Querida Carol adolescente,
Aqui quem te escreve é você mesma, aos 40 anos. Você deve
ter me imaginado velha nesse momento, pois nem completou a metade disso ainda,
mas posso te garantir que os anos mais felizes da sua vida estão por vir e você
se sentirá tão bem aos 40, que não terá o desejo de ser mais nova. Na verdade,
você está agora no período mais confuso e difícil da sua vida e é por esse
motivo que te escrevo hoje.
Você tem uma vida feliz, com uma família maravilhosa, sem reais
problemas financeiros, e tem amigos que irão permanecer até os dias de hoje. Tem
pouco do que reclamar, em geral, mas sofre... sofre como todo adolescente.
Não pense que estou ridicularizando sua dor, você tem todo o
direito de sofrer. Eu entendo o seu sofrimento, mesmo compreendendo hoje que
poderia ter passado por essa fase de maneira mais leve e agradável, sem tantos
medos... tantas lágrimas...
Suas dores carregam a responsabilidade de escolher o futuro:
uma carreira e uma vida toda baseada na faculdade que fará. Não é bem assim,
tudo pode ser concertado ou alinhado com o tempo, mas você ainda não sabe disso, não é o que te dizem quando te dão os formulários para preencher e você tem
uma ideia vaga de onde colocar o “x” na inscrição para o vestibular. Depois te
contam histórias heroicas de quem estudou e estudou, abrindo mão de tudo o que
te faz feliz, o que há de melhor nessa época da vida: como a história daquela
menina que passou em primeiro lugar nas melhores faculdades e garantiu uma
carreira de ouro, pois já saíra empregada da superfaculdade que fez... A menina
não namora, não vai à discoteca e não fica rindo com os amigos
enquanto o professor de história explica algo, na décima aula do dia, e você
não está prestando atenção... “Como você quer ser alguém assim?” é a frase que
ecoa na sua consciência pesada. Calma! Não é bem assim!
É importante estudar para passar no vestibular, mas é
importante rir com os amigos também: o estudo vai te levar a uma faculdade (acredite,
seu esforço será recompensado); a diversão, no entanto, será o motivo para
lembrar com carinho desse período, e alguns desses amigos irão te acompanhar ao
longo de sua vida, de perto ou de longe, fielmente. Esses amigos te receberão
com o mesmo sorriso, apesar de vocês passarem anos sem se ver, serão pilares
constantes, por causa das risadas naquela aula de história. Tente se concentrar
na aula, mas não se sinta culpada pelas risadas ocasionais.
E o amor? Eu sei que você sofre absurdamente por pensar que
pode não encontrar a pessoa certa, pode não existir a pessoa certa... Seu maior
desejo é ter uma vida feliz em família e você se apavora em pensar que isso
pode não acontecer. Você sai todos os finais de semana e encontra com pessoas
que você tem certeza que não servem para passar a vida ao seu lado e o número
de decepções só aumenta!
Sim, é verdade, é desanimador ter tantas decepções, a
estatística não ajuda. Porém, é preciso só uma vez, de repente, um encontro, e
você saberá que não precisava ter chorado por isso... Estatisticamente, o amor
não funciona.
Cada vez que você comete um erro, te dizem que você é bem
grandinha e deveria saber se comportar, te chamam de adulta, mas se você quer
tomar uma decisão, é chamada de criança... Seus pais te dizem o que fazer e
esperam que você faça certo quando não dizem... E um dia você vai entender o por
quê disso estar certo como é. Você será mãe de dois adolescentes e terá que
fazer o mesmo, para o bem deles. Dará risada secretamente, quando se vir na
exata posição de seus pais e saberá como seus filhos não entendem isso no
momento.
Você quer saber quem você é, o que fará e pra onde irá, pois
há tantas possibilidades a sua frente que parece não haver nenhuma claramente
certa.
É tão difícil ser adulta e criança ao mesmo tempo!
É tão difícil lutar por um futuro que você não sabe se quer!
É tão difícil saber que sua vida amorosa pode falhar!
É tão difícil... Eu sei... É difícil...
Com essa carta eu queria apenas evitar tantas lágrimas e
dizer que: tudo vai dar certo!
Não chore por não saber o caminho, não se desespere. Dê um
passo de cada vez e chegará onde quer, e se estiver no caminho errado,
voltaremos alguns passos e seguiremos com mais certeza. Não se preocupe, nada é
tão decisivo como você imagina agora.
Não chore por quem não te dá valor. Hei! Essa não é a pessoa
certa! Quando for, essa pessoa saberá seu valor e lutará por você, da mesma
forma que você luta por ela.
Você tem todo o direito de chorar, porque não é uma fase
fácil. Hoje vejo como foi difícil e ainda tenho pesadelos com provas de
surpresa, desamores e falta de saber o que eu quero... Mas tudo vai ficar bem. Chore
se precisar aliviar seu coração, afinal, minha compaixão com os desafios dos
meus filhos hoje, vem das dores que eu passei nessa época, mas chore menos,
sabendo que tudo vai dar certo. Aproveite a leveza de poder passar a tarde
escrevendo diários, falando ao telefone ou pessoalmente com os amigos da
natação, de ter tempo pra tudo isso e ainda para estudar (sem enlouquecer, como
a menina que passou em tudo. Em uma das versões que me contaram, ela achava que
tomava chá com Camões – isso claramente está errado), ria até doer sua barriga
(isso acontece menos hoje em dia, tudo é mais calmo, você chora menos, mas ri
com menor intensidade também, ninguém ri como um adolescente), ouça rock alto,
sem ligar para o que os vizinhos pensam e aproveite o fato de que você é um
pouco mais egoísta nessa época (tem suas vantagens e está na medida certa).
Aproveite seu dom de saber ouvir as pessoas e tente se abrir um pouquinho mais
sobre você também (com pessoas de confiança, que você sabe que te darão apoio),
pois ninguém desconfia dessa tempestade de incertezas na sua cabecinha... Viva
com mais leveza!
Segue sem medo, que seu futuro é brilhante! Daqui uns anos,
você estará exatamente onde sempre quis.