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Durante
minha estadia no Brasil, despertei um sonho...
Num dos
churrascos de domingo, onde toda a família se reúne, um dos meus primos, Rique,
comentou sobre o show que estava para acontecer durante o mês de abril, um show
do Skid Row.
Para quem
não conhece a banda, o Skid Row fez muito sucesso na mesma época do Guns´n
Roses. Eu era totalmente louca por essas duas bandas, tanto o Skid quanto o
Guns, com posters enormes dos vocalistas no meu quarto, discos e todos os dias
esperando os top10 da Mtv, onde eles sempre estavam entre os primeiros. Sonhei muito
em assistir um show deles, na euforia da adolescência, onde fazemos dos ídolos
figuras tão importantes. Mas na época eu só tinha 16 e minha família jamais me
deixaria participar de um show de rock, principalmente meu pai, que não
entendia minha loucura por aqueles cabeludos barulhentos. Adorava fazer cara
feia e criticá-los fazendo piadas, só para me provocar... mas claro que
esperava que eu terminasse o top 10 antes de mudar para o seu jornal, mesmo que
isso significasse ter que ouví-los até o último grito. Em resumo, em casa eu podia ouvir o
quanto quisesse, mas ir ao show...
Anos se
passaram e esse sonho foi ficando para trás, foi perdendo a importância. O que
era meu maior sonho na época, tornou-se apenas um pequeno desejo não realizado
e depois foi tido como morto durante muito tempo. Continuei gostando de rock,
ouvindo outros novos grupos e velhos clássicos. Assisti outros shows
maravilhosos, como o do Kiss, em São Paulo e o do Creedence, no acampamento de
100 anos da Harley Davidson, na Hungria, junto com meu marido, que na época era
nomorado, e viajávamos de moto pelo país de vez enquando... Uma das melhores
lembranças que temos, andar de moto o dia todo com um grupo de milhares de
motos, centenas de Harley e a noite ver o Creedence num show simples, no
gramado, palco de madeira, jeans e camiseta preta... e quando começaram a
cantar, não precisava de mais nada, cantei todas as músicas na primeira fila e
curti cada acorde que eles tocaram... inesquecível! As músicas nem eram da
minha época... Mas fala sério, essas coisas não tem época, não tem preço... Acampar
com o Creedence fazendo o “showzinho” em volta da fogueira é pra matar qualquer
um do coração... Eu, fã de rock, pelo menos...
Enfim, quando
o Rique comentou sobre o Skid Row, reacendeu uma pequena chama de vontade de
participar, de realizar esse sonho enterrado. Prometi ao meu primo que ia
conversar com meu marido sobre o show - o que não teria problema nenhum,
conhecendo meu marido - e que depois o avisaria, para comprar os convites...
Mas, passada
a euforia da conversa com o Rique, não falei sobre isso com meu marido. Refleti um pouco e achei que seria besteira gastar nisso agora, que
estávamos um pouco apertados com minha viagem para o Brasil e dificuldades na
firma dele para conseguir trabalhos... Tenho certeza que se eu tivesse
perguntado, ele diria que era para eu ir e eu não estava achando certo no
momento, não quis ser egoísta e também sabia que poderia viver sem isso, um
sonho ha tanto tempo esquecido. Eu não era mais aquela adolescente e nem o
vocalista deveria estar no mesmo pique de 20 anos atrás... A razão nunca me deu as coordenadas certas, incrível, minhas melhores decisões sempre partiram da emoção...
Se alguém
procura desculpas para não realizar um sonho, acaba achando...
Fato é que
eu tenho padrinhos maravilhosos! Substituem qualquer fada madrinha de contos de
fada...
No final de
semana seguinte, fui ao show dos meus primos Rafa e Rique, que tem uma banda:
Soulk. O Rafa toca guitarra desde os 7 anos de idade e eu sempre o acompanhei
no vocal quando éramos criança. Posso dizer que fui sua primeira fã. Claro que
não perderia um show deles. E meus padrinhos, que são seus pais, fizeram
questão de me levar.
Antes que o
show começasse, minha madrinha comentava com entusiasmo sobre os shows que
tinha assistido: Creedence e Joe Cocker. Eu, suspeita pra falar do Creedence,
estava animadíssima na conversa. Ela então pulou para o show do Skid Row, que
seria em breve. Eu me contendo e lembrando a mim mesma que não deveria me
empolgar, pois não iria gastar com isso agora... E então ela diz que gostaria
de me dar de presente. Eu iria com meus primos ao show. Rafa, Rique e Daniela, minha prima companheira na loucura por bandas de rock e vocalistas cabeludos.
Eu, com
toda essa comunicação que Deus me deu, esse meu dom natural para agradecimentos(ironia,
para quem não sabe)... fiquei sem palavras e claro que não reagi com tanta
empolgação quanto deveria. Coitados dos meus padrinhos, ainda bem que conhecem
a peça aqui... Eu queria ter pulado no pescoço deles e agradecido aos gritos, histérica,
mas não o fiz. Reservadamente disse que seria ótimo, com um grande sorriso
contido e fiquei sonhando com o dia do show. Essa mania de conter os
sentimentos... Ainda bem que posso escrevê-los depois e melhorar a primeira impressão...
Durante 1
semana, só ouvi Skid Row. Fui preparando meus ânimos e para o caso de não
sentir tudo aquilo que eu sentia na adolecência, afinal, eu havia amadurecido e
os ídolos haviam mudado, não queria descepcionar-me com o resultado.
Dia do
show. Estava em êxtase, não acreditando que realmente iria realizar esse sonho,
mesmo que um sonho antigo e meio que perdido no tempo, enferrujado e empoeirado...
Eu e minha prima Daniela, que não perdíamos 1 top 20 de domingo, quando
assistíamos juntas e loucas pela banda, estávamos finalmente vivendo esse dia e
juntas. O local do show era simplesmente inacreditável! Era pequeno... Isso
quer dizer que por mais cheio que ficasse, eu ainda sim os veria de perto! Não
bastasse isso, eu estava realmente perto, muito perto do palco. Comecei a
sentir o sangue borbulhar com um sonho prestes a se realizar. Eu veria um mito,
o meu mito...
E o show
começou... Sebastian, o vocalista, entrou girando o microfone e balançando seus longos cabelos, sua marca registrada, movimentos estudados e decorados pela minha mente, que sonhava em vê-los ao vivo. O sangue ferveu e os sentimentos explodiram como num vulcão. Não
chorei porque minha reação é sempre abrir um sorriso imenso, em casos de emoções
felizes, daqueles que congelam no rosto.
Realmente
não foi a mesma coisa que se eu tivesse assistido ha 20 anos atras... Foi muito
melhor! Não estava apenas vivendo o momento, estava revivendo minha adolescência
e tudo o que trazia saudade, tudo de bom que ficou daquele tempo. Cada acorde,
cada balançada de cabelo do Sebastian e sua mão movendo-se
exatamente como eu via todos os dias na tv, chamando o público para cantar com
ele. Ele trouxe meu passado todo como adolescente para o presente. E voltei
a sentir-me com 16 anos, podia sentir a pulsação forte do meu sangue, minhas
veias fervendo no topor da adrenalina, hormônios da adolescência espalharam-se
pelo meu corpo, como um banho na fonte da juventude.
Voltei a lembrar dos sonhos bobos que eu tinha e descobri que nenhum
sonho pode ser bobo o bastante para não ser realizado. Realizar um sonho é a
melhor coisa do mundo, seja ele qual for, seja ele quando for. Era eu, com 16,
aos 33, realizando meus sonhos e relembrando de todos eles, da importância de
cada um.
Eu pulei,
gritei e cantei todas as músicas, foi fantástico! Sebastian fez um show incrivelmente
profissional e animado, não sei se teria sido assim com 20 anos a menos, mas não consigo imaginar melhor.
Depois do show ainda demos muita risada, paramos para comer um lanche na estrada, lembramos dos cafés da tarde no sítio da minha avó e gargalhamos com a lembrança do meu primo, de quando tentávamos tirar a nata do nosso nescau com a peneira e ela se partia e se multiplicava em vários pedaços pequenos e impossíveis de tirar... Pequenas lembranças, pequenos sonhos e tão importantes!
Depois do show ainda demos muita risada, paramos para comer um lanche na estrada, lembramos dos cafés da tarde no sítio da minha avó e gargalhamos com a lembrança do meu primo, de quando tentávamos tirar a nata do nosso nescau com a peneira e ela se partia e se multiplicava em vários pedaços pequenos e impossíveis de tirar... Pequenas lembranças, pequenos sonhos e tão importantes!
A questão
não é o acontecimento desse dia. Talvez você esteja pensando que é um exagero
meu e que essa banda é uma droga, o que eu discordo plenamente... enfim, não é
o que aconteceu e sim como... Nesse dia aprendi algumas lições: Não se deve
procurar razões para não realizar um sonho e sim realizá-lo; Sonhos não são
bobos e nem perdem importância, apenas ficam adormecidos até o momento de torná-los
reais; Quando você desperta um sonho que adormeceu, ele acontece com toda a emoção
que você o sonhou um dia; E nunca é tarde demais para transformar um sonho em
realidade, cada um, por menor que seja.
Aos meus
padrinhos maravilhosos, Marlen e Wagner, muito obrigada por fazerem acontecer
esse momento na minha vida. Agradeço não só pelo show do Skid Row, que foi incrível, mas por tudo
o que sempre fazem por mim e por me lembrarem de não desistir de sonhar. Esse
dia e tudo o que aprendi com ele, eu devo a vocês. Amo vocês!
E em junho
ja estamos garantidos no show do Guns’n Roses na Áustria, eu e meu marido. Mais
um ticket para viajar no tempo. Será esse o segredo da juventude, realizar
sonhos adormecidos? Se não é, o sentimento é bem próximo...