Para variar eu estava pensando na vida, na minha, na da minha família, na do resto do mundo e no que o mundo pensa da minha vida. Pensei também sobre as coisas que escrevo ou falo, sempre tão otimistas. Sou mesmo esse poço de otimismo? Essa sorte ambulante que tem uma vida perfeita? Eu abro meu livro para o mundo com que conteúdo?
Minha vida, para muitos que vêem de fora, ou lêem, parece um conto de fadas. Eu achei o amor da minha vida, me mudei para um país cheio de castelos, tive dois filhos lindos e vivi feliz para sempre. Não está longe da verdade, mas não foi tudo tão simples e não quer dizer que as vezes eu não enlouqueça. Não quer dizer que eu não chore de saudades, ou que não tenha desejado morar perto dos meus pais, assim que nasceram meus filhos, mais do que nunca. No entanto, eu não gosto de mostrar esse lado difícil, eu não gosto de reclamar da minha vida ou de minhas escolhas. Eu escolhi, e se decidi assim, foi porque valia a pena. Certamente sou feliz na maior parte do tempo e meu saldo é positivo na soma de tudo, então para que falar de coisas que me chateam?
Estive pensando em por que eu não gosto de escrever sobre momentos difíceis, sobre brigas com meu marido, incertezas com meus filhos… e lembrei-me do meu avô e da frase que mais li no seu livro de poesias. Sem perceber, eu sempre estava lendo e relendo aquela frase, talvez porque eu me encontrasse nela. Ela dizia o seguinte:
„Minhas alegrias eu divido com os meus, meus erros, assumo, eu e Deus.”
Na primeira vez que li isso, fiquei surpresa. Meu avô errava? Aquele homem sábio e maravilhoso? Fiquei imaginando, que erro teria ele cometido para escrever aquela frase? E essa frase foi o máximo que ele chegou perto de contar um erro seu, de dizer que errava. Mas eu pude entender, acho que sou um pouco disso. Dentre as várias poesias que ele escreveu, inclusive sobre mim, nenhuma descreve mais o que sou do que essa frase.
Eu não faço isso para parecer bem para os outros, mostrar uma máscara ou coisa assim, tanto que estou aqui, falando sobre isso, assim como ele, deixando pistas de que um dia errei e me perguntei se estou fazendo certo. Só que simplesmente não quero guardar esses momentos, não vou registrar no livro da minha vida.
Momentos de brigas, momentos de desespero e vontade de correr pra casa, são momentos de erros, onde existe algum desentendimento, onde as partes não enxergam a razão do outro, que com certeza também existe, pois todo mundo tem a sua razão e as brigas só aparecem e persistem enquanto não vemos a razão da outra parte. Mas esses são, simplesmente, capítulos vividos onde eu passo um corretivo, para que quando eu possa ler o livro da minha vida, eu veja apenas como eu fui feliz, apenas onde eu acertei. Que fiquem os exemplos do que fiz certo, os maus exemplos não são precisos nem para mim, nem para quem me lê. Se os esqueço fico feliz, se lembro, tento entender e apagar. A lição que aprendi com os erros ficam, o que não pode ficar são os próprios, pelo menos trato de não os imortalizar.
Talvez por isso eu também tenha certa dificuldade em guardar rancor , lembrar que alguém me quis mal… Basta um sorriso e o corretivo está passado, começamos numa folha em branco. Isso é ruim? Não, não creio que seja. Ao perdoar alguém, nos livramos de uma carga imensa de dor.
Ver o lado bonito da vida, assim como eu, era o jeito do meu avô, que batia no peito e deslanchava a falar de todas as suas qualidades preferidas: tropeiro, domador de cavalos, homem forte, poeta apaixonado pela minha avó… Ele nunca se referia a si mesmo como dono de uma venda, profissão que também fez parte de sua vida, mas que pra ele com certeza era uma parte insignificante. No livro da vida dele, ele escrevia e pintava o retrato que ele queria dele mesmo. E ele era o tropeiro poeta, homem que na parede, ao lado da escrivaninha onde escrevia seus poemas, mantinha quadros de encontro de tropeiros e cavalos, um chicóte, uma boleadeira, um cantil e um berrante. Homem que fez uma família linda, mostrando bons exemplos e amando a cada um. Aquele homem, avô, que agradecia quando os netos dormiam em sua casa, no final de semana. Que adorava o movimento que fazíamos e o grande barulho que trazíamos a sua calma casinha de sítio. Esse era meu avô, mostrando todo seu lado bom.
Assim pretendo ser para meus filhos e netos. Aquela mulher que escreveu livros, que foi louca e apaixonada o suficiente para mudar de país sem pensar duas vezes e que realizou isso e aquilo na vida, fez bem para alguns e deu muitos bons exemplos. Porque eu sou o lado que eu quero mostrar de mim, o que o meu livro conta.
Meus erros eu não mostro, assumo.
Renata Marques · 697 semanas atrás
Carol 76p · 697 semanas atrás
Super beijos!
Miriam · 697 semanas atrás
Carol 76p · 697 semanas atrás
Celi · 697 semanas atrás
Que linda frase do seu avô... seus posts são sempre uma lição de vida para mim. Adoro! Penso tanto sobre meu jeito, sobre a vida que também escolhi.
Acho que tem razão! Precisamos assumir nossos erros e não tem necessidade de ficarmos compartilhando as tristezas. O melhor de tudo é ser otimista e pensar positivo de que devemos registrar e marcar somente as alegrias, as coisas boas da vida.
Apesar de nem sempre conseguir fazer isso. Mas um exercício diário, não é mesmo?
Um beijo e ótimo domingo para vocês.
Carol 76p · 697 semanas atrás
Estou devendo umas visitas no seu blog, não é?
A frase do meu avô é sim um excelente exercício para uma vida feliz, afinal é você quem conta a história do que viveu e eu vejo a minha como um romance bem óbvio, desses com final feliz para sempre... :)
Beijos!
Tatiana Lucia · 697 semanas atrás
Um super beijo e obrigada por existir compartilhando!
Carol 76p · 697 semanas atrás
Fico tão feliz por poder compartilhar meus pensamentos... mais feliz ainda por conhecer, através deles, pessoas como você.
Você deve ter lido "A escolha", que realmente está em outro blog, talvez até em mais de um, e aquela teoria do copo meio cheio sou eu, então isso se repete em quase tudo o que escrevo, sempre procurando tirar o lado bom das coisas, porque até nas coisas ruins existe um lado bom. Coisas ruins acontecem, mas você escolhe o que vai fazer parte da sua vida e o que vai ser apenas um aprendizado...
Que bom ter te conhecido por aqui! Espero sempre ter sua companhia.
Beijinhos!
Elo · 697 semanas atrás
Carol 76p · 697 semanas atrás
Momentos ruins servem para nos fazer crescer, como você disse, e os bons servem para lembrar, compartilhar e dar a certeza de que somos felizes.
Super beijos!
MEIRE · 696 semanas atrás
ME IDENTIFIQUEI DEMAIS COM ESSE TEXTO. ESSE VERSO DO VÔ SEMPRE ME TOCOU E PARECE QUE TE TOCOU DA MESMA FORMA...
TB QUERO DEIXAR UM LIVRO BONITO DA MINHA VIDA... COM AVENTURAS, EPISÓDIOS ENGRAÇADOS, MUSICA, DANÇA E UMA CAPA BEM COLORIDA.
BEIJOS MINHA QUERIDA!!!!
VC É ÓTIMA
Carol 76p · 696 semanas atrás
Esse verso do vô é simples e maravilhoso, diz tudo. Adoro!
Que bom que você gostou.
Beijos!!!
andre kovacs · 645 semanas atrás
obrigado por escrever coisas taõ lindas ! meu nome e andre se quiser ser meu amigo no face book
Carol 76p · 645 semanas atrás
Os hungaros realmente têm muitas histórias lindas para contar, não foi fácil o que eles passaram por aqui na época da guerra.
Eu fico muito lisonjeada com sua amizade sim e adoraria saber a história do seu pai.
Mais uma vez, obrigada pelo carinho.
Um grande abraço!
Ps- não te achei no face, mas se quiser, pode me procurar como Carolina Szabadkai.