Amanhã, só amanhã.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Um vazio, uma certa falta de inspiração, falta de algo... De um lugar? De alguém? Talvez, uma amiga pra sair e dar risada, falta de ambientes barulhentos, gargalhadas altas, histórias contadas com mãos, caras e bocas e som alto, programações, festas, churrascos e sons de futebol...

Depois que volto do Brasil sempre passo por um período de melancolia, falta do que tinha lá e não tem aqui e ao mesmo tempo alegria pelas coisas que não tem lá e tem aqui. Um sentimento misto e confuso, um pouco triste, lá no fundo...

Viver na Hungria é realmente bom, eu adoro e me sinto em casa. Vida mais tranquila, as pessoas vivem menos para o trabalho, mais para a vida. Passeios na floresta ou em lagos, caminhadas até a cidade, de mãos dadas, com as crianças andando de bicicleta à nossa frente, sem nenhum medo do trânsito ou sequestradores. Feirinhas no centro da cidade, crianças correndo pela enorme praça, enquanto os pais sentam num café e curtem uma conversa ao fim da tarde... A vida é mais calma. Nesse final de primavera,  começo de verão, todos aproveitam o sol até as 8, 9 horas da noite, delicíam-se com seus raios, que fizeram tanta falta no longo período frio. O bom de termos estações é que sentimos falta do sol, assim como estaremos sentindo falta do frio no grande calor do verão e assim vamos contemplando cada sensação, lembrando de curtir cada momento... Aqui na Hungria, sinto que vivo a vida intensamente, sempre fazendo algo com meu marido e meus filhos, sempre apreciando alguma beleza ou simplesmente sentindo a brisa do fim da tarde, no jardim, pegando cerejas da grande árvore do quintal de casa. Viver aqui é bom.

Mas o rítmo do Brasil ainda está em meu sangue, que pulsa em minhas veias em tom de samba, mpb ou talvez de show de rock... Sinto falta da minha família se reunindo de final de semana e de amigas para encontrar. Bate papo animado, quase que gritado, gargalhadas altas – os hungaros são muito discretos para rir – abraços, nossa família abraça e beija muito... Sinto falta de poder ligar para alguém, de ouvir aventuras e pensar em alternativas para ajudar uma amiga ou prima... Aqui ninguém me conta nada extraordinário, nenhum segredo importantíssimo pra guardar, não me pedem opinião e nem choram no meu ombro. Eu entendo que pela internet não seja tão bom perguntar minha opinião também...

Estou melancólica e sei que isso vai passar, não preciso de ajuda ou pena, sei que logo estarei só enxergando o lado bom de tudo, como de costume, mas, como de costume, tenho que passar por essa “crise de transição”, essa vontade louca de juntar tudo de bom dos dois países, fazer um mapa só meu, onde Sorocaba e Pécs são cidades vizinhas e viver completa.

Certa vez sonhei com isso, eu estava no sítio da minha avó - onde todos os finais de semanas eram simplesmente perfeitos, com primos e primas, tios, tias e avós, muito riso, churrasco, segredos divididos, energia positiva de um para o outro – e depois de curtir o dia, sugeri aos meus primos que dessemos uma voltinha em Pécs, que ficava ao lado. Estávamos prontos para entrar no carro e passear pelas montanhas daqui, depois passar em casa para uma conversa e então, eu acordei... Foi tão real o sentimento de perfeição! Eu tinha tudo a um passo, estava inteira. A vida daqui, a tranquilidade da minha casa aqui e minha família, amigos, sítio, tudo o que me é precioso e ficou lá. Nesse sonho eu não precisei escolher, não tive que deixar nada pra tras. Ao acordar, mesmo com tudo de bom que tenho, mesmo tendo certeza das minhas escolhas, naquele dia, eu chorei.

Chorei como criança que quer ter todos os brinquedos e só pode escolher um. Chorei de teimosia e birra de querer tudo, mesmo sabendo que não posso comprar e que ja estou levando mais que a maioria das crianças. Fiquei de bico com a vida e cruzei os braços para a razão. Um adulto também tem direito de uma birra de vez enquando, uma crise de histeria, mesmo sabendo que não vai ganhar o que se quer, de bater o pé no chão e reclamar mesmo assim: - Quero uma mudança no mapa!

Como a Emília, em “A reforma da natureza”, sonhei que podia tudo, redesenhei meu mundo, coloquei tudo em seu devido lugar e era perfeito. Por que não podia ficar assim? Como uma criança, não quis entender. Não tinha que acordar tão rápido naquele dia.

Mas as lágrimas não adiantaram, como a maioria das birras, como costumo dizer para meus filhos: - Assim você não vai ganhar nada. Não é com choro que se resolve, nem fazendo birra.

E como uma criança na loja de brinquedos, vi que não ia adiantar nada e conformei-me com a minha escolha. A escolha certa, mas que não quer dizer que seja fácil.

Aceitei de volta minha saudade como amiga mais próxima e segui procurando encontrar tudo de bom que me foi oferecido.

Não é uma reclamação, é apenas um desabafo. Porque as vezes posso ser só um pouquinho injusta e ingrata com o que ganhei da vida, principalmente quando a saudade fica assim tão próxima. Só quero agarrar-me à minha companheira, a eterna saudade, um pouquinho e curtir cada itém que me falta, fazer um balanço do que ficou e colocar um pouco para fora em forma de lágrimas silenciosas. Não será um choro alto, nem gritos de socorro, apenas um pouco do sentimento que me excede, transbordando taciturno e discreto, apenas uns pingos para lavar-me antes de seguir em frente, como sempre faço.

Sei que não terei problemas em continuar, eu sempre continuo e o sorriso sempre reaparece, os olhos vermelhos voltam a brilhar branquinhos... mas amanhã, isso é só amanhã.

Comentários (17)

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Ahhh eu sou plena e feliz aqui, mas se esse mapa mudasse eu transbordaria de felicidade, imagina poder ia ali passar o final de semana com minhas tias em Itapetininha, imagina se Itape fosse ali na Belgica... que alegria!
Aiai.. a vida segue minha amiga, é assim mesmo a gente não pode ter tudo e o ideal é ser feliz com oque temos, afinal tem gente que nem isso tem! =)

Beijocas e um excelente final de semana.

PS:Os "meus" hungaros são barulhentos e beijoqueiros exatamente como os brasileiros, as festas do Nagy não devem em nada as festas dos Gomes, muita comida, bebida, musica e falação, depois de anos aqui na Holanda quando chego lá e encontro tudo isso fico até meio zonza, acho lindo ver meu cunhado vindo dar beijo no irmão antes de sair pra balada, um carinho enorme. =)
1 resposta · ativo 669 semanas atrás
Que bom querida!
Pois é, tb amo a Hungria e amo morar aqui... mas essas crisinhas aparecem depois que volto do Brasil, na verdade é saudade da família mesmo. Mas estou bem resolvida com isso e como essa birra aconteceu outro dia, hoje ja estou toda sorridente aqui, só tinha que por pra fora mesmo... rsrsrs
Super beijão querida!
Carol como me identifiquei com seu post... Penso tão igual em relação a tudo isso! Tem dias que estou bem, feliz! Agora, de vez em quando parece que falta algo, bate uma tristeza. Entendo perfeitamente você e nós que moramos fora sempre teremos nossos dias. Não é mesmo?
Sinta-se abraçada por uma brasileira que apresenta os mesmos sentimentos que você.
Amei! De verdade amei seu post, suas palavras.... tão verdadeiras.
Beijos, beijos e até amanhã, pois realmente nada melhor que um dia após o outro.
1 resposta · ativo 669 semanas atrás
Oi Celi!
Hoje ja estou numa boa... hahahaha É birra mesmo, igual criança, mas acho que não tenho que te explicar, é assim... :D
Que bom que você gostou do texto. Sinta-se abraçada de volta!
Super beijo!
Carol, você ainda tem a sorte de ir periodicamente para junto da família. Essas experiências vão te enriquecer e servir de inspiração para projetos futuros.
1 resposta · ativo 669 semanas atrás
Sim Re, tenho muita sorte em todos os sentidos, só estou reclamando um pouco de boca cheia... ahahahha Mas ja passou, não fico muito tempo remoendo mágoas, não gosto de ficar choramingando também. Um pequeno desabafo me caiu bem. Escrever me ajuda a colocar pra fora as coisas, parece que me cura, da dimensão aos sentimentos e ajuda-me a entendê-los. Fora os comentários de vocês, que trazem-me ainda mais ângulos. E essas experiências que tenho são realmente ótimas, intensas, sempre revendo ou sentindo saudade, curtindo as coisas de um lugar e de outro, jamais vivendo na "água morna"... Opa, acho que da um texto novo... ahahaha Beijão querida!
Um trem bala para Pésc!! Eu sei exatamente como você se sente querida, nesta semana tive dias de profunda angústia, e não consigo saber porquê...então consigo lembrar de um sonho com as crianças e rio e conto pro pai me alegrando com esses pequenos momentos. Beijos! Mami.
2 respostas · ativo 669 semanas atrás
É difícil, mas também é intenso. Todos os momentos que passamos são intensos e as crianças tem um rekacionamento muito intenso com vocês, de morar junto, conviver... Não sei se morássemos perto ia ser melhor ou pior, mas sei que é bom, as vezes bate essa melancolia, mas em geral é lindo o que eles sentem por vocês. E para os amigos da escolinha eles não dizem que os avós moram no Brasil, eles dizem que eles também moram no Brasil com vocês, que tem 2 casas, a daqui e a daí... Acho que temos tanta sorte, que esse pouquinho de sofrimento é obrigatório para não sairmos voando, não é?
Beijão! Estamos morrendo de saudades!
Ahh e a idéia do trem bala é ótima! A firma do Zsombor podia construir... ;) ahahah Beijos!
Filha: Voce acabou de descrever todos os sentimentos que tenho em relação a isso. É como naquela revistinha em que o personagem falava "Eu quero estar lá", mas quando chega, ele está aqui e não lá! Quando parto prá Hungria a alegria toma conta de mim, mas quando o tempo passa a saudade bate e me lembro da outra parte que deixei... Assim vai. Hoje por exemplo estou morrendo de saudades de voces. Não tem remédio, é só esperar, esperar e esperar..... Beijos logo nos veremos novamente...
1 resposta · ativo 669 semanas atrás
É papi, não tem jeito, vocês só tem que se cuidar muuuito para aproveitarem muuito as crianças. :)
Te amo!
Beijos!
Ahhh carol...espero que essa dorzinha mista de saudade e desejo de mudar os mapas e distâncias tenah amenizado. Porque com tanto amor, passar, não passa não é?! Sempre haverá saudade enquanto do lado de cá vc tiver pessoas queridas...sempre haverá completude tb ao se sentir tão bem aí. Que o equilíbrio seja mantido e que aviões permitam sempre algumas tréguas.
Bjo pra vc e pra sua famílai linda!
1 resposta · ativo 668 semanas atrás
Obrigada querida!
Pois é, a saudade está sempre comigo, onde quer que eu esteja, ja fiz dela minha amiga e sei que a saudade também só faz parte de pessoas com mita sorte, como eu, que tem tanta gente e lugares para amar. Muito amor na vida faz isso, acaba transbordando de alguma forma, por não caber tudo de uma vez... Mas isso é bom, é muito bom.
Estou melhor sim, depois do desabafo e da minha revolta com a natureza, voltei a ver todo o lado bom e me conformar em ter um pouco de coisa boa de cada vez. :D
Estou na torcida para que façam um trem bala Pécs - Sorocaba e aí quem sabe posso realizar meu sonho... ;)
Super beijos e obrigada pelo comentário lindo.
Ei Carol! Imagino o que você sente! A minha distância da minha terra natal é de apenas 183km e mesmo assim passo por estes momentos de saudades, de avaliar o que é bom e ruim de lá e do lado de cá.
Me emocionei.
um beijo.
1 resposta · ativo 668 semanas atrás
Sim Ana Flávia, acho que não importa a distancia, só o fato de estar longe de algo que gostamos muito... Mas é a vida e hoje em dia está mais e mais internacional, o mundo está ficando pequenininho e ao mesmo tempo tão grande com essas distâncias, não é? Nos resta sermos fortes!
Super beijo e procura a felicidade onde você está, sempre, esse é o segredo.
Amore, esse mapa eh o que eu peço ha mais de 10 anos, e agora que tenho meu pequeno queria ainda mais, queria que ele pudesse conviver com voce todos os dias, para que voce tornasse os dias dele tao especiais como sempre fez com os meus dias... queria que ele pudesse aprontar todos os dias com o Zsombi e o Hunor...queria simplismente voces aqui! Te amo demais....e sinto sua falta todos os dias!
Juliana
1 resposta · ativo 667 semanas atrás
Ah lindinha, agora você que me emocionou...
Pois é esse mapa ta difícil de sair, mas acho que podemos fazer um abaixo assinado para mudanças no mapa, que acha? ahahahah
Te amo muito e também sinto sua falta todos os dias, ainda mais com meu afilhado, que eu queria conhecer mais e mais...
Beijos!

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