Tirei
férias de mim mesma, de escrever, de ser adulta e mãe o tempo todo... Recebi a
visita da minha mãe e voltei a ser filha, no breve e valioso tempo contado de sua presença. Foram três
semanas de mimos intensos, de conversas longas com a melhor amiga, que ela
sempre foi, filmes e séries que sempre adoramos ver juntas, passeios, cafés, risos,
confissões, conselhos...
Assim que ela saiu pela porta da frente, um vazio imenso tomou conta da casa, tomou conta de mim. Coloquei-me a pensar no azar de viver longe dos meus pais, da minha família toda, e o dia todo se escureceu.
Assim que ela saiu pela porta da frente, um vazio imenso tomou conta da casa, tomou conta de mim. Coloquei-me a pensar no azar de viver longe dos meus pais, da minha família toda, e o dia todo se escureceu.
É sempre
assim no dia da despedida, o vazio é inevitável e pensamentos
tolos tomam conta do silêncio pesado da casa, que fica ao som do tique-taque do
relógio, lembrando-me sobre o tempo, fazendo-me pensar em quanto tempo, quantos
tique-taques estarão por vir até que eu possa reencontrar minha família
novamente... Nesse primeiro dia, depois da despedida, parece que uma eternidade
está para nos separar e o relógio conta horas intermináveis com seu compasso.
Tique... taque... tique... taque...
Passada a
primeira noite, as horas mais difíceis e compassadas, o peso começa a passar e vai deixando lugar para todo o
sentimento bom de ter vivido com intensidade a presença da minha mãe. Tento
voltar ao meu costumeiro estado otimista de ser e relembrar que escolhi ser
feliz. Afinal, o que é a felicidade, senão uma escolha? Por que mesmo me considero feliz? Os motivos vão reaparecendo, mesmo nesse tão delicado tema, que é a despedida.
A verdade é
que eu não penso muito na parte ruim de estar sem eles, esses pensamentos tomam conta apenas em momentos assim, quando tenho a presença em um dia e no outro, não. Claro que seria
maravilhoso poder ter os churrascos de final-de-semana, com a imagem linda de todos os primos brincando junto, como quando eu era criança, ver meus filhos
pendurados em meus pais constantemente e outras coisas incríveis que uma
pessoa pode desfrutar quando vive perto dos que ama. Mas será que as pessoas
sabem o valor disso? Realmente desfrutam da convivência e se agarram a ela, como eu
faço, sempre que tenho a chance de rever meus pais, sem o aviso dos insistentes tique-taques do relógio?
Vivemos profundamente, moramos juntos e guardamos cada beijo, cada abraço, no
nosso escasso tempo de convívio. De certa forma, é um privilégio. O relógio está sempre nos dizendo para aproveitar ao máximo.
Durante a
estadia da minha mãe aqui, as crianças dormiram todos os dias na mesma cama com
ela, apertados, meio que amontoados, mas sem se importar com isso. Fizeram bagunça e contaram estórias a cada noite,
antes de dormir, porque o importante era o momento com ela e não as obrigações do dia seguinte. Ela os levou e buscou na escola, onde foi apresentada com
orgulho às professoras, e as crianças puderam contar a todos sobre a vovó que
vem de terras distantes, lá onde temos uma outra casa (eles consideram a casa
dos avós como lar, afinal, moramos lá, sempre que vamos para o Brasil). E é bom
demais ver essa ânsia de aproveitar cada segundo, de querer agradar,
demonstrar, participar... - Tique-taque, tique-taque, aproveite o tempo, não deixe passar nada! - O relógio avisa.
Pode ser
que venhamos a sentir dor e saudade, o peso do silêncio e os eternos tique-taques do depois, mas juntamente com os sentimentos “ruins”,
vem a consciência de que cada momento deve ser bom e memorável, que na escala dos valores, o tempo de diversão com quem amamos está na frente de todo o resto. Quantos
momentos memoráveis tem uma pessoa que não sente essa necessidade? Sem querer julgar ou medir, atrevo-me a dizer que estou perfeitamente feliz com o número dos nossos e
tenho certeza que estão entre as maiores contagens, sem muita defasagem comparados com outros, que tem a chance de viver num cotidiano de presença.
É como nos dias de férias, você faz valer a pena, faz passeios e programações, fala do que te faz feliz, dá atenção para o que realmente importa e tudo se torna relevante, inesquecível. Aproveitar a vida vira prioridade.
Nossa vida é assim - sempre foi - nada é morno, certo ou constante, vivemos entre o frio e o quente; extremamente perto ou terrivelmente longe; sentimos vontade de
chorar, mas também, muita vontade de sorrir e abraçar; tiramos fotos abraçados
e olhamos para elas com carinho. Nada passa despercebido entre as escolhas
extremas e o tempo compassado dos tique-taques. Tudo o que é finito traz urgência e períodos demarcados podem parecer castigo, mas, olhando com otimismo, do ângulo certo, não tem como culpar o relógio, já que são nesses pequenos espaços de tempo que se esconde a verdadeira essência da nossa história.
Já sentimos
muito a sua falta, mãe, mas o relógio continua andando e estamos juntando essas lágrimas que caíram agora,
para compensar com o grande abraço que te daremos assim que nos vermos
novamente.
Tique... taque.