trabalho, sem que você precise se preocupar, ou pegar responsabilidade. Parece-me algo bem fictício, como conto de fadas ou estória de pescador, mas é algo bonito de se acreditar e desejar. Quem não deseja sorte? Já a coragem, depende totalmente de você e de suas ações. A coragem é a virtude de quem pega as rédias da vida na mão e não deixa nos braços da sorte, com sua incerteza perfeita. A coragem é se responsabilizar por quem você é e ditar os caminhos de sua vida, saber que tudo o que ocorreu é resultado de suas ações e predisposições.

Pessoas que realizam seus sonhos, que encontram a pessoa certa, no caso do amor, são pessoas de sorte ou de coragem? Talvez um pouco dos dois, mas só a sorte, posso afirmar que não pode ser o fator, sendo que, para encontrar a pessoa certa, também é preciso de um pingo de coragem, coragem de abrir o coração, de aceitar que essa pessoa existe. E isso não é tão óbvio quanto parece, é preciso trabalhar para estar pronto para o amor, sentir-se responsável pelo seu destino e fazê-lo acontecer.

Quantas vezes já ouvi que sou uma pessoa de sorte... Sim, posso ter um pouco, mas engraçado que nunca ganho nada em sorteios ou jogos que dependem exclusivamente disso.

Ao conhecer o Zsombor, quanta gente me falou, já nos primeiros dias, que era pra eu pular fora antes que me machucasse? Quantos teriam dito não, logo no primeiro momento? Quantos preferiam pensar em quais eram as chances de dar certo, quando coisas assim não dão certo com frequência?

Talvez não dêem certo com frequência porque, com frequência, a primeira reação é se fechar à chance dada. Se você não se abre às chances e corre o risco, como chegará a algum lugar? A razão, muitas vezes é preguiçosa e escolhe o caminho seguro, já o coração, segue o caminho certo.

Agora, se você quer mudar de vida, imagine um rio, sua fronteira desafiadora para o mundo que você deseja, só pisando em terra firme, você jamais atravessará o rio, é preciso molhar os pés e estar pronto para nadar e lutar com a correnteza. Alguns rios mais fundos, outros mais rasos, mas você jamais saberá a profundidade do seu se não entrar.

Aceitar o risco e decidir enfrentar até o fim é imprescindível para vencê-lo.

Falando apenas de amor, - para meu texto não virar um livro, pois creio que esse assunto dá o que falar - a sorte e a coragem no amor, lembrei-me da história dos meus avós.

Meu avô era tropeiro, domador de cavalos e vivia viajando, levando boiada durante meses, atravessando o país, ele amava sua profissão. Minha avó era apaixonada por ele desde novinha, mas em seus tempos de menina meu avô não a notava. Ela me contava que ele namorava sua professora e sempre que passava perto da escola, empinava seu cavalo e acenava de longe, minha avó só o admirava. A professora foi um namorico, assim como várias outras. Meu avô parecia ser popular e não se prendia, afinal era um tropeiro, um viajante e não conhecia ninguém que pudesse fazê-lo mudar.

Um dia meu bisavô José, pai da minha avó, chamou meu avô para um jantar e uma conversa, ele queria que meu avô domasse seu cavalo arisco, meu avô logo foi avisando que precisaria viajar no dia seguinte e seria impossível domar seu cavalo, já que ficaria muito tempo fora, seu gado iria de Sorocaba, interior de São Paulo, até o Rio Grande do Sul. Meu bisavô insistiu no jantar e meu avô aceitou, pois tinha grande estima pelo amigo.

Ao chegar na casa da fazenda, ele logo notou uma moça que arrumava a mesa, uma espanhola linda, de cabelos e olhos negros, delicada e recatada. Eles trocaram olhares várias vezes durante o jantar e ele se apaixonou. Não precisou de meses ou dias para decidir o que fazer, nem precisou de dias para conhecê-la melhor, ele sabia só de olhar em seus olhos negros, sabia que aqueles olhos eram o espelho de suas mudanças e não lutou contra. No dia seguinte ele voltou à fazenda, dizendo que ficaria para domar o cavalo, trouxe consigo um papel e entregou à minha avó. Aquela era a primeira poesia de centenas que ele viria a fazer para ela.

Em uma noite ele decidiu sua vida, deixou para trás sua carreira de tropeiro e enfrentou o rio que o levou a margem da vida maravilhosa que tiveram juntos.

Não basta sorte é preciso coragem. Quantas pessoas trocaram seu grande amor pela carreira?

Ah, a carreira... Sim, você tem que fazer escolhas. O que é mais importante na vida para você? Não digo que é errado escolher a carreira, mas se essa é sua escolha, deve saber que vai conviver com ela e que talvez tenha sido a única chance. E se você recebe essa chance, a grande chance, aquela que você não tem dúvidas, quando você se vê nos olhos de alguém, você não desperdiça, não corre o risco de não haver uma segunda chance, não é? E a carreira é possível refazer, substituir a pessoa certa, isso é impossível.

Quem sou eu para dizer o que é certo ou errado? Cada um faz as escolhas que lhe forem mais valiosas. Porém, a sorte não é o fator que traz a felicidade até você, ela talvez mostre uma vez, que existe um rio ali e é você quem pode decidir se o atravessa ou não. Com uma dose de coragem, com a escolha de o fazer e com a persistência de não se afogar ou voltar atrás.

Para mim nunca foi questão, eu nadei com todas as minhas forças, fiz escolhas, deixei carreira de lado e família para tras, minha família sempre estará lá para mim, eu sei, e eu sempre amarei a todos, mas meu grande amor ia embora e eu tive que escolher acompanhá-lo ou largá-lo para sempre. Não era o tipo de situação que pode esperar, eu não correria o risco da desistência de uma das partes. Passei por frio e dor, ouvi críticas e conselhos contrários a minha decisão, senti cançaso e nadei por trechos onde nem podia ver a margem do outro lado, mas continuei e atravessei. E se estou aqui, feliz, é porque lutei por isso. A felicidade não cai no colo de ninguém, é preciso buscá-la, é preciso conquistá-la e decidir ser feliz.

Você é feliz? Você quer ser feliz? Decida ser! Lute! Conquiste! Assuma responsabilidade por sua vida!