Só hoje.

terça-feira, 19 de março de 2013



Alta noite, longa noite essa, da sua volta para a Hungria. Estamos destinados a essas pequenas separações.

O relógio parou sem notícias suas, mas os ventos, do lado de fora da minha janela, passam tão rápidos que parecem lamentos de saudades e soam por volta da casa a te procurar, como se não soubessem que você não está. O frio instalou-se de repente e eu sei que isso vem da falta do seu abraço quente e dos seus apertões que me fazem rir com sua justificativa: “O amor às vezes dói”.


É sempre difícil deixar-te, mesmo estando feliz com a decisão.

Sim, eu decidi vir ao Brasil por dois meses e fiquei extremamente feliz e satisfeita com sua proposta de vir comigo e acompanhar-me em apenas duas semanas, eu sei... Mas hoje eu quero o direito de sentir-me insatisfeita com sua falta, o direito de reclamar pela cama grande e atribuir o uivo dos ventos ao meu pranto sem lágrimas, que sai varrendo os céus até você. Só hoje.

Só hoje eu quero ficar brava com essa nossa sina de despedidas e saudades. Só hoje quero ser uma chata e reclamar do destino, justo eu, que tenho você, quero ser injusta como criança mimada dizendo que é uma tremenda falta de sorte todo esse tempo desperdiçado com sua ausência.

Amanhã eu lembrarei que estou curtindo meu país e minha família. Amanhã lembrarei que a saudade vai fazer de nós um casal de namorados apaixonados e que só por isso já vai valer a pena. Mas não hoje!

Hoje sou a metade vazia, sou o vento uivante, a noite negra, fria e demorada. Sou filha desnaturada do destino. Só hoje.
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