O Sol vai caindo no horizonte. Daqui do parque, no meio das montanhas, eu só vejo sua luz extremamente amarela, banhando toda paisagem de dourado, tornando visíveis teias de aranhas e pequenos flocos de poeira, que pairam sorrateiros pelo ar. As árvores brilham, disfarçando seus galhos e troncos opacos e do escorregador eu só vejo a silhueta escura. A paisagem lembra algum filme de fantasia, onde vivem duendes e animais mágicos, como um unicórnio, que combinaria muito aqui se saísse do meio da floresta que beira o parque. A Hungria e seu ar de magia, que de tempos em tempos nos remetem a tempos antigos, nos traz pessoas queridas, nos leva a lugares mágicos... Será que todos enxergam isso? Será que alguém, além de mim, olha além da paisagem concreta e viaja no tempo?
Gritos de crianças, compassados e no rítmo do parque, que não podia ter outra música como tema. Típica tarde de terça-feira na Hungria. Sim, terça-feira! Todo dia é dia de passear com os filhos após o trabalho, ir a parques ou cafés no centro da cidade, que possui uma área grande com praças para que as crianças possam correr, enquanto os pais conversam e esquecem da vida real e do trabalho, pelo menos eu esqueço, eu uso essa máquina do tempo que descobri aqui. Mas nós estamos hoje na natureza, finalzinho de verão, últimos raios quentes muito bem aproveitados.
Para quem não entende o que tem de bom em congelar durante seis meses e depois torrar num calor de quarenta graus no meio do verão, é essa a beleza. Você sabe que vem o frio sabe que aquele brilho do sol vai se atenuar em breve, você olha pra ele todos os dias como se fosse o último, já com saudades e o abraça todos os dias antes de sua partida. Você precisa aproveitar o clima, o sol, os sons, a vida...
E justamente esse frio que estamos evitando e tentando adiar é que nos faz lembrar de comtemplar o que temos agora, esse sol, os filhos... Nos faz lembrar de sair da frente da tv, do mundo de ficção, e viver o mundo real, com seus cheiros e sons e magia implícita, ver pessoas, personagens reais da vida.
Amo essa ânsia de viver de fim de verão! É muito bom ser lembrada de que tudo tem um fim e que um período novo começa. No Brasil eu vivia tudo como se fosse um longo filme, aqui vivo em curta metragens de estações, cada uma com seu cenário especial e uma história única, que deve ser vivida intensamente, aproveitada antes que chegue a seu fim. Amo ser lembrada que preciso sair e ver as coisas acontecendo na vida real e não tudo pela tela do computador. Amo poder já olhar com saudades para o sol quente e ser obrigada a declarar meu amor a ele cada vez que ele volta pela manhã.
E aqui vai meu conselho para quem tem o sol quente todos os dias aí no Brasil: Lembre-se de olhar para ele, de sair prestigiá-lo, ele está sempre lá, amanhã também estará, mas um dia o filme acaba e o conteúdo é você quem faz. Carpe diem!