Existem
amizades que são instantâneas e sabemos que as levaremos conosco para o resto
das nossas vidas, na infinita profundidade de alguns momentos juntos...
Foi assim
com a Daphne e o Lorenzo. Eu e a Daphne nos conhecíamos da internet e tínhamos
uma querida amiga em comum, com quem trabalhei muitos anos através de blogs e
redes sociais. A Daph mora na Itália, eu na Hungria, temos filhos mais ou menos
da mesma idade e uma história parecida: amor por um estrangeiro, mudança de
país, loucuras e acertos, romantismo, muito otimismo, fé na humanidade e no
futuro de uma vida seguindo o coração. São muitos os motivos que nos levaram à
amizade, mas foi numa viagem à Hungria, passando por Pécs, que pudemos nos
conhecer.
Sempre digo
que com amizades se dá o mesmo que com o amor: ou bate ou não, ou você engaja
numa conversa sem fim ou se enrosca nos silêncios, procurando assunto para não
deixar morrer. É questão de química.
Assim que
marcamos nosso encontro, num restaurante da cidade de Pécs, comuniquei ao meu
marido, que não gostou muito da ideia, pois não estava com vontade de conhecer
ninguém novo. Segundo ele, já é tão difícil manter as amizades existentes! Pra
quê novas? (Os húngaros são extremamente fiéis às amizades, mas muito difíceis
de se conquistar numa nova. É dificílimo entrar no círculo de amizades
definitivamente, mesmo sendo eles muito simpáticos e receptivos). Porém, assim
fomos, eu, o Zsombor e meus dois meninos, encontrar com umas pessoas legais.
Chegando
lá, não foram pessoas legais as que encontramos, foram sensacionais! Uma
energia boa e inexplicável e um entendimento do meu húngaro com o italiano da
Daphne, que não existe explicação! O Lorenzo falava em italiano, misturado com
o português, para que entendêssemos melhor e o Zsombor fazia uma mistura total
de todas as línguas latinas com sotaque italiano. As crianças misturaram
português, italiano e húngaro e se entenderam perfeitamente e eu e a Daphne
descobrimos o quanto somos parecidas em muitos pontos.
Passamos o
dia seguinte juntos, passeando pela cidade e a noite o Lorenzo invadiu a minha
cozinha, me tocando de lá e preparando uma pasta deliciosa! O prêmio de melhor
convidado da casa vai pra ele, com certeza!
E foi isso...
Uma amizade para a vida.
Assim que
eles partiram, o Zsombor me agradeceu por ter insistido.
É tão bom dar chance para que pessoas incríveis entrem em nossas vidas!
Depois de
uns anos, fomos visita-los na Itália, uma das melhores viagens que já fiz,
cercada por essa amizade maravilhosa e sendo levada para os melhores lugares,
aqueles que só os nativos da região podem conhecer. Momentos memoráveis em
conversas e risos... E, se possível, eles foram tomando um lugar ainda mais
especial no nosso coração.
E pra que
servem os amigos senão para aparecer nos momentos que mais precisamos deles? Ao
final de 2016 enfrentávamos um período muito ruim com o trabalho do Zsombor,
quando apareceu o convite da Daphne (bem, foi meio convite e meio que eu me
convidei... na verdade, ela perguntou se estaríamos por perto da Áustria no ano
novo, porque eles passariam lá a virada.) e ficamos em dúvida porque queríamos
muito vê-los, mas não estávamos num momento muito bom para gastos... A dúvida
durou até o Lorenzo dizer um “oi” ao Zsombor, que disse na mesma hora: quer
saber? Vamos! Pode falar pra eles que vamos!
Jamais
esqueceremos os momentos com a Daph, o Lorenzo e seus filhos lindos. Guardo as
memórias dos risos, da energia positiva que essa família maravilhosa nos passou
nessa semana de ano novo, das crianças fazendo uma salada mista de línguas e,
apesar do frio que estava, só consigo lembrar do calor no coração.
Há tantos
anos quero escrever esse texto, sobre como nos conhecemos e o quanto foi
maravilhoso, mas de alguma forma, todos os que escrevi, acabei não postando
porque não achei que expressavam o que eu queria. Dessa vez não deixarei de
postar e dizer o quanto vocês são importantes, porque o mais importante é que
vocês saibam, mesmo que eu esteja tropeçando em minhas palavras, sem saber definir melhor.
Daph,
querida, estaremos sempre aqui para vocês! O Lorenzo está nos nossos corações,
assim como você e as crianças. Espero ainda vê-los muito. Fica um grande vazio,
mas que não substitui o quanto ele preencheu nosso mundo, não apaga as
lembranças do seu riso sincero, sua força e da bondade que emanava dele
naturalmente. “Grande y buono”, era como ele se referia ao Zsombor, mas não
consigo pensar em outra expressão que o defina melhor.
In memorian
Lorenzo Nenci.