Os dilemas de Hunor

quarta-feira, 21 de outubro de 2015


 
Hunor, meu filho caçula, é puro sentimento. As pessoas vivem dizendo que ele tem alma de artista. Ele tem muito interesse por música, teatro, filmes, dança... e vive a sonhar.
Quando está por perto, é fácil de segui-lo, basta procurar pelo som da música, pois vive cantando. Pede as coisas como se estivesse numa ópera ou num musical:
- Mamãaaaaaae, eu quero uma áaaaaaguaaaaaaaa!!!!
Fica horas no banheiro, porque sua voz soa bem ali.
Esse ano, ele entrou para a primeira série e, aqui na Hungria, música é matéria obrigatória. O aluno pode se inscrever ainda em canto e algum instrumento. É claro que ele foi inscrito para fazer canto e pediu também para fazer aula de flauta.
Nos dias de aula de música, ele sai da escola radiante. Chega em casa e tira o caderninho, corre pra fazer os exercícios escritos de notas musicais e coleciona figurinhas, ganhadas como prêmio pela lição bem feita.
Parece bem resolvido nesse campo, sobre o que gosta de fazer, não é?
Mas ele tem sempre muitos dilemas...
Sensível como é, começa a chorar de uma hora para outra (creio que ele possa ser um   grande ator com essa capacidade. Dramático, muito dramático...) e ao perguntarmos qual o problema, vem sempre uma questão sobre a vida e o futuro:
- Será que vou encontrar a pessoa certa para casar? E se não? – por exemplo. Detalhe, ele só tem 7 anos.
E entre os sentimentos de um carinho imenso pelo seu jeitinho e uma vontade de rir, porque é fofo demais, tentamos acalmar seu coraçãozinho.
Esses dias, Hunor começou a chorar, já na cama, pronto pra dormir.
- O que foi, filho? – perguntou meu marido, já esperando por saber qual seria a crise existencial do momento.
- É que eu queria muito ser cantor! – responde ele, aos prantos.
- Você pode ser cantor, você canta muito bem! – responde meu marido.
Hunor olha bem para nós, com os olhos cheios d’água e chora mais ainda ao dizer:
- Mas como posso ser cantor e ninja ao mesmo tempo?
A vida é muito dura... Como escolher entre duas coisas tão essenciais, não é?
Não resistindo a essa doçura, tivemos que rir. Demos um abraço bem forte nele e meu marido continuou:
- Quem sabe você será o primeiro ninja que canta?
Ele sorriu, imaginando se seria possível, e foi se acalmando.
- Você tem muito tempo e poderá ser tudo o que quiser – dissemos.
- É que a vida é tão curta para fazer tudo o que é legal!
Meu filho dramático e impaciente...
Abraçamos, beijamos muito, o tranquilizamos e guardamos essa pérola na lembrança. Tenho certeza de que será uma de nossas histórias favoritas, para contar-lhe mais tarde.
Filho é filosofia na sua forma mais pura.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...