Observo o imaculado branco do papel eletrônico aberto a
minha frente, sem saber o que escrever, sem ter idéias claras do que penso
hoje, como se eu não estivesse aqui, não ocupasse esse corpo.
Uma núvem densa atrapalha a concentração e faz tudo parecer
confuso. Engraçada essa percepção de sentir somente a sombra do que eu penso ou
sou. Começo a ler meu livro e meio às palavras coloco imagens do dia, do
passado ou dos planos, faço listas e viajo, às vezes sinto que li o vazio,
palavras que voaram a minha frente e passaram despercebidas, mesmo sem ter
outra coisa para pensar, apenas um vazio…
O que faz essa núvem instalar-se em meu território? Quem
autorizou a ela que ocupasse meu interior com esse enorme nevoeiro? Quero
enxergar as cores vivas e sentir vontade de escrever palavras inteiras,
conseguir suspirar com os parágrafos do
livro que estou lendo e não cometer o disperdício de lê-lo sem mergulhar no
significado de cada expressão!
Se esse texto parece desconexo, não é por acaso, ele é
apenas um bom esboço do que sou nesse instante, sem nem ao menos saber o por quê.
Palavras soltas, meias palavras, sentidos entorpecidos, sem serem doces, nem
amargos…
Seria tudo isso um abandono momentâneo de alma?
Tenho duas teorias sobre o caminho que minha alma pode ter
tomado:
- A primeira seria a ausência de meu marido, que está viajando por uma semana e leva consigo grande parte de mim. Teria ele levado, por descuido, a alma inteira? Vou pedir para que ele cheque em sua bagagem, porque aqui está fazendo falta, obrigando-me a escrever esse blá blá blá, só para testar até onde o vazio me deixa pensar, até onde as sombras de mim ainda moldam o que sou;
- A segunda teoria, viria de planos futuros. Daqui uma semana estarei viajando para o Brasil e desconfio que minha alma, em sua grande impaciência ou falta de atenção, tenha errado a data e já se mandado sem mim. Seria ela tão ingrata de ter se dado férias sem nem mesmo me ajudar a fazer as malas? E os textos que tenho encomendado para outros blogs? Se esse for o caso, minha alma perdeu a cabeça e deixou-me com todo o trabalho para fazer assim, entre neblina e desconcentração.
Seja qual for o motivo, vou fazendo o que posso, tentando
intensificar as cores com cafeína, tentando pensar em tudo com listas feitas a
longo prazo - escrevendo itém por itém, de acordo com o passar das núvens em
minha cabeça. Na melhor das hipóteses – que seria o descuido do meu marido por
ter levado a alma toda – amanhã recebo ela de volta e conseguirei terminar as
malas e os textos. Se o caso for a viagem antecipada, o texto da semana que vem
sairá tão sem sentido quanto o de hoje…
Registro essa minha nebulosa ausência de espírito com o
pedido: divulguem no face para ajudar-me a encontrá-lo!