Amigos vem,
amigos vão...
Não, não é bem assim, eles não se vão! No máximo se afastam por
pouco ou muito tempo, mas independente de tempo e espaço, um amigo não vai
embora, ele sempre deixa um pedacinho dele com a gente, uma centelha da luz que
um dia brilhou muito. Decidir ser amigo de alguém, é decidir fazer parte de sua vida.
Sou uma
pessoa de muitos amigos. Adoro ouvir as pessoas e adoro tentar ajudar, levantando o astral com energia positiva, o que também
me recarrega positivamente. Ver um amigo feliz, ainda mais se alguma lágrima
escorreu e eu consegui reverter a situação, é a coisa mais gratificante do
mundo.
Porém,
manter contato constante com todos meus amigos é uma tarefa difícil, mais como “missão
impossível”. Primeiro, porque são muitos e segundo, porque cada um acaba
seguindo um caminho diferente e a comunicação simplesmente se extingue
naturalmente. Isso não quer dizer que deixamos de ser amigos, apenas que não
nos falamos no momento.
Passei a
refletir sobre amizade ao reecontrar um grande amigo, que eu não via há muitos
anos. Pelas contas que fizemos, faz uns 15 anos que não conversamos com calma,
como era de costume no auge de nossa amizade...
André, que foi
meu amigão de colegial, que passou alguns anos sentando ao meu lado na classe,
que dividiu histórias comigo, que ouviu as minhas, que discutiu comigo por
causa de religião, música, preferências e que, por fim, aceitou-me, mesmo com opiniões
avessas às dele, veio conhecer Budapeste.
Assim que
recebi a notícia de que ele viria, preparei-lhe um roteiro de coisas
imperdíveis e esperava reencontrá-lo.
Por morar
em Pécs, que fica a 200km da capital, nosso encontro era incerto, mesmo com uma
grande vontade de vê-lo. Pra ajudar, no mesmo final de semana em que ele veio,
voltamos de uma viagem, tivemos um casamento e o aniversário do meu filho mais
novo. Isso tudo nos deixaou com 1 dia livre de possibilidade para um encontro.
E como eu
tenho um marido mais que especial, a conclusão foi:
- Sim, nós
vamos! – decidiu o Zsombor - Acordamos cedinho, passamos o dia em Budapeste com
ele e voltamos a tarde. Se você não for, passam mais quinze anos num piscar de
olhos e você terá deixado de falar com esse amigo.
Dito e
feito, bem cedinho tomamos um café da manhã, colocamos as crianças no carro e
seguimos viagem. Viajar com o Zsombor é sempre muito gostoso, pois vamos
conversando o caminho todo. Conversamos todos os dias, sabemos de tudo o que se
passa um com outro, mas assunto é algo que sempre temos e sabemos nos divertir
muito, mesmo numa pequena viagem.
Chegando
lá, esperamos um pouco. Enquanto isso o Zsombor brincava com as crianças de
levantá-los e segurá-los de ponta-cabeça, o de costume...
O André
chegou e todos aqueles 15 anos de distância desapareceram no primeiro abraço.
Aquele homem, hoje médico sério, era novamente meu companheiro de risadas do
colegial e conversar com ele foi simplesmente fácil demais...
Passamos um
dia muito especial, conversando muito, brincando com as crianças, relembrando,
trocando informações e planos... E o dia de viagem, que parecia ser um esforço
na hora de planejarmos, na verdade foi um dos dias mais leves que tivemos
ultimamente. Um dia para relembrar sempre.
Amizades
verdadeiras não se vão, não se perdem, não desaparecem, nem caem no esquecimento,
são simplesmente guardadas num lugar muito especial enquanto vivemos a correria
do dia-a-dia. E sim, as vezes é preciso fazer um pequeno esforço e dar alguns
passos para ir até ela e tirá-la do fundo da gaveta, para revivê-la com mais
intensidade.
Nesse domingo,
posso ter ajudado o meu amigo, mostrando alguns pontos turísticos, mas a lição
que recebi dele foi muito maior. Percebi o quão importante é o esforço para
aproveitar um encontro com um amigo e o quão infinitamente maior é a recompensa
por esse esforço.
A todos os
meus amigos, todos os que passaram por algum momento da minha vida, seja
pessoalmente, ou mesmo pela internet - onde existem sim aqueles muito especiais
para mim, mesmo nunca tendo lhes dado um abraço de verdade. A comunicação pode ser virtual, mas a amizade é real. -, amigos com quem
passei anos, amigos que passaram rápido, quero dizer que lembro de cada um. Muitos
estão guardados com carinho pela falta de tempo e desorganização da minha
parte, mas estão lá, continuam sendo pessoas especiais.
Amizade não
se apaga, não some por questões de tempo e espaço, a amizade permanece sempre
na dimensão inflexível, inexorávelmente intácta até o momento de um reencontro.
E nas palavras de Milton Nascimento: “Qualquer
dia, amigo, a gente vai se encontrar..."