Faz algum tempo que percebi que sou boa para escrever palavras e péssima para emití-las sonoramente. Coisa desagradável, já que a maior prova disso foi meu discurso de casamento, onde não consegui expressar absolutamente nada dos grandes textos preparados na minha cabeça, ficou totalmente bobo. De alguma forma, meus melhores discursos saem pelos dedos e não pela boca.
Parei pra pensar em como funciono nesse sentido e é bem interessante (ou diria estranho?). Eu sento na frente do computador sem nada montado na cabeça, sei apenas o tema e as vezes nem isso, coloco meus dedos no teclado e eles começam a falar. Saem as frases, saem as teorias, os sonhos e eu sempre me surpreendo com o final. Meus dedos falam muito bem.
Na adolecência descobri esse poder dos dedos falantes. Sempre que estava brava ou não entendia algo, começava a escrever e escrevia até chegar a uma compreenção sobre o assunto. Incrível como era levada a pensamentos claros e diretos, coisas escondidas em mim, que se revelavam a cada letra. Cheguei a me reconciliar com uma amiga através de carta, já que as palavras não convenciam e a carta o fez muito bem.
Acho que quando escrevo, passo pra outra dimensão, consigo me ver de fora, analisar. Já com palavras... Elas travam na minha garganta. Os pensamentos são longos, complexos, não passam facilmente para fora, se apertam na reta final, perdem pedaços e saem desorganizados, sem sentido e falhos em forma de som. E qual a força de uma palavra falada, se não posso descrever o compasso do meu coração enquanto as falo? Meus dedos descrevem muito bem o que acontece além daquela frase dita, eles podem revelar mãos trêmulas e a lágrima prestes a cair, aquela que ninguém viu quando falei.
Algumas vezes as palavras faladas querem sair em forma de lágrimas, essas eu nunca deixo escapar. Coisa tonta, eu sei, antes saissem corretamente, mostrando o que realmente penso, seguidas de lágrimas, do que o silêncio que sempre deixo sorrindo. Abro a boca, elas não vem por ali, sinto que vem um choro de emoção, então fecho tudo, respiro fundo, engulo o choro e o elogio, passando muitas vezes por insensível. É que novamente são grandes, difíceis de montar com a boca. São feitas de suspiros, agradecimentos e declarações, coisas indomáveis, que tento passar com um sorriso ao invés de lágrimas mal explicadas.
Quando vim para a Hungria pela primeira vez, fiquei quatro meses na casa da minha sogra, como visita. Uma situação estranha, eu a conheci ja me instalando em sua casa... Ela sempre foi muito educada, mas eu não sabia o que realmente achava. Um belo dia ela me disse:
-Estou muito feliz por você ter ficado esse tempo com a gente.
Meu coração disparou, tive vontade de chorar, falar pra ela que estava muito feliz por isso e que tinha adorado a casa, ela, a Hungria e tudo mais... Sabe o que eu fiz? Absoltamente nada. Sorri, depois baixei a cabeça e continuei fazendo o almoço. Ela perguntou se eu tinha entendido e eu consegui balançar minha cabeça, sorrindo, nessa capacidade comunicativa imensa que me cabe. Até hoje me sinto mal por isso, mas não sai, não consigo. Trava na garganta, vem as lágrimas, respiro fundo e fica tudo lá dentro.
Não que eu seja sempre insensível a ponto de não dizer nada, esse foi o meu ápice, mas nunca sai como deveria, saem frases bobas e rasas, nada parecido com o que acontece por dentro.
Agora, o mais legal de tudo isso é discutir comigo. Numa discussão eu não consigo conter as palavras, elas saem, mas as lágrimas também... Instinto ridículo esse que eu tenho de começar um bate-boca já aos prantos. Mania horrorosa dessas palavras sairem pelo lugar errado, pelos olhos.
Eu sei melhor calar, as vezes isso também é preciso. Sei ouvir muito bem e de alguma forma dizer aquela palavra que é preciso para o conforto. Sei fazer alguém sorrir, mesmo que chegue chorando. Esse é mais meu dom, brincar com os sentimentos, transformar num sorriso. Assim como transformo minhas palavras emocionantes em um simples sorriso, também sei transformar o choro de outra pessoa no mesmo. Não sou boa em dizer palavras, mas nem sempre elas são precisas. Meu silêncio as vezes cai bem. E quando são precisas... bom, achei um jeito de dizer, aqui, nesse espacinho, onde me revelo e mostro o que acontece por dentro de mim, por tras do sorriso e do aceno com a cabeça. Aqui já pude, em meio ano, dizer mais que todas as palavras que falei na minha vida. Meus dedos tem finalmente um cantinho para se revelarem, para dizerem o que realmente importa.
Eu sou assim, falo pelos dedos, onde se encontram meus melhores argumentos. Por isso, se você um dia me disser algo lindo, estiver esperando uma resposta e só ganhar um sorriso, acredite, é porque as palavras eram grandes demais para serem pronunciadas e acabaram ficando pelas mãos.
Miriam · 701 semanas atrás
Zsombor · 701 semanas atrás
Finalmente Voce tambem sabe claramente isso. Nao por mal, mesmo, nada por mal, mas eu percebi isso em Voce nos primeiros encontros ja :) e achei linda!!!!
É bem engracado que voce esta se enchergando por fora tao bem assim... é um dom incrivel, acredite, é incrivel!
Te amo, demais, adorei
Bjs, Zs
Natália Piassentini · 701 semanas atrás
Um dia aprendo...rs
Beijão
Carol Meoli · 701 semanas atrás
Beijos
coisasdabrih 1p · 701 semanas atrás
Lembro que quando eu morava com minha mãe e as coisas não estavam indo bem, eu escrevia uma carta para ela tentando dizer o que sentia. Algumas vezes funcionava, outras ela me obrigava a obedcer o que ela achava que era certo.
Beijokas enormes
Brih
Meu Livro Rosa Pink http://meulivrorosa.blogspot.com
Carol 76p · 701 semanas atrás
Fernando
Carol, sei bem o que você sente, mas queria eu poder ao menos que os dedos falassem, enquanto estou montando mentalmente o que queria falar/escrever vai tudo muito bem, tenho até facilidade pra organizar as idéias, mas é só tentar por pra fora que a coisa complica, vira uma bagunça, parece um prato duralex quebrado, um monte de pedaço e não sei qual vai onde, isso me atrapalha, e por vezes até afasta as pessoas, mas não consigo quebrar essas barreiras, e olha que já tentei, quem sabe algum dia. Abraço.
Juliana · 701 semanas atrás
Aaahhh muito lindo o texto... você é exatamente isso mesmo... rsrs
Mil beijos querida!
Yohana Sanfer · 701 semanas atrás
E esse desfecho? Belíssimo, Carol!
Sabe, a cada dia admiro mais a sua transparência e talento com as palavras!
Tanta gente comenta em meu blog que esta esperando meu livro....eu fico na espera do seu!
De coração...bjs, Yohana.
Yohana Sanfer · 701 semanas atrás
bjssss
Yohana Sanfer · 701 semanas atrás
Dirceu · 701 semanas atrás
Yasmin · 701 semanas atrás
marcela · 701 semanas atrás
bom quero saber como vamos fazer postagem que você me ofereceu sobre os bastidores do meu blog . também queria saber se pode ser como uma entrevista vc me envia as perguntas pro Email eu respondo tudo direitinho ai você posta o que acha ? meu Email : marcelatorres1@live.com
estarei aguardando sua resposta bjos
Renata Marques · 701 semanas atrás
Eloa Iwamoto · 701 semanas atrás
Beatriz Zogaib · 701 semanas atrás
Então, anote aí: www.maedacabecaaospes.com.br
E, olha, eu também tenho dedos falantes! E as palavras também saem pelos olhos em discussões... (adorei esta!). Mas cada um tem seu jeito não é? E olha que sou jornalista e deveria sim falar bem, me expressar bem. Mas...
Você tem um texto ótimo, ops, ótimos dedinhos!
GRande beijo
BIA
Mãe da Cabeça aos Pés
MEIRE · 701 semanas atrás
Lindo texto....vc tem um dom maravilhoso...Parabéns!!
beijos, beijos...
Celi · 701 semanas atrás
ronizealine 24p · 700 semanas atrás
Ronize Aline
odonodalua.ronizealine.eti.br
Rosana · 698 semanas atrás
Fico mesmo imaginando as cenas heheh também consigo me expressar melhor escrevendo do que falando e imagina traduzir os pensamentos para o hungaro kkkk que desafio , ainda mais pra mim que adoro filosofar jajjj nem sei se um dia meu hungaro chegara nesse nivel ... e o portugues se nao fossem as leituras e escritas já estaria enferrujado ...
:-) bjs o blog esta cada vez melhor !
Fernanda · 698 semanas atrás
Os seus textos são sempre lindos e sempre nos leva a refletir , amei.
Bom mesmo sem nos conhecer pessoalmente já adoro vc e os seus textos.
bjs
Fernanda