Caminhando.

terça-feira, 17 de setembro de 2013



E a vida se abre em um novo caminho…

Primeiro a proposta, uma felicidade repentina... Comemoração... E então um medo desses que travam tudo: a respiração, a inspiração, a opinião…

Fiquei sem saber o que dizer, o que escrever… Preferi abster-me do tema. A bagunça de sentimentos foi enorme e explodiu em mistos de sentimentos e ondas entre positivo e negativo.


Meu marido recebeu uma proposta de trabalho na Noruega. País lindo, moradia de amigos muito queridos, que seriam nossa bússola, nosso salva-vidas.

Então qual o problema?

Nenhum, na verdade, a não ser, o medo do desconhecido, esse companheiro de caminhada, que vira e mexe, aparece pelos cantos nos pregando uma peça.

Jamais imaginei viver uma vida tão maluca, mudando de um país para o outro, viajando milhares de quilômetros, fazendo escolhas drásticas de modo de vida... Sempre tive como exemplo de vida familiar os meus pais, que viveram em uma mesma cidade, minha cidade natal, e meus avós, que viveram numa mesma casa. Sempre me imaginei numa vida assim, com raízes, lugar fixo. Em meus mais ousados sonhos, o limite da mudança seria encontrar minha cara metade, ter uma casa, filhos e viver bem, na mesma cidade em que toda minha família fez sua moradia, viajar para praia e conhecer as belezas do Brasil nas férias… Nunca tive grandes ambições com países desconhecidos. Não que eu não tivesse curiosidade com esses, mas não me imaginava fora do Brasil, longe da família, que sempre fora peça chave em minha vida... Até conhecer um certo alguém, que cruzou o meu caminho e mudou minha direção…

Apaixonada e com tantos obstáculos para ultrapassar, num caminho de começo tortuoso e incertezas, simplesmente por querer ficar junto dele, mudar-me para a Hungria nunca foi algo pensado, apenas uma consequência de nossa vitória. Ficamos juntos! Não tive tempo de pensar nas dificuldades de mudar de país, quando dei por mim estava aqui, aprendendo a me virar, falando, incorporando esse país que hoje eu tanto amo e muito feliz por estar ao lado dele. Ele me deu a mão e eu o segui, sem nem mesmo perceber o desvio na estrada.

Agora uma bifurcação, uma porta aberta, dessa vez com a possibilidade de pensar.

Às vezes, não ter tempo ou alternativa para refletir, como quando foi necessário mudar-me para cá, deixa tudo mais fácil. Não é preciso se concentrar na mudança, palavra tão temida por muitos de nós, o foco não está ali. Agora, ter a possibilidade de dizer não, mesmo que o sim seja mais sensato, deixa tudo mais confuso. Milhares de questões, relevantes ou não, surgem a cada segundo e a imaginação vira uma armadilha perigosa, hora pensando em coisas boas, hora pensando em tudo que pode dar errado. Não existe nada pior do que tentar preencher os vazios que não se conhece, normalmente esses acabam sendo preenchidos com imagens já vividas, o que é um erro, e opiniões alheias, outro erro, já que cada um é dono de um caminho totalmente inexplorado.

O desconhecido... As pessoas tem a tendência de agarrar-se ao que lhes parece seguro: um lugar familiar, uma situação já testada, onde saiba sua continuação ou a maneira certa de reagir… Parece tão mais fácil continuar a vida como ela é! Mas o melhor caminho será o mais fácil? Seria pela estrada comum que nos depararíamos com imagens de tirar o fôlego? Não valeria o esforço para dar uma olhadinha numa outra direção? Eu sou curiosa, eu tenho que dar essa “olhadinha”. Mas e o medo?

Não é fácil mudar de país, mudar de cultura, integrar-se à ela. Existe um grande trabalho por trás disso, muito esforço. O glamour de viver num lugar lindo é apenas uma pequena parte da história, é preciso coragem para enfrentar o medo que sobe pela espinha ao imaginar a vida de cabeça para baixo. E se existe uma certeza é essa, a vida fica de cabeça pra baixo! 

E o medo do diferente quase me pegou.

Ele, o desconhecido, sempre assusta ao aparecer, como uma criança sapeca, escondida numa esquina, pronta para pular à sua frente. E é assim, como uma criança, que devemos vê-lo: com suas brincadeiras de assustar e seus encantos surpreendentes. Ao abraçar o desconhecido, ele nos apresenta às melhores coisas da vida, às coisas que nem ousamos sonhar, ao que não tivemos a capacidade de imaginar. Até agora tem sido assim, não tenho razão para acreditar que essa criança tenha mudado seu comportamento.

Estou perdendo as noites de sono com esse medo e, ao mesmo tempo, querendo chegar perto dessa criança danada para abraça-la logo e descobrir seu sorriso revelador, transformando esse incerto futuro num lindo presente.

Abraço meu futuro e que venha o que vier!

A vida é muito curta para usar apenas um caminho e brincar de fugir das surpresas. É preciso deixar que ela te leve e acreditar que se pode tirar o melhor da nova estrada. Eu nunca fui de dormir durante a viagem e esse caminho eu também farei de olhos bem abertos, levando na minha bagagem somente o que for positivo: pensamentos, esperanças, sentimentos, pontos de vista… O limite de bagagem é pequeno demais para preencher espaço com o que não é bom.

Fazer as malas para uma mudança é a oportunidade para repensar no que temos e no que realmente é precioso, deixar pra trás o desnecessário e o que atrapalha, carregando a alma somente do que importa, limpando a visão de todo acúmulo que nos desorganiza.


De alma limpa e braços abertos para o desconhecido, dou o primeiro passo. E que o novo caminho nos reserve as boas surpresas de sempre! 
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