Cada um tem
uma visão diferente sobre o que é um lugar bom para se viver e desde que me
mudei para a Hungria, ouço muito sobre ser uma pessoa de sorte. Não nego,
amo esse país, mas o mais engraçado é que ouço dos húngaros justamente o
contrário: - Sério que você deixou o BRASIL pra morar aqui?
Quando eu
era criança, minha mãe e minha tia, nesses momentos, comentavam “Quero estar lá”.
Era uma referência a um episódio do “Vila Sésamo”, onde o Ênio dizia ao Beto que
queria estar lá, então ia a outro ponto e perguntava se já havia chegado lá,
obviamente diziam que ele estava “aqui”, não “lá” e ele repetia “Quero estar
lá!”. Eu não vi esse episódio, mas
como essa referência era frequente, eu e meus primos sabíamos a história. Ao mesmo tempo que achava
engraçada, me fez pensar, desde pequena, que é loucura você querer estar sempre
onde não está e tratei de pensar no “aqui”.
“Aqui” não é
tão interessante quanto “lá”. “Aqui” é onde vivemos, com seus defeitos e suas
rotinas, com os detalhes e a sujeira que vemos na rua, ou que temos que limpar
em casa. “Lá” é um lugar perfeito, onde só vemos à distância e imaginamos a
felicidade que iremos sentir ao chegar. “Lá” é a foto na rede social, tirada de
um momento do dia, como o de agora, que estou num café charmoso e acabei de
postar, é o Danúbio azul, sem o vento no ouvido que eu senti, é a vida sem os
dias de limpeza, frio e, principalmente, sem a saudade, que muitas vezes me faz
companhia.
Os húngaros
não entendem como pude me mudar de um paraíso (Brasil), para um país tão comum
- na opinião deles, claro. Pra mim, o mais difícil não é ter deixado as
paisagens brasileiras, o mais difícil é perder cada festa de família, cada
abraço e as milhares de risadas... No Brasil nós rimos muito mais, rimos de
doer o estômago e chorar... Não que eu não me divirta aqui, mas o riso é
diferente e as trapalhadas que meus primos descrevem nos finais de semanas, eu
acho que em lugar nenhum do mundo acontecem... Realmente daria pra fazer uma
série da minha linda e louca família.
No entanto,
eu estou aqui, na Hungria, com outros milhares de pontos positivos e estou amando
minha vida, porque aprendi a pensar no “aqui”. “Lá” é onde mora a saudade e eu
não posso viver pensando nela, não seria justo com as oportunidades
maravilhosas que a Hungria me oferece.
Penso que
todos têm um pouco (ou muito) de “quero estar lá” e é saudável, afinal, isso é
o que nos move, é o motivo para nos levantarmos todos os dias e seguirmos
trabalhando no que queremos, para alcançar algum lugar que ainda sonhamos, seja
ele no tempo ou no espaço, mas é o “aqui” que determina o quanto você é feliz
com o que tem e onde vive e, na maioria das vezes, é um olhar de admiração pelo
que está a sua volta que faz a diferença.
Olhe por
volta - o lugar, as pessoas – e pense no que tem. O melhor lugar no mundo está
dentro de você e você só vai achá-lo se aprender a procurar nas coisas ao seu
alcance. A felicidade está onde você a enxerga.