Fim de
junho, 23 e 26... Quanto a gente esperava essa data quando crianças, não é?
Ter as
datas tão próximas e compartilhar a festa, nos deu a oportunidade de aprender e
planejar juntos. Nós planejávamos tudo, lembra?
Ficávamos o
ano inteiro pensando em que tema seria a nossa festa de aniversário e depois
comunicávamos à mãe, que preparava todos os enfeites sozinha e ainda fazia bolo
com cara de pato Donald e Margarida, ou qualquer outra coisa que pedíssemos...
Não tínhamos idéia de quanto trabalho dava, e o quanto era especial o que ela
fazia por nós, pra gente era natural tudo enfeitado no aniversário.
Parabéns
juntos, assoprar as velinhas, presentes em dobro... Sim, em dobro porque era tudo nosso, não tinha essa
de seu e meu, a menos que fosse boneca ou soldadinho...
Brigadeiro,
beijinho, bala confeitada... Um dia doce, sem pressão para comer a alface do
prato, que a mãe sempre fazia questão que comessemos. Perguntava se queríamos e tínhamos duas alternativas:
dizer que sim e tirar nós mesmos uma quantidade pequena, ou dizer não e ela
mesma nos servia. “Come um pouquinho, faz bem”, dizia ela já enchendo o prato
de alface. Mas não nesse dia, esse era nosso dia.
Não me
lembro de planejar algo em singular, era sempre plural, até os sonhos maiores: quando
ganharmos nosso video game, nossa piscina, nosso carro elétrico, nosso avião...
E o
planejamento acontecia a noite, na hora de dormir e no nosso quarto, com camas
encostadas e de mãos dadas. Também conversávamos sobre o dia e os sonhos, todo
dia, rindo e as vezes até chorando juntos. Lembro-me dos sustos que eu levava
quando você sentava na cama e começava a falar falar falar durante o sono,
depois eu te acalmava e te fazia deitar e dormir. Você nem se lembrava no dia
seguinte, quando eu te contava achando graça. E esse seu jeitinho de falar a
noite, só eu conhecia...
E quando
brigávamos e eu me trancava no banheiro? Você ficava atirando coisinhas pela
janela e a briga virava brincadeira de guerrinha.
Nossas
superproduções feitas nos quintal eram perfeitas, principalmente aquela que
fizemos do filme do Indiana Jones e a arca perdida. Na minha lembrança ficou
perfeita! Hollywood podia nos contratar como dublês se tivesse nos visto.
A piscininha
de plástico era um oceano, o tapete da sala era um rio de lava, as portas da casa eram montanhas pra escalar e a
gente achava que só nós no mundo tínhamos o poder de subir nas portas...
E como
adorávamos dançar o disco do trem da alegria e aquele outro da mãe, que tinha
trilha sonora de filmes... Esse, é claro, era perfeito para nossas reproduções.
E falando em super produções, você se lembra de quando colocávamos a fita dos
Beattles em volume máximo e você era o baterista, eu o vocalista e gritávamos
inteira até o fim?
Atari,
guardachuvinha de chocolate, gênius, casinha de pano do pica-pau amarelo,
He-man, moranguinho, pense bem, babaloo de melancia, cara a cara, futebol de
botão, dama, trilha, resta um, leite condensado na lata, chinelo de dedo, gibi
da turma da mônica, livro “O grilo falante”, bola de sabão, pipa, muita gargalhada...
Nossa infância teve tudo o que milhares de outras crianças também tiveram, mas
tem algo que só nós possuíamos... um ao outro.
Ano passado
você comentou um dos momentos mais importantes, quando você me disse que eu era
a sua irmã preferida. Eu, boba, pra não perder a piada e também não me
emocionar, ri e te falei: Mas eu sou sua única irmã!
Eu sei bem
o que você quis dizer e ouvir aquilo foi um dos melhores momentos entre nós,
algo que sempre volto para folhear nas páginas do meu passado. Nem preciso de
marcador de livros, essa folha está sempre aberta para ler e reler.
Sempre
difícil passar essa data sem você, irmão querido, ja que nossa comemoração
sempre foi programada e vivida juntos. Por isso hoje quis lembrar de pequenas
coisas, coisas só nossas, e trazer você aqui do meu lado.
Pra você,
como presente, envio esses pequenos momentos, que construíram uma relação tão
forte. Espero que curta nossas memórias.
Um super
beijo no nosso aniversário. Estarei sempre com você nessa data.