Hunor, meu
filho caçula, é puro sentimento. As pessoas vivem dizendo que ele tem alma de
artista. Ele tem muito interesse por música, teatro, filmes, dança... e vive a
sonhar.
Quando está
por perto, é fácil de segui-lo, basta procurar pelo som da música, pois vive
cantando. Pede as coisas como se estivesse numa ópera ou num musical:
-
Mamãaaaaaae, eu quero uma áaaaaaguaaaaaaaa!!!!
Fica horas no banheiro, porque sua voz soa bem ali.
Esse ano,
ele entrou para a primeira série e, aqui na Hungria, música é matéria
obrigatória. O aluno pode se inscrever ainda em canto e algum instrumento. É
claro que ele foi inscrito para fazer canto e pediu também para fazer aula de
flauta.
Nos dias de
aula de música, ele sai da escola radiante. Chega em casa e tira o caderninho,
corre pra fazer os exercícios escritos de notas musicais e coleciona
figurinhas, ganhadas como prêmio pela lição bem feita.
Parece bem
resolvido nesse campo, sobre o que gosta de fazer, não é?
Mas ele tem
sempre muitos dilemas...
Sensível como é, começa a chorar de uma hora para outra
(creio que ele possa ser um grande ator
com essa capacidade. Dramático, muito dramático...) e ao perguntarmos qual o
problema, vem sempre uma questão sobre a vida e o futuro:
- Será que
vou encontrar a pessoa certa para casar? E se não? – por exemplo. Detalhe, ele
só tem 7 anos.
E entre os
sentimentos de um carinho imenso pelo seu jeitinho e uma vontade de rir, porque
é fofo demais, tentamos acalmar seu coraçãozinho.
Esses dias,
Hunor começou a chorar, já na cama, pronto pra dormir.
- O que
foi, filho? – perguntou meu marido, já esperando por saber qual seria a crise
existencial do momento.
- É que eu
queria muito ser cantor! – responde ele, aos prantos.
- Você pode
ser cantor, você canta muito bem! – responde meu marido.
Hunor olha
bem para nós, com os olhos cheios d’água e chora mais ainda ao dizer:
- Mas como
posso ser cantor e ninja ao mesmo tempo?
A vida é muito dura... Como escolher entre duas coisas tão essenciais, não é?
Não
resistindo a essa doçura, tivemos que rir. Demos um abraço bem forte nele e meu
marido continuou:
- Quem sabe
você será o primeiro ninja que canta?
Ele sorriu,
imaginando se seria possível, e foi se acalmando.
- Você tem
muito tempo e poderá ser tudo o que quiser – dissemos.
- É que a
vida é tão curta para fazer tudo o que é legal!
Meu filho
dramático e impaciente...
Abraçamos,
beijamos muito, o tranquilizamos e guardamos essa pérola na lembrança. Tenho
certeza de que será uma de nossas histórias favoritas, para contar-lhe mais
tarde.
Filho é
filosofia na sua forma mais pura.