Depois de 11 anos morando fora do Brasil, acostumei-me com as saudades e sei lidar bem com ela, aceitei como parte de minha escolha. Porém, de tempos em tempos a saudade avisa-me como um despertador íntimo, que o tempo sem minha terra, sem minha família e amigos, já é demais...
Viver de uma forma diferente da que eu vivia no Brasil não é ruim, aqui tenho toda uma rotina de vida húngara. Escolinha das crianças, atividades, passeios a pé até a cidade, curtir conversas em cafés no calçadão de Pécs, onde estou cercada por prédios lindos, que remetem a outros séculos, muitas vezes com o som de uma harmônica ao fundo, como trilha sonora. Certas vezes, sinto-me em um filme. Adoro!Quando neva tudo fica silencioso na cidade, as pessoas saem de casa a pé, por medo de escorregarem com o carro. Ao andar até a cidade vejo crianças tentando pegar a neve com a boca, rindo e com brilho nos olhos, enquanto caem os flocos levemente do céu, como pequenas plumas flutuando no ar. O desenho dos flocos é algo maravilhoso, de fazer inveja a qualquer artista que trabalha com vidro. Eu, todo ano, contemplo a neve como se fosse a primeira vez na vida, com olhos de criança que descobre uma novidade. O ambiente é todo mágico e ao meio dia, se estou na cidade, ainda posso ouvir música de sinos. Sabe aquele clima de natal que você sempre viu em filmes como perfeito? É algo maravilhoso!
Viver na Hungria trouxe-me muitas descobertas, que sempre procuro enxergar, ver o que eu ganhei ao decidir viver aqui e há muita coisa para se ver e viver.
Noentanto, chega uma hora que não quero ouvir os sinos ou a harmônica, chega uma hora que meus ouvidos imploram pelo barulho de um churrasco cheio de risadas altas e falatório gritado. Eles imploram pelas velhas piadas contadas mil vezes...
Vocês já perceberam como brasileiro não pode perder a chance de falar uma piada, mesmo que antiga e já batida? E, hoje em dia, isso soa maravilhoso aos meus ouvidos.
Outro dia peguei-me pensando em quantas vezes tive que repensar a frase "Passa a salada" à mesa, no horário de refeição, para não ouvir de volta "Por que, está amassada?". Você já imaginou se emocionar ao ver no facebook mil vezes a mesma piada da Luiza? Pois eu me emocionei, me emocionei porque lembrei da alegria brasileira ao contar uma piada, ao dizer uma tirada na hora certa, da energia positiva e da capacidade de sempre enxergar o engraçado, o alegre em tudo. Emocionei-me ao ler uma reportagem no jornal que dizia que o Brasil é um dos países mais felizes do mundo e a saudade despertou em mim com um trimmm tão alto, de repente, que fez-me acordar todos os dias desejando voar correndo para lá, perto das gargalhadas e do barulho musical do churrasco em família.
Passei minha validade, esvaziei-me... Preciso refazer-me, pois apesar de viver muito bem por aqui, sou feita de Brasil, inegavelmente, e quando o ingrediente principal começa a faltar, deixa um vazio imenso no ser.
Alguém tem uma xícara de Brasil para me emprestar, por favor?