“... e a partir daí, tudo mudou...”
A frase que muitas pessoas temem, que traz como
companheiro o maior dos medos do ser humano: o desconhecido.
Mudanças sempre vem com ansiedade e
preocupação, no entanto, também podem ser acompanhadas de libertação, de solução, de novos
sonhos, sonhos realizados...
Ao mudarem, as coisas costumam parecer
turvas, disformes, ameaçadoras... Os maiores e mais aterrorizantes monstros
sempre foram aqueles que vem do escuro, os que não vemos ou só enxergamos as sombras,
no jogo de luz que aumenta e molda em padrões alarmantes. A luz do sol não mata
o vampiro porque o queima e sim, porque o exibi, mostrando que visto de perto,
não assusta tanto assim. Do mesmo modo é mudar algo na vida, assim é mudar de
vida. O imprevisto assusta e é preciso de coragem para vê-lo de perto.
Mudei algumas vezes de rumo e a imagem
desfocada de um futuro não muito claro, chegou a me atormentar. Não saber para
onde ir, sentir-me perdida, sempre foi motivo para angústias. Até que um dia ouvi
uma definição interessante sobre “perder-se”.
Pouco antes de visitar a Hungria pela
primeira vez, uma pessoa contou-me como adorava se perder:
-Ah, quando visito uma cidade nova, um país
novo, é sempre tão maravilhoso me perder! – disse ele saudoso do sentimento que
para mim era apavorante.
-Como assim? Você não tem medo ? – perguntei,
já imaginando-me perdida pelas ruas da cidade de Pécs , que eu nem conhecia na
época, mas estava com viagem marcada para conhecer. Imaginei-me com o choro entalado na garganta e sem saber o que fazer.
-Medo? – riu ele – Não. As coisas mais
bonitas da viagem são sempre descobertas quando eu me perco. Ruas maravilhosas,
paisagens fora do roteiro de turismo e o entendimento do mapa da cidade.
Perdido, é possível entender melhor as ruas, porque quando você se encontra,
está tudo em suas mãos.
Fiquei boquiaberta com a definição e passei
a refletir sobre isso. Não foi um entendimento momentâneo, mas depois de muitas
mudanças, perdidos e achados que enfrentei, passo a compreender a relação entre
mudar e perder-me.
Ao mudar, o sentimento é o mesmo de estar
perdida. Não sabemos onde estamos, para onde vamos, e procuramos
desesperadamente por algo a se agarrar, algo que se possa reconhecer para
termos como ponto de referência. Toda mudança traz um chacoalhão, um tapa na
cara e uma injeção de ânimo para que nos mexamos. A adrenalina é inevitável,
mas com o foco no lugar certo, é possível curtir o trajeto e abrir os olhos
para novas paisagens, novas ideias, uma nova vida.
Quando as coisas estão simplesmente paradas,
tudo é tão claro e óbvio! Você sabe exatamente como será o dia seguinte, a
semana seguinte, talvez o mês que está para começar... Sofre uma série de
repetições, que podem ser ruins e boas. E porque isso seria reconfortante?
Saber que vai para a droga do emprego é melhor que não saber para onde ir?
Saber que seu dia será monótono é mais gostoso que desconfiar que algo que você
sonha possa vir a acontecer?
A mudança põe tudo de ponta cabeça, dando a
chance de piorar ou melhorar as coisas. Mas como seria pior? Se tem algo a ser
arrumado, é só fazer até que fique certo, não é?
Das poucas certezas da vida, uma delas é
que as coisas mudam e é possível mudar sempre. Então mudemos! E se for para
pior, mudemos novamente!
Você não gosta de onde está? Não dê
desculpas! Mude! Da para fazer uma lista imensa de coisas a dar errado. É a
maneira clássica de viver a vida sem mudar nada.
Porém, tentar é uma chance gigantesca para
que tudo dê certo. Por menor que seja a possibilidade de fazer acontecer, ela
existe! Se algo existe, então encontrar é apenas uma questão de perseverança e
vontade.
Quando eu conheci um húngaro,
intercambista, de 18 anos, que tinha apenas mais 2 meses no Brasil e me
apaixonei por ele logo depois de ter perdido o emprego, quais eram as chances
de isso dar certo?
Vamos ver a lista de coisas óbvias para
minha desistência antes de um sofrimento certo:
- · Ele é muito novo, provavelmente não vai querer nada sério com você;
- · Ele vai embora logo e você nunca mais o verá;
- · Minha preferida: amor à distância não dá certo;
- · Vocês não tem dinheiro para ficarem se visitando e vocês vão ter que se separar;
- · Em dois meses não dá para consolidar nenhum relacionamento.
Agora a realidade de quem enfrentou todas
as possibilidades tão óbvias, atrás do “conto de fadas” que todos achavam
impossível:
- · Sim, ele me assumiu com 18 anos e nunca pensou em me deixar;
- · Ele foi embora e voltou me buscar assim que pode, arrumando tudo para que eu fosse morar com ele;
- · Sofri 7 meses com um amor à distância, mas deu certo;
- · Continuamos com pouco dinheiro, mas sempre demos um jeito, nossa vontade era maior que o obstáculo, infinitas vezes maior;
- · Em poucos dias percebemos que era amor e em 2 semanas ele me pediu em casamento.
Depois disso, medo de mudar e enfrentar o
impossível, para mim não é motivo para desistência. Sim, tudo é possível e a boa notícia é que
está em suas mãos. Basta decidir o que é maior: o objetivo ou o obstáculo.
É possível fazer infinitas listas, dar
milhões de motivos, mas a verdade é que quem não muda, nunca saberá se
realmente não teria dado certo. Pode no máximo se convencer de que não seria capaz.
Mude! Transforme sua vida, vire do avesso,
refaça o que não gosta, melhore o que já é bom! Porque contentar-se com menos?
Imagine que você é a estrela do filme da
sua vida, não a amiga dela, ou a pessoa que passa lá atrás, sem nome e sem
rosto. Você pode fazer, no seu filme, viradas incríveis, que farão o público
aplaudir, farão do filme um sucesso e com um pouco de bom humor, é possível
transformar qualquer dramalhão em uma leve comédia, com cenas emocionantes,
vibrantes!
Não gosta do emprego ou do salário? Mude!
Não gosta do estilo de vida? Mude! Não é respeitado ou tratado como merece?
Mude!
As decisões são tão pequenas comparadas ao
tamanho de nossos objetivos. Tenha objetivos! Não medo. Tenha uma história para
contar! Não só para ouvir. O mundo é grande, muito maior que os limites das
paredes de sua casa, maior que as paredes de seu emprego, maior que sua cidade,
seu país... Mude!
Veja novas paisagens, perca-se em você
mesmo, faça um final feliz, faça um mapa que te leve para onde interessa.
As coisas mudam para poderem melhorar.