Profissão: Dona de casa.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Foto via http://ingilizce.masaldiyari.net 
Acordei inspirada para trabalhar e começar a escrever imediatamente...
Imediatamente após levar o Zsombi, meu filho mais velho, até a escolinha, dar café da manhã para o Hunor, meu caçula, limpar o banheiro (que não podia esperar de jeito nenhum, levando em consideração que em casa moram três homens e isso é trabalho indispensável de grande frequência), passar aspirador nos quartos, consertar o aspirador (que resolveu encrencar justo hoje, só pra me desafiar), terminar de limpar os quartos, lavar a roupa, a louça, o almoço, correr buscar o Zsombi da escolinha, estender a roupa, guardar as que já estavam secas, dar café da tarde para as crianças, passar pano no resto da casa e finalmente comer algo... Claro que em todo meio tempo umas paradas obrigatórias para dar água para o Hunor, ver e elogiar o foguete de Lego, pegar um brinquedo do alto para o Zsombi, separar a briga e mais mil coisas que podem aparecer de cinco em cinco minutos, ou menos...
Lá pelas seis da tarde, quando Zsombor, meu marido, chegou do trabalho é que pude sentar-me na esperança de escrever algo.
Confesso que a inspiração já não era a mesma de quando acordei cheia de energia e idéias frescas, muitas delas se perderam durante o dia, os afazeres foram passando por cima de cada uma como se fosse uma avalanche. Porém fiz uma forcinha para guardar um pouquinho, uma migalha que fosse da vontade de escrever, onde a avalanche não pudesse causar danos... o cantinho da teimosia.
Apesar do cansaço ao final do dia, fazer o serviço de casa não é uma coisa que eu ache ruim. Ok, não sou louca por limpar banheiro... mas em geral, adoro cuidar da minha casa e dar a ela uma aparência bonita e aconchegante, até mesmo me arriscar com umas idéias de decoração.
Os meninos são a melhor parte de se trabalhar em casa. Adoro ter os dois a minha volta brincando e bagunçando, ouvindo as gargalhadas e suas idéias puras sobre como funcionam as coisas. Gosto de participar, estar junto e ver cada milimetro que eles crescem.
Tanta luta para que as mulheres conseguissem sair de casa e fazerem o que realmente gostam, se sentirem completas e realizadas... Mas posso eu sentir-me realizada fazendo as tarefas de casa e cuidando de meus filhos, como antes eram obrigadas as mulheres, sem muita escolha? Seria tal crime que eu gostasse e almejasse justamente isso?
Temos a liberdade da escolha em nossas mãos, qualquer escolha é aceitável, motorista de caminhão, ou secretária, empregada doméstica, ou empresária... mas ficar em casa... hmmm... nunca é bem visto.
- Carol, então o que você faz?
- Cuido da minha família e da casa.
- Ah, que gostoso ficar em casa e não fazer nada!- Seguido de um sorrisinho malicioso do tipo "Que vida fácil a sua!", amistosamente, mas é preciso comentar algo sobre uma pessoa que ousa escolher um caminho tão extremo.
Claro que adoro o que faço e realmente acho bom ficar em casa, assim como uma boa professora, que adora o que faz, acha bom estar em uma sala de aula. Talvez se essa mesma professora ficasse em casa, fazendo toda a rotina que eu gosto de fazer, enlouquecesse.
Por que é tão diferente limpar a minha própria casa, de limpar a casa de outra pessoa?
Ou se eu educasse outras crianças, que não as minhas, com certeza teria mais prestígio:
- Carol, então o que voce faz?
- Eu educo crianças em uma escola (o que é bem diferente de se fazer em casa) e recebo um bom dinheiro por isso (também muito importante). - Essa é a típica resposta aceitável e que evita certas "perguntas pegadinhas" como E o que você faz com tanto tempo livre?.
No meu caso fica essa última interrogação, como se estar em casa significasse ter muito, ou todo o tempo do mundo, livre.
As vezes me perguntam o que eu fiz durante o dia e eu simplesmente não sei a resposta. Meu dia se perdeu em algum lugar entre esquentar o leite de manhã e pendurar a meia no varal ao fim da tarde...
Desde que fiquei grávida do Zsombi tenho tido um pouco de compreensão nesse caso, mas isso porque aqui na Hungria é comum as mães ficarem com os filhos em casa até os três anos de idade, elas recebem pra isso e só voltam antes se quiserem muito trabalhar. Depois emendei com o Hunor, quando o Zsombi tinha dois anos e quase me esqueci de como eram os olhares reprovadores para "donas de casa".
Agora que o Hunor está com dois anos e meio, meu tempo está se esgotando e as perguntas começam:
- O que vai fazer depois que o Hunor entrar na escolinha?
- Hmmm, realmente não sei. Acho que vou continuar essa minha vida fácil e talvez eu consiga até sentar-me e tomar um chá, para o assombro das pessoas que trabalham.
Sinceramente eu admiro muito aquelas mulheres que trabalham fora, cuidam da casa, do marido, das crianças e ainda têm energia para ser sexy a noite. Admiro mais ainda as que são obrigadas a fazer tudo isso. Eu infelizmente não sou dessas "super mulheres" e já que meu marido garante minhas tentativas não remuneradas, como essa agora, prefiro ter a certeza de que meus filhos estão bem, que serei capaz de estar sorrindo assim que ele chegue em casa e fazer do nosso lar o refúgio para a felicidade de todos nós.
Não trabalho por dinheiro ou posição social. No final meu pagamento, mesmo que demorado, me fará a pessoa mais feliz e orgulhosa do mundo. Aí talvez a minha resposta mude:
-Eu não faço nada, apenas garanto que eles façam o tudo o que sonharem.









COMENTÁRIOS AQUI!:


Anônimo Says: 
Carol..Amei!!!!!!!!!!!!! Parece que vc escreveu sobre mim também, já que sou solidária a essa vida de dona de casa - com muito orgulho - que levo aqui no Brasil... Vc é ótima nisso! Continue, continue! Adoro seus textos....são muito bons e reais! Grande beijo Da sua prima Mariana
Miriam Says: 
Lindooooo!!! Adorei o texto, é exatamente como me senti durante muito tempo. Mas hoje tenho pena de quem não teve tempo para educar os próprios filhos. E sinto orgulho de ter tido a honra de educar as duas pessoas mais maravilhosas que conheci. Beijos!!! Mami
kaka Says: 
Carol arrosou.... As pessoas tem essa visao mesmo de que quem fica em casa é a toa.... mas masndou ver amiei.... continue escrevendo.....
Anônimo Says: 
Lindo texto Carol! Lindo e verdadeiro...penso que as pessoas, na falta de melhor entretenimento, divertem-se julgando e condenado a vida alheia. Analise minha história: desde meus dezenove anos assumi a responsabilidade de cuidar de uma familia e de uma casa grande, sozinha. Com vinte e um anos eu tinha dois filhos, marido, muitos comodos sujos, roupas para lavar e comida por fazer...paralelamente a isso completei dois cursos universitários e trabalhei fora tanto por gostar quanto por precisar (não necessariamente nessa ordem...). Hoje estou para completar quarenta e cinco anos e há quatro tenho vivido apenas para minha família: enfeito e perfumo a casa, faço jantares de todos os tipos, acompanho zelosamente minha filha caçula adolescente e até mesmo ajudo meu marido com seu trabalho as vezes. Pronto! "Virei madame" rsrs...e a maioria dos amigos além de conhecidos novos quado pergunta o que tenho feito e obtem a resposta sincera me oferece as mesmas palavras, os mesmos olhares e sorrisinhos com os quais você é premiada..rsrs..Não importa o quanto alguém faça em sua vida, as pessoas sempre vão achar um jeito de criticar. A propósito, creio que você pode se considerar uma "supermulher" pois, pelo menos na minha opinião, ser "super" é ser honesto, forte, feliz e realizado da sua própria maneira, bem sucedido em fazer o que ama e absolutamente desvinculado da opinião coletiva. Ah! Continue escrevendo, você tem muito talento! Beijão!Mara
Maryna Says: 
Carol,eu também sou dona de casa agora. Confesso que é a coisa mais difícil que eu já fiz. Tive que deixar o trabalho por causa de problemas com a saúde da Beatriz e não me arrependo!!! Continue escrevendo, estou adorando. Beijos
Nadia Ortiga-Haraszti Says: 
ADOREI!!!!! Sempre e bom ouvir de alguem como e importante a nossa profissao!! beijocas
Juliana Says: 
Nossa Cá, maravilhoso o texto... para variar me emocionei! Consegui ver nas suas palavras a minha mãe, que sempre abriu mão de tudo para nos criar! Eu reconheço e agradeço demais por tudo que ela fez, e tenho certeza que os meninos também serão eternamente gratos! Não existe pessoa no mundo que possa substituir esse amor todo de mãe! E quero mais textos!!!! Você está me deixando viciada nas suas obras! Te adoro demais lindona! Mil beijos
Meire Says: 
Que lindo!!! sei exatamente do que vc está falando...sempre me senti da mesma forma...mas vale a pena...ver seus filhos se transformarem em "pessoas da melhor gualidade ". Ser mae é o trabalho mais dificil e importante, e vc o esta desempenhando lindamente...parabens.
Carol Says: 
Que bom!!! Sempre muito bom ler que consegui passar o que outros sentem tb, esse é meu objetivo, tocar as pessoas de alguma forma... Comentários como esses são o que me movem. Muuuito obrigada!
IVONETE Says: 
TODAS AS MULHERES DEVERIAM LER SEU TEXTO... SUA VERDADE É A VERDADE DE MUITAS DELAS... PARABÉNS PELA SUA CORAGEM DE ASSUMIR O PAPEL INTEGRAL DE MÃE E DONA DE CASA SEM CULPAS....BJS IVO

Comentários (4)

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Ai Carol achei engraçado o texto, imaginei a risadinha das pessoas (já passei por isso). Também já passei pela sensação de estar sendo inferiorizada como se eu não estivesse trabalhando por não ter estudos ou alguma outra inabilidade. Minha filha mais nova vai entrar para a pré-escola em setembro, então já sei como vai ser, mas enfim, já estou ficando craque nisso, rsrsrs.
1 resposta · ativo 670 semanas atrás
É Re, o mais importante de toda decisão é VOCÊ ter certeza dela e acreditar no que faz. Para toda e qualquer profissão, sempre existirão críticas, sempre existirá quem te desdenha, mas esse tipo de coisa não pode ser levado em consideração, você tem um motivo por ter escolhido esse caminho e deve se concentrar nele e em suas conquistas com o que escolheu para sua vida. Mas RE, se seu título incomoda alguém, escolha liste os seus vários outros: Empresária, blogueira, cozinheira, educadora... E peça pra pessoa te entitular do que ela mais gostar. ;) Eu costumo dizer que sou mãe 24 horas e logo estarei usando o título de escritora, mesmo antes de lançar o livro... Ja escrevo! ahahaha Títulos são só títulos e os resultados é que importam. Super beijos!
Carol, peço permissão para fazer minhas as suas palavras. Esta também é a minha escolha e me dedico muito e faço o que posso. Cansativo às vezes, mas sempre compensador. Bjus Ju
1 resposta · ativo 668 semanas atrás
Ju, querida, obrigada pelo carinho. Bom ver que tanta gente faz escolhas e são felizes com elas, independente do que outros pensam. Super beijo!

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