Brincando com o tempo

terça-feira, 6 de janeiro de 2015



As crianças e o tempo. Eles têm uma relação totalmente diferente da nossa, de adulto, que mal vemos as horas passarem. Quando percebemos o dia já acabou, numa piscada lá se foi a semana, o ano... anos...

O tempo espera a criança, como se apreciasse cada brincadeira e sonho que cabe nos intermináveis segundos que, para ela, preenchem um minuto. Em um ano cabe uma vida inteira de histórias e aventuras, uma vida muito longa para que o começo seja lembrado. Não são eles que olham as horas, são as horas que os admiram, boquiabertas e paradas, lentas e despreocupadas, apenas curtindo aquela risada estridente ou a pérola que acaba de ser dita. E quantas pérolas... As crianças têm pensamentos incríveis! Livres de todos os padrões impostos pela lei do homem ou da natureza.


Pois o tempo parou para observar meu filho, que observava o relógio, esperando que ele andasse em sua admiração. Ficaram ali, se encarando, a criança e o tempo, quando tudo parou.

Era dia do nome do meu filho mais velho. Na Hungria, cada dia é comemorado um ou dois nomes e é costume dar uma lembrancinha nessa data. Meu filho mais novo havia ficado em casa, porque estava levemente gripado e, enquanto o irmão estava na escola, passamos o dia juntos, fomos até a médica e depois ao supermercado. Lá, ele decidiu comprar com o próprio dinheirinho um presente para o dia do nome Zsombor (nome do irmão). Achou uma lembrancinha perfeita e fez questão de pagar. Estava reluzente por poder fazer isso.

Aí veio a parte difícil: esperar o tempo passar, para que a aula do Zsombi acabasse.

- Mãe – disse meu pequeno – que horas o Zsombi vem pra casa?

- Vamos busca-lo daqui a uma hora, mais ou menos.

Mostrei a ele os ponteiros do relógio e expliquei onde estaria quando chegasse o momento. Depois fui estender a roupa.

Não passado nem um minuto, na minha percepção de tempo, vem ele novamente:

- Mamãe, precisávamos ter um relógio tão lento assim? Já brinquei, já fiz tudo o que podia e ele continua no mesmo lugar! Só se já passou tanto tempo que ele deu a volta toda até voltar onde estava!

Sorri com a sua impaciência e expliquei que não havia passado tanto tempo assim. Mas quem sou eu para explicar a ele sobre o tempo? O relógio não anda da mesma forma para nós dois.

Os minutos andaram lentos, observando os comentários do menino apressado, curtindo a ansiedade da comemoração, adorando ser o objeto da atenção da criança. O relógio tentou brincar com o menino, mas ele não estava achando graça, bufava e andava de um lago para outro, pegava um brinquedo e logo largava, dizendo que já havia brincado muito com aquilo...

O tempo curtiu, brincou, se arrastou e depois se rendeu. Finalmente era hora de buscar o irmão!

Ao chegar em casa, o presente foi entregue com muito orgulho, houve um rápido e impaciente abraço de criança, que não tem tempo a perder com formalidades e o relógio ficou novamente esquecido na terra do nunca, onde há tempo para tudo, onde só é lembrado, com certa revolta, na hora de dormir.
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