Não estou
escrevendo sobre isso para mostrar a pessoa super legal que eu sou, resolvi
escrever porque creio que muita gente não entenda esse meu comportamento. A
maioria das pessoas não sabe o bem que isso faz A MIM! Talvez eu possa dizer
que ajudo por egoísmo, porque me faz bem.
Aprendi a ouvir minhas
primas, acalma-las e faze-las rir, depois passei a fazer o mesmo com minhas
amigas, até que um dia, eu me apaixonei e mudei de país...
Durante anos,
não tive de quem ouvir histórias, ninguém dividia um segredo comigo e não podia
dar conselho ou uma mãozinha amiga para nada! Eu era nova no círculo de
amizades e não falava direito a língua. Quantos anos são precisos para ganhar
confiança de alguém? E para fazer novos melhores amigos? Muitos, muitos anos!
Senti falta de
enxugar as lágrimas de alguém e fazer essa pessoa sorrir, senti falta da cumplicidade
de um segredo, senti falta do sorriso de gratidão...
Desde que criei
meu blog, passei a sentir-me melhor em relação a isso, pois pude elaborar textos
onde o conteúdo são conselhos. Bem ou mal, cheguei ao coração de umas pessoas e
recebi sorrisos como recompensa. Meu blog também me levou a muita gente com uma
história parecida e uma delas, nesse final de semana deu-me um grande presente,
ela pediu minha ajuda em seu casamento. Uma brasileira, casando com um húngaro.
Os dois moram em
Dublin, comunicam-se em inglês e por isso, um não sabe a língua do outro,
ainda. O casamento seria aqui na Hungria, com a presença da família húngara do
noivo e a mãe, a irmã e alguns amigos da noiva. Eu teria o papel de tradutora
entre as duas línguas.
Cheguei com meu
marido e meus filhos no Hotel, onde no dia seguinte seria a festa, e logo
encontrei-me com os noivos. Eu já havia conversado muito com a noiva pelo
computador e já éramos amigas virtuais, então foi muito fácil marcar tudo para
o dia seguinte. Eu a acompanharia no cabelereiro e maquiadora e depois, na
igreja, traduziria o que o padre falaria – para isso, recebi um roteiro do que
seria o casamento na igreja.
Aí você deve
estar pensando “Que pepino ela foi arrumar!”. Imagina... Eu estava era muito
feliz em ver o alívio no rosto da noiva e a felicidade da mãe dela em saber que
entenderia tudo. Senti-me novamente no papel de quem pode dar aquela mãozinha
para abrir um sorriso, encontrei-me novamente necessária.
Dia seguinte.
Acordei, tomei meu banho e o pai do noivo me levou até a cabelereira.
Ao entrar, o
alívio no ambiente foi visível, a amiga, a irmã, a mãe e a noiva, todas
poderiam dizer o que queriam, sem precisar de mímicas, e a cabelereira e
maquiadora, com um grande sorriso, felizes por não terem que decifrar as
mímicas. Passei a manhã toda traduzindo cores de maquiagem e tipos de cabelo,
conhecendo melhor a família da noiva, acalmando a noiva, que estava uma pilha
de nervos porque sempre tem algum pequeno detalhe que não sai como queremos... Realizei-me
levantando o astral das meninas.
Na igreja, subi
no altar ao lado do padre. Que coisa estranha estar no altar para ser a voz do
padre... Não estava nervosa a princípio, pois entendia tudo e tinha minha “colinha”
num papel. Porém, aquelas pessoas, pelo menos as que estavam no altar, já não
eram desconhecidas e ver a emoção da mãe da noiva, já iniciava as minhas emoções.
O padre começou
a missa e chamou-me na hora dos votos e da aliança, para traduzir trecho por
trecho. Eu, que comecei calma, passei a fazer aquele papel em minha mão tremer
muito e na vontade de que ele parasse de tremer, mais que ele balançava, no
entanto, segurei bem na voz.
O casamento húngaro
é muito parecido com o que vemos no Brasil, porém, aqui a palavra “esposa” é “feleség”,
que significa metade. Então o noivo diz: Eu te aceito como minha metade. E a
noiva: Eu aceito ser sua metade. Eu adoro esse detalhe e traduzi ao pé da
letra.
Foi emocionante,
foi maravilhoso! Casei minha amiga, dei minhas bênçãos, fazendo das palavras do
padre, as minhas. Uma coisa que poucos podem dizer que fizeram: casar alguém. E
quem ali foi a pessoa mais grata? Eles ficaram gratos a mim, mas eu tive a
oportunidade de selar um sonho, tão parecido com o que eu tive um dia e, por
isso, eu sabia muito bem o quanto eu era privilegiada por poder fazer esse
papel, por ver bem de pertinho o brilho do “sim”.
Na festa,
traduzi o que o mestre de cerimônias falava. Ele apresenta todas as
brincadeiras, os pratos servidos no jantar, tudo o que deve ser anunciado, com
muito bom humor e piadas em versos. Essas, nem sempre foram fáceis de traduzir,
mas o clima era de festa e eu prometi ao mestre de cerimônias que no nosso
próximo trabalho em conjunto, eu estaria melhor...
Houve dança
húngara, realizada por um grupo profissional, contratado como surpresa pela
família do noivo, para a família da noiva e todos se emocionaram... As danças
húngaras são alegres, mas de alguma forma emocionam, talvez por conta das
fortes batidas de pés, que os homens usam para marcar o tempo, talvez porque me
fazem lembrar a cultura rica e milenar que aceitei fazer parte... Houve também uma
tentativa de samba, proporcionada pelos homens da família do noivo, vestidos de
dançarinas muito deselegantes e engraçadas, que ganharam a simpatia de todos na
primeira... Um clima incrível de festa de família, que eu tive o privilégio de
participar.
Brincadeiras
tradicionais húngaras no casamento:
·
O noivo é vendado e a noiva
escolhe algumas amigas para que ele tente descobrir, apenas tocando em suas
mãos, qual é a sua noiva. Depois a noiva faz o mesmo. (Os dois erraram e isso
proporcionou muita risada);
· A noiva é roubada pelos amigos
do noivo e ele tem que fazer alguma prova para recupera-la;
· Ao invés da gravata, aqui os
noivos dançam com os convidados e em cada dança é depositado algum dinheiro
numa panela. Depois os convidados jogam uma chuva de moedas, que a noiva tem
que varrer para juntar.
Todas as
brincadeiras são muito animadas! A cultura húngara mistura-se muito com a festa
e isso é um espetáculo à parte.
Participei de
pequenos grandes momentos também, como quando a mãe da noiva disse que gostaria
muito de agradecer o que a mãe do noivo tem feito pela filha, mas não tinha conseguido
até então. Peguei-a pela mão e fui traduzir para a mãe do noivo. Elas se
abraçaram, nós três nos emocionamos... Pequenos-enormes detalhes que fazem toda
a diferença.
E toda a
gratidão, toda a felicidade e emoção, foi sendo traduzida por mim. Cada palavra
minha, era capaz de transportar uma cultura para a outra, uma gratidão a outra,
um sorriso a outro...
Meu marido ficou
muito amigo dos brasileiros. Todos dançaram, beberam pálinka (o destilado de
frutas, húngaro) e todos os húngaros gritavam “Saúdeeee!!!”, enquanto nós
gritávamos “Pálinkaaa!”. Assim rolou a festa até o amanhecer.
E não é incrível
as coisas que podem te acontecer quando você faz um pequenino esforço de abrir
a boca e apenas falar o que você entende, para outros que não podem fazer o
mesmo? O que custou para mim, para minha família fazer isso? Nada! Ganhamos um
final de semana incrível, com pessoas incríveis, fazendo amizades e espalhando
sorrisos, olhares de gratidão e algumas lágrimas de felicidade.
Por que eu
ajudo?
Porque recebo
infinitamente mais do que dou, porque as lembranças daqueles rostos felizes e
da frase que eu falei “Eu vos declaro marido e mulher”, jamais sairão do meu
coração.
Mais do que uma
explicação para quem até agora não entendia meu comportamento, esse texto é
minha gratidão. Gratidão pela confiança depositada e pela maravilhosa chance de
fazer-me sentir parte de uma grande família aqui, tão longe da minha.
Aos meus novos
amigos, um grande abraço e a certeza de que aquele dia os fez inesquecíveis.
Aos noivos,
cujos nomes não citei por não querer expor, desejo toda felicidade e que aquele
brilho nos olhos - que só eu vi de pertinho lá no altar, na hora do sim - continue eternamente.
PS- Outros costumes não citados no texto:
A noiva troca de vestido à meia-noite, em sinal de sua mudança, de noiva, para mulher. O tradicional é trocar por um vestido vermelho, mas outras cores também são usadas, no caso desse casamento a noiva trocou por um lindo vestido amarelo.
Em alguns casamentos, todos os convidados são recebidos na casa dos pais dos noivos ou local da festa, para uma pequena refeição ou petiscos, depois seguem para a igreja e depois novamente para a festa.
É de costume, em cidades pequenas, que os noivos e os convidados vão andando até a igreja, por vezes acompanhados por uma banda. (Não foi o caso desse, que foi numa cidade grande).
PS- Outros costumes não citados no texto:
A noiva troca de vestido à meia-noite, em sinal de sua mudança, de noiva, para mulher. O tradicional é trocar por um vestido vermelho, mas outras cores também são usadas, no caso desse casamento a noiva trocou por um lindo vestido amarelo.
Em alguns casamentos, todos os convidados são recebidos na casa dos pais dos noivos ou local da festa, para uma pequena refeição ou petiscos, depois seguem para a igreja e depois novamente para a festa.
É de costume, em cidades pequenas, que os noivos e os convidados vão andando até a igreja, por vezes acompanhados por uma banda. (Não foi o caso desse, que foi numa cidade grande).