Calor
abafado, sorvete, núvens cinzas no céu...
-Chegamos
em casa bem em tempo... – comento e depois penso melhor... Tempo do que? De não
se refrescar com a chuva de verão? Como eu gostava de tomar banho de chuva
quando criança, nesses dias quentes quando minha mãe olhava pra gente e dizia:
Vai, pode ir...
Logo
grandes pingos começam a cair, primeiro lentos e volumosos, depois vai
aumentando a quantidade até parecer um grande chuveiro, com cheiro de grama
fresca, terra molhada e gosto de infância. Sugiro aos meus filhos que corram
pra fora e tomem um banho bem gostoso na chuva breve e intensa, quente e
cheirosa.
-Vamos
pegar o guarda-chuva!- dizem felizes com a idéia, mas não entendendo o que quis
dizer. Claro, na terra onde sandália sem meia quer dizer “resfriado” e onde se
ouve muitas críticas se seu filho anda descalço... Pura ousadia tomar chuva só
por brincadeira...
-Guarda-chuva
filho? – meus filhos são certinhos demais, crianças de cidade, que correm de
gota d’água e da grama nos pés... mas mãe também serve pra ensinar a aprontar,
não é?– não não, vocês vão aprender a não seguir as regrinhas sempre, ainda mais
quando não tem problema nenhum e a mamãe está mandando... Agora marchem para chuva! - Uma leve ordem, meio a um sorriso, para o bem deles...
Saem
desconfiados, ainda com guarda-chuvas nas mãos... – Não está certo isso – suas carinhas
dizem...
Alguns
pingos tocam suas faces – Opa, que estranho – Mais alguns e logo os cabelinhos
estão molhados, colocam o guarda-chuva, pensam um pouco, olham para mim e eu
encorajo com um sorriso – Vamos lá, mamãe não ia pedir algo ruim para vocês. – e
eles tiram o guarda-chuva da cabeça... Primeiro o mais velho e em seguida o
menor, que faz tudo o que o outro faz.
A chuva
banha meus meninos, que sorriem em liberdade com o banho de natureza. – A água
não está fria! – comentam gritando admirados com a revelação, essa chuva não é
tão vilã assim...
Dançam,
brincam, se enxarcam de roupa e tudo, como manda o figurino. Que criança não
gosta disso? Que criança não precisa disso? Uma verdadeira chuva de verão, para
lavar a alma, para gargalhar o coração, para fazer da criança, apenas
criança...