O momento perfeito.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quando pensei em recomeçar a escrever o livro que deixei de lado há tantos anos, logo veio à minha cabeça a correria do dia-a-dia, meu tempo com as crianças, com meu marido, os textos do blog e mais um turbilhão de coisas girando sem deixar espaço, ou chance de sair sem ser atirada longe.
Há anos comecei um livro sobre mim e os meus sonhos deixando de ser apenas sonhos para se tornarem realidade. Mas naquela época eu não parava para escrever e depois de um tempo o abandonei completamente. Eu não tinha tempo porque ainda estava desenvolvendo minha história, ainda estava lutando pelo famoso "final feliz". Era saudade dos pais e família, adaptação a uma nova cultura, uma língua terrivelmente difícil para aprender, vistos que duravam todo o verão para serem feitos, com a ameaça terrorista implícita de nos separar, muitos pesadelos e obstáculos... ainda tinha que prestar muita atenção no desenrolar de tudo o que acontecia. Como poderia eu criar um livro enquanto passavam cenas decisivas dele?
Agora sinto que minha vida tomou um rumo mais claro, tudo parece estar se encaixando e depois das várias tempestades de dúvidas, eclipses de idéias, procuras incansáveis por saídas e lugares seguros para firmar o pé, eu finalmente me encontro num braço de mar com minha escrivaninha e o programa de texto implorando para que eu comece novamente e vá até o fim, numa calmaria de palavras que vai me refletir na superfície de um livro.
A pesar da calmaria dos fatos no momento, o turbilhão de coisas acontecendo ainda não parou e não vai parar tão cedo. Procurei então uma brecha, onde o trubilhão terá que dar uma desacelerada- mas ainda não se sabe o quanto- que é quando Hunor, o meu filho mais novo, entrará para a pré-escola. Minhas manhãs serão sós, porém devem ser bem planejadas e até então me parecia a fenda que eu precisava para enfiar meu projeto no turbilhão.
Quando comentei que começaria tudo a daqui meio ano, meu marido olhou-me sem parecer entender o prazo.
-Por que só daqui meio ano?- Seu olhar era confuso e preocupado.
Expliquei o momento perfeito de quando as duas crianças irão para a escolinha e eu ficarei em casa, sozinha e livre, tomando um chá e escrevendo. Tudo já estava previamente planejado e calculado e terminei meu discurso orgulhosa por ter tudo sob controle.
-Você não pode esperar tanto, não pode deixar passar tanto tempo sem fazer, esperando o momento perfeito, depois vai surgir algo, ou você vai se esquecer do que queria e nunca o momento vai ser totalmente perfeito. Nós vamos sentar e pensar juntos num tempo pra você trabalhar enquanto eu cuido das crianças.- Eu fiquei perplexa, em parte porque esperava que ele fosse concordar comigo, simplesmente - e me enganei - e também porque ele estava certo. Quando é que vai ser perfeito? Eu não posso esperar que chegue o dia em que a casa vai estar arrumada, o almoço pronto e os passarinhos cantando na minha janela para começar, ou esse começo pode durar minha vida toda.
Sem querer lembrei-me imediatamente de um amiguinho da terceira série, nós tínhamos por volta de nove anos de idade, eu estudava numa escola estadual no meu bairro, muitas crianças que estudavam ali eram de famílias simples, de baixa renda. Ele estava sempre arrumadinho e tinha todo o material escolar da lista certinho. Lembro-me da aula de desenho, todos tinham seu caderno de desenho, o tema sempre era livre, eu vivia tentando desenhar uma fada linda, com um vestido bem comprido, mas ela nunca ficava linda como eu queria, no dele só haviam carros, carros de todos os tipos, para mim, na época, estavam muito bem desenhados, com detalhes que deixavam claros quais as suas marcas e modelos, mas uma coisa me chamou a atenção, nenhum carro tinha rodas... Quando perguntei a ele o porquê de nenhum de seus carros terem rodas, ele respondeu que iria desenhar todas elas quando ganhasse um compasso, para que os carros ficassem perfeitos. E ele seguiu o ano todo fazendo carros sem rodas, pois ainda não tinha seu compasso. Somente na quinta série o compasso estava na lista escolar e ele finalmente o ganhou, mas fico me perguntando se aqueles carros ganharam rodas depois disso, ou se ficaram para sempre incompletos. Na época não me passou pela cabeça como algo para se refletir, nem pensei em perguntar se seus desenhos foram terminados, ou simplesmente esquecidos, hoje me parece algo triste para se pensar, um ciclo que ficou aberto, senão para sempre, pelo menos em dois anos, enquanto seu compasso não chegava.
Acho que é mais ou menos isso que  o Zsombor quis me dizer. Já é bem difícil pensar em completar os desenhos antigos e se uma vez pensei em fazer, tenho que começar imediatamente, antes que outras coisas possam surgir e impedir que isso aconteça, antes que os afazeres de todo dia engulam a brecha do turbilhão sem que ao menos eu a perceba e eu fique para sempre com meus "carros sem rodas". Esperar pela brecha é um erro, ela não tem dia marcado para acontecer, não vou acordar e deparar-me com um dia livre, terei que rasgá-la sozinha, com minhas mãos, no lugar exato onde eu quero.
Mudar a rotina é uma luta cansativa, mas só pode ser conquistada com o primeiro passo, o primeiro dia de uma nova rotina, forçá-lo a tomar seu lugar no dia breve que passa girando e deixá-lo ali até se grudar na parede do turbilhão.
Eu tenho enfiado muita coisa ali ultimamente, achando brecha e rasgando onde não tem e até agora a força centrípeta parece aguentar. Meu universo está ficando bem completo, com seu próprio sistema cheio de planetas e satélites importantes e tudo continua girando... É a minha natureza imitando o que já é aprendido sobre como as coisas funcionam. E funcionam... O mundo gira, a vida gira e cada um traz consigo um pequeno ou grande sistema, cheio de momentos imperfeitos, que talvez só precisem ser lapidados para que entrem em órbita com perfeição.
Você é o criador de seu universo, pode fazer do momento o que quiser. Não é fácil, mas é seu, crie o momento!





COMENTÁRIOS AQUI!:


Zsombor Says: 
Demais! Amei !
Ja tinha lido, mas sempre é uma boa tapa na cara ... hehehe
Lembro-me quando voce contou do seu amiguinho de carros sem rodas... fiquei com tanta do :D e voce esperou para me contar que em fim ele ganhou o compasso :D
Carol Says: 
Você gostou desse né amor? Pois é, vc sempre me acordando pra vida... Que bom né querido que vc sempre abre meus olhos para o que é melhor pra mim... Que seria de mim sem você? 
O menino do compasso, aqui não deu pra fazer tanto suspense, mas valeu... rsrsrs 
Te amo! Obrigada por tudo!
Ingrid Souza Says: 
Esta postagem foi removida pelo autor.
Ingrid Souza Says: 
Que lindo Carol!
Querida, vc é mais que bem vinda ao nosso Mães Internacionais, só agora vi que deixou um comentário por lá! =)
Apresente-se no nosso "DOC" do facebook e se prepara que dia 19 já tem Blogagem Coletiva, o tema é sobre amamentação, participação é livre, mas acho que vai ser legal se participar! =)

Nossa página no facebook é 
http://www.facebook.com/home.php?sk=group_134129206651152&ap=1

Beijão e Seja Bem Vinda!

PS: Apaguei a msg anterior porque tava incompleta. =)
Carol Says: 
Que legal Ingrid! Vou escrever sim, estava louca pra escrever sobre isso mesmo... Obrigada! Beijinhos!
Anônimo Says: 
Estou esperando o texto de amanha
Yohana SanFer Says: 
Que coisa linda Carol! Sua idéia, sua reflexão sobre o carro e a sabedoria do desfecho! Achei fantástico! Agradeço seu carinho e digo que sem dúvidas suas palavras tb são ótimas de se ler! 
E que sempre aproveitemos o hoje pra criar coisas lindas!
Carol Says: 
Yohana, que lindo seu comentário! É uma honra tê-la aqui sempre. Obrigada pelo carinho! Beijinhos!
ivi Says: 
Cada dia que vivemos deve ser intenso, único e POSSIVELMENTE SATISFATÓRIO... SE DEIXARMOS DE LADO O QUE DESEJAMOS... PARA UM AMANHÃ...DEIXAREMOS PASSAR MUITOS DIAS POSSÍVEIS DE REALIZARMOS O QUE REALMENTE QUEREMOS...SIGA SEUS DESEJOS MAIS ÍNTIMOS, HOJE, AGORA, PARA QUE O AMNHÃ VC POSSA VER OS FRUTOS MADURINHOS QUE VC PLANTOU...
BJS... IVO
Carol Says: 
Obrigada Ivo!!!
Vou seguir sim. :)
Um super beijo! Saudades!
Juliana Says: 
Ah Cá, como é bom levar um empurrãozinho desses, por mais que a gente acredite que está fazendo todo o possível a todo instante, quando nos deparamos com um texto assim tiramos lá do fundo o que podemos fazer a mais... obrigada!
Beijão querida!
Carol Says: 
Que bom Ju que te empurrei, pra mim o que empurra são esses comentários... Super obrigada!

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