As crianças e o tempo. Eles têm uma relação
totalmente diferente da nossa, de adulto, que mal vemos as horas passarem.
Quando percebemos o dia já acabou, numa piscada lá se foi a semana, o ano...
anos...
O tempo espera a criança, como se apreciasse
cada brincadeira e sonho que cabe nos intermináveis segundos que, para ela,
preenchem um minuto. Em um ano cabe uma vida inteira de histórias e aventuras,
uma vida muito longa para que o começo seja lembrado. Não são eles que olham as
horas, são as horas que os admiram, boquiabertas e paradas, lentas e
despreocupadas, apenas curtindo aquela risada estridente ou a pérola que acaba
de ser dita. E quantas pérolas... As crianças têm pensamentos incríveis! Livres
de todos os padrões impostos pela lei do homem ou da natureza.
Pois o tempo parou para observar meu filho, que
observava o relógio, esperando que ele andasse em sua admiração. Ficaram ali,
se encarando, a criança e o tempo, quando tudo parou.
Era dia do nome do meu filho mais velho. Na
Hungria, cada dia é comemorado um ou dois nomes e é costume dar uma lembrancinha
nessa data. Meu filho mais novo havia ficado em casa, porque estava levemente
gripado e, enquanto o irmão estava na escola, passamos o dia juntos, fomos até
a médica e depois ao supermercado. Lá, ele decidiu comprar com o próprio
dinheirinho um presente para o dia do nome Zsombor (nome do irmão). Achou uma
lembrancinha perfeita e fez questão de pagar. Estava reluzente por poder fazer
isso.
Aí veio a parte difícil: esperar o tempo
passar, para que a aula do Zsombi acabasse.
- Mãe – disse meu pequeno – que horas o Zsombi
vem pra casa?
- Vamos busca-lo daqui a uma hora, mais ou
menos.
Mostrei a ele os ponteiros do relógio e
expliquei onde estaria quando chegasse o momento. Depois fui estender a roupa.
Não passado nem um minuto, na minha percepção
de tempo, vem ele novamente:
- Mamãe, precisávamos ter um relógio tão lento
assim? Já brinquei, já fiz tudo o que podia e ele continua no mesmo lugar! Só
se já passou tanto tempo que ele deu a volta toda até voltar onde estava!
Sorri com a sua impaciência e expliquei que não
havia passado tanto tempo assim. Mas quem sou eu para explicar a ele sobre o
tempo? O relógio não anda da mesma forma para nós dois.
Os minutos andaram lentos, observando os
comentários do menino apressado, curtindo a ansiedade da comemoração, adorando
ser o objeto da atenção da criança. O relógio tentou brincar com o menino, mas
ele não estava achando graça, bufava e andava de um lago para outro, pegava um
brinquedo e logo largava, dizendo que já havia brincado muito com aquilo...
O tempo curtiu, brincou, se arrastou e depois
se rendeu. Finalmente era hora de buscar o irmão!
Ao chegar em casa, o presente foi entregue com
muito orgulho, houve um rápido e impaciente abraço de criança, que não tem
tempo a perder com formalidades e o relógio ficou novamente esquecido na terra
do nunca, onde há tempo para tudo, onde só é lembrado, com certa revolta, na
hora de dormir.