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Imediatamente após levar o Zsombi, meu filho mais velho, até a escolinha, dar café da manhã para o Hunor, meu caçula, limpar o banheiro (que não podia esperar de jeito nenhum, levando em consideração que em casa moram três homens e isso é trabalho indispensável de grande frequência), passar aspirador nos quartos, consertar o aspirador (que resolveu encrencar justo hoje, só pra me desafiar), terminar de limpar os quartos, lavar a roupa, a louça, o almoço, correr buscar o Zsombi da escolinha, estender a roupa, guardar as que já estavam secas, dar café da tarde para as crianças, passar pano no resto da casa e finalmente comer algo... Claro que em todo meio tempo umas paradas obrigatórias para dar água para o Hunor, ver e elogiar o foguete de Lego, pegar um brinquedo do alto para o Zsombi, separar a briga e mais mil coisas que podem aparecer de cinco em cinco minutos, ou menos...
Lá pelas seis da tarde, quando Zsombor, meu marido, chegou do trabalho é que pude sentar-me na esperança de escrever algo.
Confesso que a inspiração já não era a mesma de quando acordei cheia de energia e idéias frescas, muitas delas se perderam durante o dia, os afazeres foram passando por cima de cada uma como se fosse uma avalanche. Porém fiz uma forcinha para guardar um pouquinho, uma migalha que fosse da vontade de escrever, onde a avalanche não pudesse causar danos... o cantinho da teimosia.
Apesar do cansaço ao final do dia, fazer o serviço de casa não é uma coisa que eu ache ruim. Ok, não sou louca por limpar banheiro... mas em geral, adoro cuidar da minha casa e dar a ela uma aparência bonita e aconchegante, até mesmo me arriscar com umas idéias de decoração.
Os meninos são a melhor parte de se trabalhar em casa. Adoro ter os dois a minha volta brincando e bagunçando, ouvindo as gargalhadas e suas idéias puras sobre como funcionam as coisas. Gosto de participar, estar junto e ver cada milimetro que eles crescem.
Tanta luta para que as mulheres conseguissem sair de casa e fazerem o que realmente gostam, se sentirem completas e realizadas... Mas posso eu sentir-me realizada fazendo as tarefas de casa e cuidando de meus filhos, como antes eram obrigadas as mulheres, sem muita escolha? Seria tal crime que eu gostasse e almejasse justamente isso?
Temos a liberdade da escolha em nossas mãos, qualquer escolha é aceitável, motorista de caminhão, ou secretária, empregada doméstica, ou empresária... mas ficar em casa... hmmm... nunca é bem visto.
- Carol, então o que você faz?
- Cuido da minha família e da casa.
- Ah, que gostoso ficar em casa e não fazer nada!- Seguido de um sorrisinho malicioso do tipo "Que vida fácil a sua!", amistosamente, mas é preciso comentar algo sobre uma pessoa que ousa escolher um caminho tão extremo.
Claro que adoro o que faço e realmente acho bom ficar em casa, assim como uma boa professora, que adora o que faz, acha bom estar em uma sala de aula. Talvez se essa mesma professora ficasse em casa, fazendo toda a rotina que eu gosto de fazer, enlouquecesse.
Por que é tão diferente limpar a minha própria casa, de limpar a casa de outra pessoa?
Ou se eu educasse outras crianças, que não as minhas, com certeza teria mais prestígio:
- Carol, então o que voce faz?
- Eu educo crianças em uma escola (o que é bem diferente de se fazer em casa) e recebo um bom dinheiro por isso (também muito importante). - Essa é a típica resposta aceitável e que evita certas "perguntas pegadinhas" como E o que você faz com tanto tempo livre?.
No meu caso fica essa última interrogação, como se estar em casa significasse ter muito, ou todo o tempo do mundo, livre.
As vezes me perguntam o que eu fiz durante o dia e eu simplesmente não sei a resposta. Meu dia se perdeu em algum lugar entre esquentar o leite de manhã e pendurar a meia no varal ao fim da tarde...
Desde que fiquei grávida do Zsombi tenho tido um pouco de compreensão nesse caso, mas isso porque aqui na Hungria é comum as mães ficarem com os filhos em casa até os três anos de idade, elas recebem pra isso e só voltam antes se quiserem muito trabalhar. Depois emendei com o Hunor, quando o Zsombi tinha dois anos e quase me esqueci de como eram os olhares reprovadores para "donas de casa".
Agora que o Hunor está com dois anos e meio, meu tempo está se esgotando e as perguntas começam:
- O que vai fazer depois que o Hunor entrar na escolinha?
- Hmmm, realmente não sei. Acho que vou continuar essa minha vida fácil e talvez eu consiga até sentar-me e tomar um chá, para o assombro das pessoas que trabalham.
Sinceramente eu admiro muito aquelas mulheres que trabalham fora, cuidam da casa, do marido, das crianças e ainda têm energia para ser sexy a noite. Admiro mais ainda as que são obrigadas a fazer tudo isso. Eu infelizmente não sou dessas "super mulheres" e já que meu marido garante minhas tentativas não remuneradas, como essa agora, prefiro ter a certeza de que meus filhos estão bem, que serei capaz de estar sorrindo assim que ele chegue em casa e fazer do nosso lar o refúgio para a felicidade de todos nós.
Não trabalho por dinheiro ou posição social. No final meu pagamento, mesmo que demorado, me fará a pessoa mais feliz e orgulhosa do mundo. Aí talvez a minha resposta mude:
-Eu não faço nada, apenas garanto que eles façam o tudo o que sonharem.
COMENTÁRIOS AQUI!:
- Carol..Amei!!!!!!!!!!!!! Parece que vc escreveu sobre mim também, já que sou solidária a essa vida de dona de casa - com muito orgulho - que levo aqui no Brasil... Vc é ótima nisso! Continue, continue! Adoro seus textos....são muito bons e reais! Grande beijo Da sua prima Mariana
- Lindooooo!!! Adorei o texto, é exatamente como me senti durante muito tempo. Mas hoje tenho pena de quem não teve tempo para educar os próprios filhos. E sinto orgulho de ter tido a honra de educar as duas pessoas mais maravilhosas que conheci. Beijos!!! Mami
- Carol arrosou.... As pessoas tem essa visao mesmo de que quem fica em casa é a toa.... mas masndou ver amiei.... continue escrevendo.....
- Lindo texto Carol! Lindo e verdadeiro...penso que as pessoas, na falta de melhor entretenimento, divertem-se julgando e condenado a vida alheia. Analise minha história: desde meus dezenove anos assumi a responsabilidade de cuidar de uma familia e de uma casa grande, sozinha. Com vinte e um anos eu tinha dois filhos, marido, muitos comodos sujos, roupas para lavar e comida por fazer...paralelamente a isso completei dois cursos universitários e trabalhei fora tanto por gostar quanto por precisar (não necessariamente nessa ordem...). Hoje estou para completar quarenta e cinco anos e há quatro tenho vivido apenas para minha família: enfeito e perfumo a casa, faço jantares de todos os tipos, acompanho zelosamente minha filha caçula adolescente e até mesmo ajudo meu marido com seu trabalho as vezes. Pronto! "Virei madame" rsrs...e a maioria dos amigos além de conhecidos novos quado pergunta o que tenho feito e obtem a resposta sincera me oferece as mesmas palavras, os mesmos olhares e sorrisinhos com os quais você é premiada..rsrs..Não importa o quanto alguém faça em sua vida, as pessoas sempre vão achar um jeito de criticar. A propósito, creio que você pode se considerar uma "supermulher" pois, pelo menos na minha opinião, ser "super" é ser honesto, forte, feliz e realizado da sua própria maneira, bem sucedido em fazer o que ama e absolutamente desvinculado da opinião coletiva. Ah! Continue escrevendo, você tem muito talento! Beijão!Mara
- Carol,eu também sou dona de casa agora. Confesso que é a coisa mais difícil que eu já fiz. Tive que deixar o trabalho por causa de problemas com a saúde da Beatriz e não me arrependo!!! Continue escrevendo, estou adorando. Beijos
- ADOREI!!!!! Sempre e bom ouvir de alguem como e importante a nossa profissao!! beijocas
- Nossa Cá, maravilhoso o texto... para variar me emocionei! Consegui ver nas suas palavras a minha mãe, que sempre abriu mão de tudo para nos criar! Eu reconheço e agradeço demais por tudo que ela fez, e tenho certeza que os meninos também serão eternamente gratos! Não existe pessoa no mundo que possa substituir esse amor todo de mãe! E quero mais textos!!!! Você está me deixando viciada nas suas obras! Te adoro demais lindona! Mil beijos
- Que lindo!!! sei exatamente do que vc está falando...sempre me senti da mesma forma...mas vale a pena...ver seus filhos se transformarem em "pessoas da melhor gualidade ". Ser mae é o trabalho mais dificil e importante, e vc o esta desempenhando lindamente...parabens.
- Que bom!!! Sempre muito bom ler que consegui passar o que outros sentem tb, esse é meu objetivo, tocar as pessoas de alguma forma... Comentários como esses são o que me movem. Muuuito obrigada!
- TODAS AS MULHERES DEVERIAM LER SEU TEXTO... SUA VERDADE É A VERDADE DE MUITAS DELAS... PARABÉNS PELA SUA CORAGEM DE ASSUMIR O PAPEL INTEGRAL DE MÃE E DONA DE CASA SEM CULPAS....BJS IVO