Desde
sempre - talvez por minha mania com filmes românticos, letras de música melosas
e poesias ou simplesmente pela natureza romântica de minha essência – fui inclinada
a acreditar em destino. Coincidências e fatos secos nunca tiveram crédito em
meu vocabulário, o que pode vir a me dar um título comum de sonhadora. Por
algum motivo, sempre acreditei na magia da vida como explicação para tudo o que
acontece e no amor, como função maior da existência humana. Que missão poderia
ser maior do que aprender a amar e ser amada? Carreira? Não, nunca acreditei na
carreira como parte do plano de vida e sim como instrumento para alcançar o que
realmente importa. Os céticos que me perdoem, mas, como porta-voz dos
sonhadores, tomo a carreira como peça de importância inferior a procura e
dedicação ao grande amor. Sim, grande amor, daqueles que parecem até bobos e
exagerados aos olhos desses mesmos céticos, mas que converte em um segundo,
esses mesmos olhos, ao mergulhar acidentalmente
em outros com tal sentimento.
O destino
sempre pareceu-me algo mais concreto, com mais sentido que simplesmente coisas
acontecendo uma atrás da outra, sem um por quê. Tal coisa como coincidência,
transformaria meu mundo num lugar frio e acumulado de fatos isolados. Não posso
acreditar nisso. Acredito em forças invisíveis, energias negativas e positivas,
já confirmadas pela física, e em uma outra energia, ainda mais complicada, que move dois
corpos a atraírem-se pelo contato de um olhar.
Não é
interessante que de todos os olhos que se pode observar, apenas um tenha o
efeito de acelerar seu coração e tirar-lhe toda a razão – ou, pelo menos, ao
que se era creditado por tal nome até então? Seria coincidência? Como ignorar essa
energia ainda não confirmada em processos científicos?
Apelo ao
exemplo de cérebro e coração, dois órgãos tão avessos. Tenho grande experiência nessa área e posso afirmar
que daria para escrever uma longa tese na tentativa de converncer a ciência da existência dessa energia. Contudo, temo que poderia falhar, já que quem nunca ouviu o coração, não pode
acreditar no quão mais certeiro ele pode ser que a razão. Enfim, por minhas
próprias experiências e a quem possa interessar, algumas provas da existência
dessa energia indefinida cientificamente:
- · meu coração passou a agir estranhamente assim que avistou uma pessoa, em especial, de longe. Química? Não creio que havia alguma reação química numa discoteca, com alguns corpos de distância, fumaça e vibração musical, a ciência não poderia fazer muito com dois componentes tão separados;
- · depois de aproximar-me do segundo componente químico, já que assim resumem o amor, os céticos, fui levada a uma guerra entre razão – que posso definir como regras incutidas em minha cabeça desde sempre, sobre o que a sociedade acha politicamente correto – e coração – a energia que impulsiona a quebrar as tais regras “politicamente corretas” quando nossa felicidade está em jogo. A partir desse momento, o que meu coração ditava como correto, minha razão insistia em acusar como loucura, já que não se encaixava em nada que se possa chamar de convencional;
- · passei a tentar controlar, para outros e até para mim mesma, a vontade de dizer que era amor, já que fazia apenas alguns dias que o conhecia e a razão dizia que para dizer “Eu te amo” é preciso de tempo... Tempo perdido... o coração já sabia no primeiro contato de olhares;
- · tempo era o que não tínhamos, já que o marco de um fim próximo apontava para dois meses e o coração gritou mais forte – para minha sorte – fazendo-me cumprir papel de louca. Sim, essa palavra soou algumas vezes : “Você é louca? Vocês acabaram de se conhecer!”, “Você é louca? Viajar para tão longe, sozinha, com alguém que você mal conhece?”... Não liguei para todas essas pessoas que pensavam com a razão – não as culpo, deixo isso bem claro - e continuei sendo louca com o coração;
- · decidimos que queríamos ficar juntos para sempre depois de duas semanas juntos – “Que loucura!” Dizia a razão – e mais uma vez o coração estava certo. Prova disso é o sentimento gigantesco que continua a crescer dia-a-dia;
- · decidimos ter o primeiro filho quando nenhum de nós tinha dinheiro, nem emprego, apenas pelo sentimento intenso de que estava na hora – loucura? - e, no mesmo mês que engravidei, meu marido recebeu uma maravilhosa proposta para trabalhar com uma firma estrangeira, num projeto bilionário como único arquiteto. Coincidência? Céticos, me poupem!
Das
sutilezas do improvável, sempre enxerguei muito bem onde poderia chegar, já que
o óbvio não parecia-me agradável e levava a caminhos secos e concretos demais
para uma sonhadora. Dos ventos do destino, juntamente com as cores prometidas
pelo pulsar do meu coração, eis que surgiu a coragem para loucura, para o
desafio da lógica, que de jeito algum, nunca, pode entender minha vida.
Por que as
pessoas procuram colocar em números e resultados, todos os atos, escalando em dois times (certo ou errado) sem levar em conta o sentimento? Esses podem ser bem
contraditórios às tabelas, para o espanto de quem tem esse costume, ditando
como errada a maior das razões e como certa a loucura explicita.
A vida
poderia ser mais simples se não julgássemos os mal-compreendidos como loucos. Porém, a esses, aos quais me encaixo perfeitamente diante de muitos atos que
cometi, digo que há uma prova incontestável: o tempo. O tempo prova a todos os céticos a
nossa volta, que tal decisão, visívelmente precipitada, na verdade, depois de
todos os cálculos dos dias e anos que se passaram, mostra-se um resultado
positivo. E por que será que o louco sabia disso antes?
Não tenho
medo da loucura, tenho mais medo da razão, que cega muitos caminhos abertos bem
a frente de nosso nariz com obstáculos criados pelo cérebro, órgão ignorante quando se trata de sentimento, pois só sabe fazer comparações com o que já conhece, sem criatividade alguma. Da loucura nasce a arte e tudo de mais bonito e quem
nunca pensou em fazê-la que atire a primeira palavra
lúcida e olhe bem dentro de si mesmo, procurando se não houve um momento em
que preferiria ter sido julgado como incoerente a tomar a atitude esperada. Esse foi o momento, esses
serão os caminhos imperdíveis na viagem da vida.
Faz algum
sentido tudo o que escrevi ou parece insanidade de alguém que deixa os sonhos
guiarem os dedos?
Eu poderia contar toda minha história aqui, que tem como fato principal o destino e forças mágicas desprovidas de razão, mas creio não ser necessário. Não quero convencer o mundo com minha tese incoerente, pois é difícil explicar a loucura para quem nunca se viu dentro dela. Eu apenas quero dizer que sou feliz por ter acreditado no destino e seguido seus caminhos. Sou feliz por ter dado ouvidos ao coração e me deixado guiar pela mágica energia do amor. Principalmente, sou muito feliz por ter encontrado alguém que está disposto a seguir o mesmo caminho, contra todo o bom senso e tradições da razão.
Obrigada
Zsombor, meu grande e inexplicado amor, por sonhar e enloucrescer ao meu lado.