Sobre os amigos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012



Amigos vem, amigos vão... 

Não, não é bem assim, eles não se vão! No máximo se afastam por pouco ou muito tempo, mas independente de tempo e espaço, um amigo não vai embora, ele sempre deixa um pedacinho dele com a gente, uma centelha da luz que um dia brilhou muito. Decidir ser amigo de alguém, é decidir fazer parte de sua vida.


Sou uma pessoa de muitos amigos. Adoro ouvir as pessoas e adoro tentar ajudar, levantando o astral com energia positiva, o que também me recarrega positivamente. Ver um amigo feliz, ainda mais se alguma lágrima escorreu e eu consegui reverter a situação, é a coisa mais gratificante do mundo.

Porém, manter contato constante com todos meus amigos é uma tarefa difícil, mais como “missão impossível”. Primeiro, porque são muitos e segundo, porque cada um acaba seguindo um caminho diferente e a comunicação simplesmente se extingue naturalmente. Isso não quer dizer que deixamos de ser amigos, apenas que não nos falamos no momento.

Passei a refletir sobre amizade ao reecontrar um grande amigo, que eu não via há muitos anos. Pelas contas que fizemos, faz uns 15 anos que não conversamos com calma, como era de costume no auge de nossa amizade...

André, que foi meu amigão de colegial, que passou alguns anos sentando ao meu lado na classe, que dividiu histórias comigo, que ouviu as minhas, que discutiu comigo por causa de religião, música, preferências e que, por fim, aceitou-me, mesmo com opiniões avessas às dele, veio conhecer Budapeste.
Assim que recebi a notícia de que ele viria, preparei-lhe um roteiro de coisas imperdíveis e esperava reencontrá-lo.

Por morar em Pécs, que fica a 200km da capital, nosso encontro era incerto, mesmo com uma grande vontade de vê-lo. Pra ajudar, no mesmo final de semana em que ele veio, voltamos de uma viagem, tivemos um casamento e o aniversário do meu filho mais novo. Isso tudo nos deixaou com 1 dia livre de possibilidade para um encontro.

E como eu tenho um marido mais que especial, a conclusão foi:

- Sim, nós vamos! – decidiu o Zsombor - Acordamos cedinho, passamos o dia em Budapeste com ele e voltamos a tarde. Se você não for, passam mais quinze anos num piscar de olhos e você terá deixado de falar com esse amigo.  

Dito e feito, bem cedinho tomamos um café da manhã, colocamos as crianças no carro e seguimos viagem. Viajar com o Zsombor é sempre muito gostoso, pois vamos conversando o caminho todo. Conversamos todos os dias, sabemos de tudo o que se passa um com outro, mas assunto é algo que sempre temos e sabemos nos divertir muito, mesmo numa pequena viagem.

Chegando lá, esperamos um pouco. Enquanto isso o Zsombor brincava com as crianças de levantá-los e segurá-los de ponta-cabeça, o de costume...

O André chegou e todos aqueles 15 anos de distância desapareceram no primeiro abraço. Aquele homem, hoje médico sério, era novamente meu companheiro de risadas do colegial e conversar com ele foi simplesmente fácil demais...

Passamos um dia muito especial, conversando muito, brincando com as crianças, relembrando, trocando informações e planos... E o dia de viagem, que parecia ser um esforço na hora de planejarmos, na verdade foi um dos dias mais leves que tivemos ultimamente. Um dia para relembrar sempre.

Amizades verdadeiras não se vão, não se perdem, não desaparecem, nem caem no esquecimento, são simplesmente guardadas num lugar muito especial enquanto vivemos a correria do dia-a-dia. E sim, as vezes é preciso fazer um pequeno esforço e dar alguns passos para ir até ela e tirá-la do fundo da gaveta, para revivê-la com mais intensidade.

Nesse domingo, posso ter ajudado o meu amigo, mostrando alguns pontos turísticos, mas a lição que recebi dele foi muito maior. Percebi o quão importante é o esforço para aproveitar um encontro com um amigo e o quão infinitamente maior é a recompensa por esse esforço.

A todos os meus amigos, todos os que passaram por algum momento da minha vida, seja pessoalmente, ou mesmo pela internet - onde existem sim aqueles muito especiais para mim, mesmo nunca tendo lhes dado um abraço de verdade. A comunicação pode ser virtual, mas a amizade é real. -, amigos com quem passei anos, amigos que passaram rápido, quero dizer que lembro de cada um. Muitos estão guardados com carinho pela falta de tempo e desorganização da minha parte, mas estão lá, continuam sendo pessoas especiais.

Amizade não se apaga, não some por questões de tempo e espaço, a amizade permanece sempre na dimensão inflexível, inexorávelmente intácta até o momento de um reencontro.


E nas palavras de Milton Nascimento: “Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar..."
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