Como algo
tão irracional pode tomar conta da vida de uma pessoa?
Eu ando por
aí e vejo pessoas dirigindo como se fosse nada, despreocupadas, relaxadas...
Como? A coisa mais estressante que existe é dirigir!
Não foi
sempre assim, meu professor de auto-escola dizia que eu era ótima nisso e eu
gostava de dirigir. Mas com o tempo, fui pegando medo, acreditando na minha
incapacidade, perdendo toda a confiança no que eu sabia e sendo tomada por esse
medo, que foi subindo pelas pernas e amarrando cada reflexo, cada sentimento
bom quanto a dirigir, colocando em minha cabeça imagens contorcidas e irreais
sobre o quanto eu não sou capaz.
Hoje, eu
sento atrás da direção e meu coração começa a bater mais acelerado, sobe algo
pela garganta, uma vontade involuntária de gritar, minhas mãos tremem e suam, a
respiração fica curta e acelerada e eu só penso - "Ai meu Deus, não quero,
quero fugir daqui, sair desse carro!"- ligo o carro tremendo, fico uns
instantes olhando para todos os lados antes de sair e, mesmo numa rua vazia, eu
demoro alguns minutos para tomar a decisão. Como se fosse acontecer comigo como
no desenho do pernalonga, que na hora que eu puser o pé na rua, passa um carro
correndo e bate em mim. Não é racional o que passa pela minha cabeça nessa
hora. E quando morre o carro então? Pelo pulo que meu coração dá, quase que
morro eu também, de pânico e medo. Agora, racionalmente, pânico e medo de quê?
Sei bem que é ridículo, o que não muda o fato de eu continuar acreditando que será
assim.
Se estou
fora do alcance de uma direção, eu vejo tudo acontecendo, sei pra onde devemos
virar, vejo que ninguém vem correndo para bater no carro, sei quando tem que
parar e quando é pra ir... Tudo isso é muito fácil com meu marido na direção.
Mas quando eu estou la, as coisas se contorcem e ficam embaçadas como num
quadro abstrato. Não sei em que rua tenho que virar, não sei nem o caminho mais
familiar e ao ver um carro atrás de mim, ou passando ao meu lado, estremeço de
medo, o frio escala espinha acima, como se eu fosse ter alguma reação
involuntária e bater nele, ou vice-versa. É simplesmente irracional!
Quero
vencer esse medo, por isso obrigo-me a passar por tudo isso, mais e mais vezes.
Creio que tenho melhorado. Já não choro em pânico se o carro morre, não paro no
meio da rua exigindo que meu marido passe para o lado do motorista porque eu
não posso continuar. - É, houve essa fase também. - Hoje em dia são só as reações
do meu corpo, menos visíveis: suor, batidas fortes e falta de ar...
Pergunto-me
sempre se um dia isso vai passar, se um dia serei capaz de vencer o medo e
dirigir tranquila e relaxada, como se estivesse andando a pé...
Lembro-me
de um dia meu irmão me dizer isso, quando perguntei a ele como se sente ao
dirigir:
- É como
andar a pé, instintivo. - Ainda penso nessa frase, na maravilha que deve ser
sentir isso, na facilidade de quem se sente assim. Que inveja desse sentimento!
Enquanto
era só eu, não tinha filhos, eu não ligava para o meu medo de carro, havia
aceitado o fato e andava a pé para todo o lugar, tranquilamente, sou capaz de
andar quilômetros... Mas com filhos é diferente, eles começam a ter horários
incompatíveis com caminhadas: Saem da escolinha e vão para o futebol, ou para a
natação. E o inverno então? Não dá para ir longe com eles sem congelar.
Existem
também as compras, que só faço quando meu marido ou a sogra tem tempo... Acabo
virando escrava do compromisso dos outros. Eu devo me encaixar no horário vago e
na boa vontade das outras pessoas, que podem me dar uma carona. Não quero isso!
O medo de dirigir, está dirigindo minha vida!
Preciso
vencer esse medo idiota. Raciocinar e ver que a rua não está se estreitando.
Conseguir enxergar o caminho e não o túnel escuro de pânico que me engole. Já
parei de chorar ao volante, um grande feito. Acreditem, sinto que passei um
nível. Quantos níveis podem existir?
Para acalmar e conseguir chegar ao final do meu
trajeto, costumo me imaginar tranquila, dirigindo num dia de sol, - instintivamente,
como diz meu irmão - com uma mão no volante e a outra mudando de estação no
rádio - coisa totalmente impossível no meu estágio atual - talvez cantando
junto a música que acabo de encontrar em outra estação, totalmente relaxada,
gostando de dirigir, - não sei se é utopia, mas gosto de imaginar que um dia
ainda vou gostar de disso - estaciono, entro em casa, sento no meu computador
e começo um novo texto pro blog: "Venci meu medo de
dirigir..."
Mais de 1 ano depois:
Estou quaaase lá... Hoje posso escrever um texto quase afirmando minha vitória: Dirigindo com um Gremlin.
Mais de 1 ano depois:
Estou quaaase lá... Hoje posso escrever um texto quase afirmando minha vitória: Dirigindo com um Gremlin.