Carta para uma adolescente

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018



Querida Carol adolescente,

        Aqui quem te escreve é você mesma, aos 40 anos. Você deve ter me imaginado velha nesse momento, pois nem completou a metade disso ainda, mas posso te garantir que os anos mais felizes da sua vida estão por vir e você se sentirá tão bem aos 40, que não terá o desejo de ser mais nova. Na verdade, você está agora no período mais confuso e difícil da sua vida e é por esse motivo que te escrevo hoje.
        
        Você tem uma vida feliz, com uma família maravilhosa, sem reais problemas financeiros, e tem amigos que irão permanecer até os dias de hoje. Tem pouco do que reclamar, em geral, mas sofre... sofre como todo adolescente.

        Não pense que estou ridicularizando sua dor, você tem todo o direito de sofrer. Eu entendo o seu sofrimento, mesmo compreendendo hoje que poderia ter passado por essa fase de maneira mais leve e agradável, sem tantos medos... tantas lágrimas...

     Suas dores carregam a responsabilidade de escolher o futuro: uma carreira e uma vida toda baseada na faculdade que fará. Não é bem assim, tudo pode ser concertado ou alinhado com o tempo, mas você ainda não sabe disso, não é o que te dizem quando te dão os formulários para preencher e você tem uma ideia vaga de onde colocar o “x” na inscrição para o vestibular. Depois te contam histórias heroicas de quem estudou e estudou, abrindo mão de tudo o que te faz feliz, o que há de melhor nessa época da vida: como a história daquela menina que passou em primeiro lugar nas melhores faculdades e garantiu uma carreira de ouro, pois já saíra empregada da superfaculdade que fez... A menina não namora, não vai à discoteca e não fica rindo com os amigos enquanto o professor de história explica algo, na décima aula do dia, e você não está prestando atenção... “Como você quer ser alguém assim?” é a frase que ecoa na sua consciência pesada. Calma! Não é bem assim!

        É importante estudar para passar no vestibular, mas é importante rir com os amigos também: o estudo vai te levar a uma faculdade (acredite, seu esforço será recompensado); a diversão, no entanto, será o motivo para lembrar com carinho desse período, e alguns desses amigos irão te acompanhar ao longo de sua vida, de perto ou de longe, fielmente. Esses amigos te receberão com o mesmo sorriso, apesar de vocês passarem anos sem se ver, serão pilares constantes, por causa das risadas naquela aula de história. Tente se concentrar na aula, mas não se sinta culpada pelas risadas ocasionais.

        E o amor? Eu sei que você sofre absurdamente por pensar que pode não encontrar a pessoa certa, pode não existir a pessoa certa... Seu maior desejo é ter uma vida feliz em família e você se apavora em pensar que isso pode não acontecer. Você sai todos os finais de semana e encontra com pessoas que você tem certeza que não servem para passar a vida ao seu lado e o número de decepções só aumenta!

        Sim, é verdade, é desanimador ter tantas decepções, a estatística não ajuda. Porém, é preciso só uma vez, de repente, um encontro, e você saberá que não precisava ter chorado por isso... Estatisticamente, o amor não funciona.

       Cada vez que você comete um erro, te dizem que você é bem grandinha e deveria saber se comportar, te chamam de adulta, mas se você quer tomar uma decisão, é chamada de criança... Seus pais te dizem o que fazer e esperam que você faça certo quando não dizem... E um dia você vai entender o por quê disso estar certo como é. Você será mãe de dois adolescentes e terá que fazer o mesmo, para o bem deles. Dará risada secretamente, quando se vir na exata posição de seus pais e saberá como seus filhos não entendem isso no momento.

        Você quer saber quem você é, o que fará e pra onde irá, pois há tantas possibilidades a sua frente que parece não haver nenhuma claramente certa. 

        É tão difícil ser adulta e criança ao mesmo tempo!
        
        É tão difícil lutar por um futuro que você não sabe se quer!

        É tão difícil saber que sua vida amorosa pode falhar!

        É tão difícil... Eu sei... É difícil...

       Com essa carta eu queria apenas evitar tantas lágrimas e dizer que: tudo vai dar certo!

         Não chore por não saber o caminho, não se desespere. Dê um passo de cada vez e chegará onde quer, e se estiver no caminho errado, voltaremos alguns passos e seguiremos com mais certeza. Não se preocupe, nada é tão decisivo como você imagina agora.

       Não chore por quem não te dá valor. Hei! Essa não é a pessoa certa! Quando for, essa pessoa saberá seu valor e lutará por você, da mesma forma que você luta por ela.

       Você tem todo o direito de chorar, porque não é uma fase fácil. Hoje vejo como foi difícil e ainda tenho pesadelos com provas de surpresa, desamores e falta de saber o que eu quero... Mas tudo vai ficar bem. Chore se precisar aliviar seu coração, afinal, minha compaixão com os desafios dos meus filhos hoje, vem das dores que eu passei nessa época, mas chore menos, sabendo que tudo vai dar certo. Aproveite a leveza de poder passar a tarde escrevendo diários, falando ao telefone ou pessoalmente com os amigos da natação, de ter tempo pra tudo isso e ainda para estudar (sem enlouquecer, como a menina que passou em tudo. Em uma das versões que me contaram, ela achava que tomava chá com Camões – isso claramente está errado), ria até doer sua barriga (isso acontece menos hoje em dia, tudo é mais calmo, você chora menos, mas ri com menor intensidade também, ninguém ri como um adolescente), ouça rock alto, sem ligar para o que os vizinhos pensam e aproveite o fato de que você é um pouco mais egoísta nessa época (tem suas vantagens e está na medida certa). Aproveite seu dom de saber ouvir as pessoas e tente se abrir um pouquinho mais sobre você também (com pessoas de confiança, que você sabe que te darão apoio), pois ninguém desconfia dessa tempestade de incertezas na sua cabecinha... Viva com mais leveza!

      Segue sem medo, que seu futuro é brilhante! Daqui uns anos, você estará exatamente onde sempre quis.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...