Se eu tivesse mais alma...

terça-feira, 1 de outubro de 2019



Pegamos uma gripe daquelas!

As crianças não costumam ficar doentes, são fortes e passam anos sem faltar uma vez na escola por adoecerem, porém, na sexta-feira retrasada, Zsombi ficou em casa, quase com uma febre - o que pra ele é um indicativo de que o vírus foi forte. Não demorou muito para que Zsombor sentisse uma dor de garganta, devidamente ignorada, emendando com uma festa ao relento, comendo “pörkölt” apimentado, em volta da fogueira na casa do Matyi.

Resultado: uma semana de gripe para nós dois.

Tirando a dor no corpo e a sensação constante de cansaço, nos revezando em fazer chá com mel um para o outro, foi a melhor doença que já passei... Passamos dias assistindo filmes e séries, abraçados e cercados por lencinhos de papéis e copos, num regime forçado de sopa e refeições fáceis de se preparar, conversando e curtindo a melhor companhia do mundo... Uma semana doentes, mas completos, sem intervalos.

Um dos assuntos da festa no final de semana, ficou na minha cabeça, o qual um de nossos amigos questionou sobre a vantagem de ficar a vida toda com uma pessoa só, apoiado por outro, que acha um absurdo a “mania de querer apropriar-se de alguém”. “Por que as pessoas querem ser donas uma das outras?”

Na hora não me veio a resposta, mesmo porque eu não queria convencê-los de nada, cada uma vive como bem entender... Mas a questão ficou: como explicar o por quê de me achar tão satisfeita com uma pessoa e estar satisfeita com o fato de “ser dona de alguém” e “ter um dono”, expressando da maneira em que eles colocaram.

Bem, o fato é que eles estão vendo do ponto de vista inverso, o Zsombor não se apossou de mim, eu entreguei minha vida e minha alma a ele, de livre e espontânea vontade e, parafraseando Djavan, “se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria”, não me faz falta mais ninguém, porque quanto mais de mim eu tenho, mais eu entrego a mesma pessoa: Zsombor. E recebo o mesmo dele, na certeza de ser completa nessa confusão de corpos e almas trocadas.

Não se trata de eu ser uma metade sem um homem por perto, porque eu já era inteira, e ele também... O caso aqui é eu ter me doado inteira e recebido ele todo, numa confiança e aliança, que nenhum anel pode traduzir... Não é papel assinado, moradia comum ou promessa de fidelidade que nos mantém exclusivos um do outro, é a total entrega, sincera e exclusiva, que nos faz melhores amigos, companheiros, almas gêmeas...

Vivemos nessa confusão de não saber onde eu acabo e ele começa. Sabemos tudo um do outro e isso é tão natural! Não é nada combinado ou exigido, mas sinto que poderia até trocar de lugar com ele por um dia no seu trabalho e saberia exatamente onde ele parou, ele saberia escrever meu livro, não porque pensa exatamente como eu, mas porque saberia exatamente como eu penso e sinto. Somos essa mistura de dois inteiros, num universo independente.

Brigas? Claro, muitas! Faz parte do trabalho mútuo e a vida não é feita só de momentos lindos. Fico brava até comigo mesma, por que não ficaria com ele, com ou sem um bom motivo? Esse é um bom exemplo, essa mistura carrega bons e maus momentos. Ele sou eu, é minha consciência, faz parte de todas as minhas decisões, meus erros e acertos, vitórias e derrotas, nas horas de festa e também na gripe insistente... Não há pedacinho da alma que sobre para desperdiçar fora disso, simplesmente somos!

E quase 20 anos depois do nosso primeiro encontro, a sensação ainda é a de ter encontrado o que eu procurava, sem nenhum motivo para continuar a olhar por volta, eu achei! O sentimento se intensifica pela certeza de um futuro juntos, na saúde e na doença, venha o que vier, sempre ao seu lado, sempre completamente feliz.

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