“Ela queria estar feliz e já se sentia assim.” Diz o livro “A Abadia de Northanger”, de Jane Austen, ao descrever a chegada de sua personagem principal, Catherine, ao seu destino.
Tive que parar meus olhos nessa frase, ler e reler, pois a
atitude me foi tão familiar!
Quantas vezes cheguei a um lugar decidida a amar, a ser
feliz ali? Muitas e muitas vezes, para não dizer que foram absolutamente
todas...
Foi assim que cheguei à Hungria da primeira vez,
maravilhada, procurando as diferenças para que pudesse aprender e as
semelhanças para que pudesse me agarrar; foi assim quando me mudei da pequena
cidade húngara de Pécs, uma verdadeira caixinha de jóias, para a capital
estrondosa e exuberante, cheia de vida, de Budapeste; foi assim quando morei no
lago Balaton, cheio de festa no verão, absolutamente deserto no inverno...
Ser feliz depende de muitos fatores, depende do seu
equilíbrio emocional, das pessoas que te rodeiam e seu bem estar, do andamento
dos seus planos... e depende muito, muito mesmo do seu desejo de simplesmente
sentir-se assim.
Pelas descrições acima você pode pensar: mas qual a
dificuldade de ter se mudado para esses lugares com descrições absolutamente
perfeitas?
Pra começar, as descrições já são frutos da maneira que eu quis
enxergar, não sei dizer de outra forma, porém, já ouvi de outras pessoas com
destinos semelhantes aos meus, algo totalmente oposto. Não tiro a razão delas e
também não digo que elas não enxergaram direito, apenas focaram em outras
coisas. Alguns focam na dificuldade de viver longe da família e amigos, longe
de tudo o que conhecia até hoje como lar e isso é completamente compreensível,
pois tem quem não consiga apagar essa impressão, nem depois de viver mais tempo
no lugar novo que no de origem; outros focam na dificuldade de se adaptar a uma
nova cultura, estranham diferentes pontos de vista, se ofendem com diferentes opiniões
e é realmente muito difícil entender outros conceitos; outros reclamam do
clima, da falta do sol ou do exagero dele... Enfim, tudo está lá misturado,
inegavelmente, para todos.
Não vou dizer que nunca passei por nada desse tipo, que
nunca critiquei algo ou simplesmente não gostei, no entanto, meu esforço maior
foi sempre para tentar assimilar e entender.
A vida é complicada o suficiente para te frustrar de
qualquer maneira, mesmo com tudo dando certo. É frustrante não viver com a
minha família brasileira, o grupo familiar mais exemplar e incrível que eu já
conheci, incluindo seus pequeninos defeitos (todo mundo tem algum), permanece
unida, forte e barulhenta, como eu amo... É frustrante você ser a única que não
participa das reuniões entre amigos... É frustrante ter que começar do zero num
novo lugar, por mais lindo que seja...
Mas aí é que está, se eu tivesse minha família e amigos por
perto, não teria as outras oportunidades. Então por que não tentar ver o que
foi conquistado ao invés de chorar pelo que foi perdido?
Tenho pequenos escorregões, confesso. Afinal, tenho que por
pra fora a tristeza de não poder viajar pra casa e rever todo mundo depois de 2
anos longe... Nem é bom ignorar um tropeção causado pela pandemia (muitos estão
vivendo capítulos até piores nesse momento nada fácil) e o melhor a se fazer é
lavar a alma com um bom choro. Mas de alma lavada e situação imposta, o que me
resta é continuar insistindo na vontade de ser feliz.
Assim sou feliz: porque quero!
Sou feliz apesar da distância, apesar da saudade, apesar das oportunidades perdidas, apesar das tristezas externas... Sou feliz porque vejo meus filhos saudáveis, porque sigo
amando meu marido, meu eterno príncipe... Sou feliz porque meu marido me abraça
depois de dois meses de isolamento e diz: É tão bom ser casado com minha melhor
amiga!; Sou feliz porque fui capaz de fazer pão e pizza sozinha, com fermento
caseiro; sou feliz pelas coisas minúsculas dos nossos dias, porque procuro por
elas, sigo em busca da paz e amor eternos. Faço e planejo tudo com a intenção
da felicidade e, em troca, já me sinto assim.
Nossa história vai sendo escrita com todo tipo de sentimento
misturado, com fatalidades e momentos afortunados, mas nós escolhemos quais deles serão grifados. É feliz quem sabe contar sua história com bom humor, leveza e um toque de fantasia.