Janela em Budapeste

quarta-feira, 26 de julho de 2017

 



Quando a vida está acontecendo de maneira peculiar, com novas aventuras e decisões, o tempo para descrevê-la se reduz proporcionalmente.
 
Muitas vezes me arrependo por não ter escrito minha história de amor enquanto acontecia. Teria facilitado a escrita do meu livro Grãos de Areia e sua continuação, que ainda se encontra em fase de criação. Mas em momentos como o que estou vivendo, recordo-me do porquê de não ter escrito: eu tinha que vivê-lo!

Enquanto a aventura está acontecendo, pra mim o importante é prestar atenção aos detalhes e curti-los, simplesmente. A mente cuida para que o que é realmente importante seja absorvido e relembrado. Cada um guarda o que lhe tem mais valor. Eu gosto de lembrar de pequenos detalhes: uma expressão, o formato, o sentimento, a música que estava tocando, o cheiro, a paisagem...
Estou há um bom tempo sem escrever, mas - em minha defesa - novamente estava curtindo as mudanças e até mesmo os sustos que tomamos neste ano. Fazia um bom tempo que estávamos em Pécs (cidade ao sul da Hungria) e construímos um lar, depois de tantos anos sem saber qual seria nosso cantinho no mundo. Tudo parecia finalmente assentado, com rotinas e repetições confortantes. Aí o destino sacode nossa poeira novamente e eis que temos que procurar nosso lugar em Budapeste.
Adoro Budapeste, já vivi nesta capital por dois anos e tenho um carinho especial por ela, porém, houve muito para se resolver e pensar dessa vez, afinal, agora temos duas crianças na escola, natação e música; que frequentam ortodontista e usam aparelho, óculos e carregam todos os detalhes de uma vida em família. Já não é tão simples quanto da outra vez, que nos mudamos e pronto, praticamente tive que aprender onde era o mercado e qual o ônibus que me leva ao shopping. Agora, o verão passou sem nos darmos conta e paramos finalmente para respirar e aproveitar o último mês de férias, antes que tudo comece pra valer.
Estamos com aquele frio na barriga de quando algo está para acontecer, como quando o trenzinho da montanha russa está chegando ao topo, ele dá aquela paradinha e você segura o fôlego, só esperando começar. É um momento cercado por uma paz apreensiva.
É nesse momento que tive tempo para escrever hoje, olhando pela minha nova janela, de um apartamento do jeitinho que sempre quis ter: desses antigos, com o teto muito alto, que me transporta para uns cem anos antes. Começo a me sentir em casa, a amar cada pedacinho do nosso novo lar e a visão daqui da escrivaninha me leva a crer que tudo vai dar certo, que nossa vida (nada parada) será repleta de experiências memoráveis, novos momentos, sentimentos e detalhes.
Levanto meus braços, porque sei que a descida é arrepiante, mas segura.
Pode ser que eu fique mais um tempo sem postar um texto, porque estarei descendo nessa montanha russa. Na descida já não existe apreensão ou ansiedade, apenas o vento, as coisas acontecendo e a sua reação: cabe a cada um decidir se vai agarrar-se ao cano de ferro, de olhos fechados, apavorado e gritando ou se prefere levantar os braços e soltar uma gargalhada bem alta, de olhos bem abertos para curtir as viradas... Eu sempre me diverti muito com as voltas da vida!
Até a próxima aventura!
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