Quando a vida está acontecendo de maneira
peculiar, com novas aventuras e decisões, o tempo para descrevê-la se reduz
proporcionalmente.
Muitas
vezes me arrependo por não ter escrito minha história de amor enquanto
acontecia. Teria facilitado a escrita do meu livro Grãos de Areia e sua
continuação, que ainda se encontra em fase de criação. Mas em momentos como o
que estou vivendo, recordo-me do porquê de não ter escrito: eu tinha que vivê-lo!
Enquanto a
aventura está acontecendo, pra mim o importante é prestar atenção aos detalhes
e curti-los, simplesmente. A mente cuida para que o que é realmente importante
seja absorvido e relembrado. Cada um guarda o que lhe tem mais valor. Eu gosto
de lembrar de pequenos detalhes: uma expressão, o formato, o sentimento, a
música que estava tocando, o cheiro, a paisagem...
Estou há um
bom tempo sem escrever, mas - em minha defesa - novamente estava curtindo as mudanças
e até mesmo os sustos que tomamos neste ano. Fazia um bom tempo que estávamos
em Pécs (cidade ao sul da Hungria) e construímos um lar, depois de tantos anos
sem saber qual seria nosso cantinho no mundo. Tudo parecia finalmente
assentado, com rotinas e repetições confortantes. Aí o destino sacode nossa
poeira novamente e eis que temos que procurar nosso lugar em Budapeste.
Adoro
Budapeste, já vivi nesta capital por dois anos e tenho um carinho especial por
ela, porém, houve muito para se resolver e pensar dessa vez, afinal, agora
temos duas crianças na escola, natação e música; que frequentam ortodontista e
usam aparelho, óculos e carregam todos os detalhes de uma vida em família. Já
não é tão simples quanto da outra vez, que nos mudamos e pronto, praticamente
tive que aprender onde era o mercado e qual o ônibus que me leva ao shopping.
Agora, o verão passou sem nos darmos conta e paramos finalmente para respirar e
aproveitar o último mês de férias, antes que tudo comece pra valer.
Estamos com
aquele frio na barriga de quando algo está para acontecer, como quando o trenzinho
da montanha russa está chegando ao topo, ele dá aquela paradinha e você segura
o fôlego, só esperando começar. É um momento cercado por uma paz apreensiva.
É nesse
momento que tive tempo para escrever hoje, olhando pela minha nova janela, de
um apartamento do jeitinho que sempre quis ter: desses antigos, com o teto
muito alto, que me transporta para uns cem anos antes. Começo a me sentir em
casa, a amar cada pedacinho do nosso novo lar e a visão daqui da escrivaninha
me leva a crer que tudo vai dar certo, que nossa vida (nada parada) será
repleta de experiências memoráveis, novos momentos, sentimentos e detalhes.
Levanto
meus braços, porque sei que a descida é arrepiante, mas segura.
Pode ser
que eu fique mais um tempo sem postar um texto, porque estarei descendo nessa
montanha russa. Na descida já não existe apreensão ou ansiedade, apenas o vento,
as coisas acontecendo e a sua reação: cabe a cada um decidir se vai agarrar-se
ao cano de ferro, de olhos fechados, apavorado e gritando ou se prefere levantar
os braços e soltar uma gargalhada bem alta, de olhos bem abertos para curtir as
viradas... Eu sempre me diverti muito com as voltas da vida!
Até a
próxima aventura!