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“As ondas são anjos que vivem no mar” sempre me lembro desse poema quando chego à praia... E Álvares de Azevedo estava certo. São anjos a sussurrar, com seus braços de ondas a envolver, abraçar, puxar para mais perto, para dentro de sua imensidão.
Seus sussurros trazem-me saudade. Saudade de tudo e de nada ao mesmo tempo, saudade da infância, brincadeiras na praia com os primos, férias e despreocupação infantil, saudade de quem está longe, saudade da minha metade, de minhas outras terras...
O mar traz os tesouros de lembraças lindas, pérolas guardadas em minha cabeça, numa imagem pirata de tudo o que ja vivi. Pirata, porque é a cópia editada de minha vida. Como tudo o que escrevo, reflete bons acontecimentos, afundando o que não foi bom, no oceano de tudo o que se tenta esquecer, o lugarzinho longe dentro de mim, onde faço força para não velejar.
E cada onda, cada abraço seu, traz ao pé do ouvido o arrepio e aceleração do coração, ao mesmo tempo o aperto da saudade. Fico imaginando se o mar revela essa mesma saudade a todos, ou se só revela o sentimento mais próximo a cada pessoa... Que a saudade está sempre andando ao meu lado: Saudade da pátria, da família, dos amigos, do marido, da outra pátria... A saudade nunca, jamais, me abandona, minha companheira fiel, a qual aprendi a conviver, entender e apreciar.
A saudade é muitas vezes mal entendida, é confundida com dor e sofrimento. De fato dói por vezes, quando sem querer aperta demais o coração, mas há que se enxergar um pouco além e analisar o porquê da dor... Se dói é porque se tem motivos para sentir falta, se exite motivos para sentir falta é porque existe alguém ou algo tão importante em sua vida, que é digno de saudade. Ter tanto motivo para ter saudade, viver em saudade, só pode significar que tenho tanto motivo para ser feliz, tenho tantas pessoas importantes para me faltar.
Cheiro de mar, a brisa, o abraço e o sussurro. Saudade, coração apertado e leve ao mesmo tempo. Vontade de chorar e rir, abraçar quem não está... Praia, mar, sol, andorinha, barquinho, areia brilhante, onda, conchas e risada de criança. Profundidade, tesouro, pérola, sal. Gosto de saudade, cheiros que brilham, paisagem salgada. Contudo, não ha como descrever o mar e seus sentimentos, é tão pessoal o que do peito é retirado, que deixo uma brecha para que cada um complete com o que lhe é cantado pelas ondas, num assopro ao pé do ouvido.
