Raso, sem
emoção, vazio...
Onde foi
parar minha inspiração? Meu jeitinho de escrever emocionando?
Hoje
deveria publicar um texto, toda sexta logo de manhã sai um novo texto, mas
recuso-me a publicar outro sem emoção, sem cooperação especial de meus dedos
falantes...
Textos
ditados pela cabeça... são bobos, não dizem nada, um bla bla bla que desanima
de ler. Onde foram parar as palavras que me faltam?
Ontem, na
tentativa de escrever algo bom, escrevi dois textos que não valem nada. Depois
deixei tudo de lado e comecei a reler minhas antigas postagens... Fiquei
admirada em ver o quanto eu perdi no meio do caminho. Eu estava em crescente
melhoria na escrita e de repente algo cortou isso, parei de derramar minha
emoção, empobreci meu vocabulário – como posso ter perdido vocabulário? – perdi
a linha do pensamento...
Dedos
quebrados...
Procuro
alguém que traga de volta a fala dos meus dedos, que andam fazendo greve e já
não querem revelar-me o que se passa em minha alma, ja não querem trazer a tona
sentimentos naufragados, histórias perdidas – sei que tem mais para ser
contado... Onde? – pérolas escondidas... Estaria eu vazia? Por quê? Quando
aconteceu?
Meus dedos,
a portinha para tudo que sou e sinto, talvez estejam cansados, talvez queiram
um pequeno salário – devo pensar em manicure como pagamento, anotarei para não
esquecer de citar esse itém em nossas negociações – talvez só estejam de mal
humor... ou estariam bravos comigo por ter deixado de ouvi-los por um tempinho?
Mergulhei
no trabalho na internet e esqueci-me de deixá-los falar, fui ouvindo minha cabeça
e induzindo temas... Dedos mal acostumados, sempre falaram o que quiseram e
agora foram induzidos a digitar o que minha cabeça ditava... eles preferem ouvir
meu coração, minha alma, não é muito amigo da minha razão, que sempre encontra
respostas concretas demais, teme coisas novas e procura argumentos para
afastar-me da loucura. Meu coração, minha alma e meus dedos falantes gostam da loucura, é nela que coisas “impossíveis” acontecem, é nela que é possível
sonhar mais alto. Desespero-me por não encontrar minha loucura habitual, a
paixão pelo que faço, as palavras certas para descrever...
Bem, culpa
de vocês, dedos falantes, que me revelaram o quanto sabiam do meu íntimo e me
viciaram nessa delatação de mim mesma. Culpa de vocês essa minha exposição e
agora o vício por comentários bondosos e incentivadores. Como faço sem eles
agora? Acostumei-me com certa bajulação. Muito fácil acostumar-se com o que é
bom.
Sei que
temos trabalhado muito escrevendo o livro, vocês têm sido muito eficientes
nessa parte, mas o blog era parte do trato! Ou não fui clara o suficiente ao
fechar nosso contrato vitalício? Leia as letras miúdas!
Uma idéia
passa-me pela cabeça: seria, essa falta de vocabulário, a falta de ler em
húgaro?
Quando comecei a escrever para o blog, estava lendo muito em húngaro, o
que fazía-me cometer erros ridículos de português, por estar desacostumada com
as palavras, antes tão familiares. Porém existia toda uma nova visão de como
expressar-me. A língua húngara é extremamente rica em expressões, sua
construção permite uma descrição profunda e muito mais precisa do que se sente,
dizem que é uma língua perfeita para filósofos, não que eu tenha a pretensão de
ser uma, mas de qualquer forma, usava muito isso. Ultimamente, só lendo em
português, tenho melhorado na gramática, mas é daí? Onde fica a profundidade
disso? Lembro-me de pensar em húngaro para escrever os primeiros textos e ter
que experimentar várias palavras, várias frases diferentes até encontrar o que
eu realmente queria dizer com a expressão. Talvez deva ler algo em húngaro
novamente. Ia me fazer bem, faria bem aos meus dedos, com certeza.
Tenho estado mais no Brasil que na Hungria, ja
que a internet proporciona-me essa possibilidade. conversas em português, todos
os amigos dispostos o dia todo para falar, um mundo paralelo onde tenho uma
maior convivência que o concreto, onde vivo. E quando um húngaro aparece,
faltam-me palavras, fico no básico e pobre, regredindo para uns 9 anos atrás,
quando ainda não tinha o entendimento que tenho hoje sobre a língua húngara.
Isso tem que mudar.
Parece que
estamos progredindo, estão aparecendo soluções...
Agora vamos fazer um trato, lhes
dou manicure, creme para mãos, umas leituras em húngaro e toda minha alma para
que vocês, dedos falantes, possam novamente revelar-me o que eu sinto, o que eu
sei, traduzindo em linguagem clara, até mesmo aquilo que passou despercebido ou
que não entendi direito. Voltem a me impressionar com meus sentimentos e
pensamentos.
E para quem
lê, os insistentes, queridos amigos, que continuam passando por aqui, esperando
que voltem os textos mais profundos, obrigada pela paciência e insistência.
Vamos esperando que a greve acabe, o trato seja aceito e que a inspiração cubra
meus dedos de emoção novamente.
Cruzando os
dedinhos para que dê certo.
Com carinho, a autora.